Paraná amplia programa de proteção da água em áreas rurais

O estado do Paraná vem adotando uma estratégia pioneira voltada à preservação dos recursos hídricos em áreas rurais.

Por meio do Programa de Recursos Naturais e Sustentabilidade (PRNS), coordenado pelo IDR-Paraná em conjunto com a Sanepar, está em andamento uma política pública de recuperação de microbacias hidrográficas que alia conservação ambiental com incentivo à agricultura sustentável.

A iniciativa propõe restaurar a capacidade do solo de reter e filtrar a água, como ocorre naturalmente em ecossistemas bem preservados. Para isso, são desenvolvidas ações como reflorestamento, proteção de nascentes, manejo correto do solo e estímulo a boas práticas no campo. O projeto é construído com base na cooperação entre poder público e pequenos produtores rurais.

O planejamento estabelece uma atuação progressiva: 180 microbacias devem ser atendidas até 2026 e o número deve chegar a 343 até 2028. Em sua primeira fase, iniciada neste ano, foram priorizadas 50 microbacias localizadas em regiões que abastecem centros urbanos. A escolha desses locais considerou critérios técnicos definidos por especialistas do IDR-Paraná e da Sanepar.

Cada microbacia recebe um diagnóstico detalhado, elaborado com a participação da comunidade local. Com base nesse levantamento, são selecionadas propriedades modelo para implementação das ações de recuperação. Esses locais tornam-se espaços de aprendizado prático, nos quais agricultores vizinhos acompanham as atividades e aplicam as soluções em suas próprias terras.

Segundo Amauri Ferreira Pinto, responsável pela área de Políticas Públicas no IDR-Paraná, a criação do programa foi motivada pelas secas severas registradas entre 2019 e 2022, que afetaram o abastecimento urbano e o desempenho das lavouras.

Ele explica que a impermeabilização do solo impede a absorção da água, o que provoca escoamentos intensos e sobrecarrega os mananciais. “A água passa direto, sem infiltrar, prejudicando o ciclo natural e dificultando o trabalho das estações de tratamento”, comenta.

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Apesar dos desafios, Ferreira Pinto destaca que o esforço coletivo tende a transformar a paisagem rural ao longo do tempo, garantindo maior segurança hídrica e estabilidade para o setor agrícola. O projeto é visto como uma construção de longo prazo, baseada na ciência e na colaboração.

Para reforçar as ações no campo, a Sanepar está investindo R$ 8 milhões em equipamentos como veículos, drones e sistemas de informação que apoiam o monitoramento e a execução das atividades. De acordo com o diretor de Meio Ambiente e Ação Social da empresa, Julio Cesar Gonchorosky, a recuperação de áreas de mananciais é fundamental para manter o fornecimento de água de qualidade à população.

Esse trabalho local se conecta a um esforço ainda mais amplo: o Programa de Segurança Hídrica do Paraná (PSH), desenvolvido com apoio do Banco Mundial. A iniciativa prevê um investimento total de US$ 263 milhões — aproximadamente R$ 1,6 bilhão — para fortalecer políticas de conservação hídrica no estado. Parte desse valor virá de financiamento internacional, enquanto o restante será custeado com recursos estaduais.

Um exemplo concreto dos impactos positivos vem de São José dos Pinhais, onde o casal de agricultores Sonia e Ildérico de Paula participa do projeto com o apoio técnico do IDR-Paraná. Na propriedade deles, nascentes foram cercadas e protegidas com materiais sustentáveis, o que melhorou a qualidade da água e reduziu o impacto sobre o sistema público de captação.

O processo inclui identificar o ponto de surgência da água, construir uma proteção com bambu e solo-cimento e direcionar o fluxo para reservatórios, mantendo o curso natural do excedente.

A fazenda do casal também integra outra frente do PRNS, voltada exclusivamente à recuperação de nascentes. A meta é recuperar 30 mil fontes até 2026. Até agora, aproximadamente 6.500 já foram protegidas com medidas que envolvem cercamento, revegetação e manejo do entorno para evitar contaminações e erosões.

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O gerente do IDR-Paraná ressalta que, ao adotar práticas sustentáveis, o produtor rural colabora ativamente com a preservação dos ciclos da natureza. “É um processo que une conhecimento técnico, responsabilidade ambiental e parceria entre instituições e cidadãos”, pontua.

Para garantir que as ações sejam adequadas à realidade de cada localidade, o programa conta com diagnósticos presenciais em campo. Embora existam ferramentas digitais para análise preliminar, nada substitui o contato direto com as propriedades.

Por isso, a participação da sociedade e das prefeituras é considerada essencial. Uma das estratégias adotadas para ampliar o diálogo local é a reativação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural. Hoje, cerca de 30% dos municípios paranaenses contam com esses órgãos funcionando ativamente; 40% estão em fase de retomada e os demais devem ser formalizados nos próximos anos.

Com planejamento, cooperação e ações práticas, o Paraná busca consolidar uma política duradoura de preservação da água, alinhada às necessidades do campo e aos desafios ambientais contemporâneos.

O estado do Paraná vem adotando uma estratégia pioneira voltada à preservação dos recursos hídricos em áreas rurais.
Foto: Ricardo Ribeiro/AEN

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