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O mistério do Papiro Ipuwer: o que este documento antigo revela sobre as dez pragas bíblicas?

Poucos documentos do mundo antigo despertam tanto fascínio quanto o enigmático Papiro Ipuwer, preservado no Museu Nacional Holandês de Antiguidades, em Leiden. À primeira vista, trata-se de um lamento poético de um escriba egípcio descrevendo tempos de caos. Mas, quando olhamos com mais atenção, encontramos passagens que ecoam, com assustadora semelhança, os relatos bíblicos das dez pragas que caíram sobre o Egito no Livro do Êxodo. Coincidência ou um testemunho histórico esquecido?

Datado oficialmente da 19ª Dinastia egípcia, entre 1295 e 1186 a.C., mas possivelmente cópia de um texto ainda mais antigo, o papiro relata um Egito mergulhado em calamidades. O escriba Ipuwer descreve rios tingidos de sangue, fome devastadora, mortes em massa e o colapso da ordem social. Quem já leu o Êxodo não consegue deixar de perceber os paralelos. Em uma das passagens, ele escreve: “Há sangue por toda parte — eis que o rio é sangue”, o que lembra imediatamente a primeira praga de Moisés: o Nilo transformado em sangue.

Não é apenas o rio vermelho que chama atenção. O texto menciona árvores arrancadas, grãos inexistentes, pássaros sem alimento e uma fome generalizada. É difícil não pensar na chuva de granizo, na invasão de gafanhotos e na destruição das plantações descritas no Êxodo. Há ainda trechos sobre lamentos e mortos por toda parte, comparáveis ao momento em que, segundo a Bíblia, “não havia casa onde não houvesse um morto”.

A discussão, claro, divide especialistas. Para alguns, como o historiador bíblico Michael Lane, a semelhança é impressionante, e talvez o texto tenha sido escrito por alguém que presenciou esses desastres. Outros alertam que se trata de poesia simbólica, sem nenhuma menção direta a Moisés ou aos israelitas. Para os críticos, conectar o papiro ao Êxodo seria forçar uma leitura que mistura fé e arqueologia.

O que torna o papiro ainda mais intrigante é que ele não fala apenas de catástrofes naturais. Ele descreve também uma inversão social radical: servos tornando-se senhores, ricos caindo na pobreza e até referências a divindades egípcias sendo humilhadas. Essa parte desperta paralelos com a narrativa bíblica de que os israelitas saíram do Egito levando riquezas e que as pragas foram vistas como um golpe contra os deuses do Nilo, do sol e da fertilidade.

O papiro termina de forma sombria: “Tudo é ruína”. Mais do que um registro histórico, essa frase ecoa como um epitáfio de uma sociedade em colapso, seja pela força da natureza, pela mão de deuses ou pela memória de um povo que sobreviveu para contar sua história. Se o Papiro Ipuwer é uma prova do Êxodo ou apenas uma obra literária repleta de metáforas, talvez nunca saibamos. Mas sua leitura nos transporta para um Egito onde religião, política e tragédia se entrelaçavam, deixando rastros que ainda hoje desafiam arqueólogos, teólogos e curiosos do mundo inteiro.

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