Heloisa L 27 4

Palavras da língua portuguesa com significados surpreendentes — e que você provavelmente usa sem saber

Entre em nosso grupo de notícias no WhatsApp

A língua portuguesa é uma das mais ricas e expressivas do mundo, e, ao mesmo tempo, uma das mais intrigantes. Por trás de palavras que usamos todos os dias, escondem-se significados curiosos, histórias inusitadas e sentidos que quase ninguém imagina. É como se o português fosse um baú antigo, repleto de tesouros linguísticos, esperando apenas que alguém levante a tampa. Há expressões que mudaram completamente de sentido com o passar dos séculos, termos que nasceram de erros poéticos e outros que vieram de idiomas distantes, mas se tornaram tão nossos que já nem percebemos suas origens.

1. Saudade – a palavra que o mundo não consegue traduzir

Nenhum outro idioma do planeta possui uma tradução exata para “saudade”. Essa palavra, tão curta quanto profunda, expressa um sentimento que mistura ausência, lembrança e amor. Surgiu no português arcaico, provavelmente derivada do termo latino solitas, que significa solidão.
Mas a saudade é muito mais do que solidão: ela é uma presença que se faz sentir na ausência. É o coração tentando tocar o que já passou, o eco de um afeto que não se apaga. Não à toa, é uma das palavras que mais definem a identidade emocional do povo lusófono — sensível, nostálgico e poético.

2. Cafuné – o carinho que virou palavra

De origem africana, “cafuné” é uma das palavras mais doces do português brasileiro. Significa o ato de passar ternamente os dedos pelos cabelos de alguém. É uma palavra que carrega intimidade, cuidado e afeto — uma espécie de gesto transformado em verbo.
Vinda do quimbundo kafuné, ela chegou ao Brasil com os povos africanos escravizados e se enraizou em nossa cultura como símbolo de carinho genuíno. É um exemplo de como a língua portuguesa não é apenas herança de Portugal, mas também fruto da mistura de povos, raças e sentimentos.

3. Xodó – amor em forma de som

“Xodó” é uma palavra de origem incerta, provavelmente também africana, e representa algo ou alguém de quem se gosta muito, um amor especial. Curiosamente, o som da palavra reflete exatamente o que ela significa: é suave, afetivo, quase um sussurro.
Ela se tornou símbolo do português nordestino e foi eternizada por Luiz Gonzaga em “Tenho xodó pela minha terra”. Um exemplo perfeito de como a linguagem pode traduzir emoção não apenas no sentido, mas também no ritmo e na melodia.

4. Serendipidade – o acaso que dá sorte

“Serendipidade” é uma das palavras mais elegantes e pouco conhecidas da língua portuguesa. Significa o ato de descobrir algo bom por acaso, sem estar procurando. Ela vem do inglês serendipity, que por sua vez deriva de uma antiga lenda persa sobre “Os Três Príncipes de Serendip”, que faziam descobertas afortunadas sem intenção.
Essa palavra ganhou popularidade em tempos recentes, especialmente entre escritores e pesquisadores, por definir aquele tipo de sorte criativa que surge quando o acaso se alia à mente atenta.

5. Petrichor – o perfume da terra molhada

Embora de origem inglesa e grega, o termo petrichor foi incorporado por alguns falantes do português culto e poético. Ele descreve um fenômeno encantador: o cheiro agradável que surge quando a chuva cai sobre o solo seco.
A palavra vem de petra (pedra) e ichor (líquido dos deuses, na mitologia grega). É uma das expressões que melhor traduzem a beleza sensorial da natureza e o poder da linguagem em capturar emoções invisíveis.

Apoie o Jornal da Fronteira

Se o nosso conteúdo ajuda você a se informar, considere fazer uma doação de qualquer valor. Seu apoio mantém o jornalismo local vivo, livre e com qualidade.

💛 Doar agora

Transparência e prestação de contas: cada contribuição é revertida em reportagens e serviços à comunidade.

6. Deslembrar – o verbo que quase ninguém usa, mas todos entendem

Pouco conhecido, “deslembrar” significa simplesmente esquecer — embora soe como o contrário. O curioso é que a estrutura da palavra sugere desfazer uma lembrança, o que a torna muito mais poética que o simples “esquecer”.
Era comum na literatura portuguesa dos séculos XVIII e XIX, mas caiu em desuso. Ainda assim, há algo de profundamente humano em “deslembrar”: é o ato de tentar apagar algo que insiste em ficar.

7. Amolentar – a preguiça em forma de verbo

“Amolentar” é uma joia esquecida do português, usada para expressar aquele estado de moleza ou sonolência, geralmente provocado pelo calor. É o verbo perfeito para um domingo à tarde ou para depois do almoço em um dia de verão.
Ele vem de “mole” e, curiosamente, tem o poder de transformar uma sensação física em palavra. Ler “amolentar” já nos faz sentir o corpo relaxar, como se a própria sonoridade carregasse a preguiça que descreve.

8. Procrastinar – a arte de adiar

Comum no vocabulário moderno, “procrastinar” ganhou fama nas redes sociais, mas seu sentido é antigo. Vem do latim pro crastinus, que significa “para o dia seguinte”.
Mais do que adiar tarefas, procrastinar é um comportamento que fala sobre o ser humano e sua luta constante entre o dever e o desejo. É a batalha silenciosa entre a razão e o conforto. Uma palavra que virou espelho de uma geração conectada, ansiosa e eternamente atrasada.

9. Limerência – o amor que beira a obsessão

Pouca gente conhece “limerência”, mas quem já se apaixonou intensamente sabe o que ela significa. É um estado de encantamento profundo, quase obsessivo, caracterizado pela idealização extrema da pessoa amada.
O termo foi criado pela psicóloga Dorothy Tennov, em 1979, e foi adaptado ao português para descrever aquele amor avassalador que tira o sono, a fome e a lógica. A limerência é o estágio entre a paixão e a loucura — um fenômeno universal, mas que só a língua é capaz de nomear com tanta precisão.

10. Epifania – o instante em que tudo faz sentido

“Epifania” é uma das palavras mais luminosas do idioma. Vem do grego epiphaneia, que significa “manifestação” ou “revelação”. Na tradição cristã, remete à revelação de Jesus aos Reis Magos; na linguagem cotidiana, representa aquele momento súbito de clareza ou compreensão.
É o instante em que uma ideia se acende, em que algo aparentemente complexo se torna simples. Uma epifania é uma faísca de lucidez — e, em certo sentido, a própria essência do aprendizado humano.

Palavras da língua portuguesa com significados surpreendentes — e que você provavelmente usa sem saber

Conclusão

A língua portuguesa é mais do que um meio de comunicação; é um organismo vivo, pulsante e em constante transformação. Cada palavra é uma cápsula de tempo, um fragmento de história e cultura que carrega as marcas das gerações que a pronunciaram. Descobrir o verdadeiro significado das palavras é como redescobrir a nós mesmos, pois a linguagem molda a forma como pensamos, sentimos e interpretamos o mundo.
Entre “saudade” e “epifania”, entre o “cafuné” e o “xodó”, revela-se a alma do povo lusófono — sensível, poético e profundamente humano. É a prova de que as palavras não são apenas sons, mas universos inteiros condensados em sílabas.

LEIA MAIS:O que é pronome? 9 dicas práticas para nunca mais errar no uso das palavras

LEIA MAIS:Palavras que confundem ao escrever e podem comprometer sua redação

LEIA MAIS:16 palavras do Tupi presentes em nosso cotidiano

Rolar para cima
Copyright © Todos os direitos reservados.