Países que estão em anos diferentes

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Enquanto muitos de nós celebramos a chegada de 2025 com contagem regressiva e fogos de artifício, há países que sequer consideram esse número como o marco do presente. Em algumas culturas, o tempo segue outros passos, orientado por tradições milenares, movimentos celestes ou sistemas religiosos específicos.

A noção de “agora” não é universal — ela é cultural. Na Etiópia, por exemplo, o ano atual é 2017. Em Israel, estamos em 5785. E em algumas partes da Índia, pode ser 2081. Esses números diferentes não são erros nem relíquias do passado: são calendários vivos, que moldam o modo como povos inteiros organizam o cotidiano, comemoram o ano novo, calculam a idade e, mais profundamente, compreendem a própria existência no tempo.

Neste artigo, você conhecerá os países que estão, literalmente, em outros anos. Vamos percorrer calendários solares, lunares e lunissolares, entender os motivos históricos, espirituais e culturais por trás dessas contagens alternativas e, com isso, ampliar a nossa compreensão sobre o tempo — esse senhor que, afinal, não tem a mesma pressa em todos os lugares.

Etiópia: vivendo em 2017 com 13 meses

A Etiópia é talvez o caso mais emblemático. Em vez do calendário gregoriano, o país utiliza um sistema próprio, derivado do calendário copta. Lá, o ano novo é celebrado em setembro e o calendário tem 13 meses: doze com 30 dias e um mês adicional com 5 ou 6 dias.
A diferença de anos em relação ao nosso calendário se deve ao modo como a data do nascimento de Cristo foi calculada. Enquanto o Ocidente adotou a versão de Dionísio, um monge romano, os etíopes mantiveram outra contagem, resultando em sete a oito anos de diferença. Assim, quando o mundo celebra 2025, a Etiópia vive 2017 — com festas, escolas, documentos e relógios sincronizados ao seu próprio tempo.

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Israel: um salto milenar com o calendário hebraico

O calendário hebraico tem sua contagem baseada na criação do mundo, conforme interpretada a partir da Torá. De acordo com ele, estamos no ano 5785.
Este calendário é lunissolar, ou seja, os meses são baseados nos ciclos da lua, mas há ajustes para que as festas ocorram sempre na mesma estação. Isso significa que datas religiosas, como o Rosh Hashaná (ano novo judaico) ou o Pessach (Páscoa), são móveis no calendário gregoriano.
Embora o calendário hebraico seja utilizado principalmente em contextos religiosos e comunitários, sua influência cultural é tão forte que marca a identidade e a organização coletiva do povo judeu em Israel e na diáspora.

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Irã e Afeganistão: a precisão do calendário persa

Nestes dois países, o ano atual é 1403. Essa contagem segue o calendário solar hijri (ou persa), que começa a partir da Hégira — a migração do profeta Maomé de Meca para Medina, em 622 d.C.
O que diferencia o calendário persa de outros sistemas islâmicos é seu alinhamento solar: ele começa no equinócio da primavera, o que garante precisão astronômica admirável. Cada novo ano é iniciado no Nowruz, por volta de 21 de março.
O calendário é oficialmente adotado em documentos, datas comemorativas, e é amplamente respeitado tanto no cotidiano quanto nas tradições culturais.

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Índia: múltiplos calendários, múltiplos anos

A Índia é um verdadeiro mosaico temporal. Embora o país adote oficialmente o calendário gregoriano, o calendário nacional indiano — baseado no sistema Saka — indica que o ano atual é 1947.
Além disso, há outros sistemas em uso. O Vikram Samvat, utilizado em muitas regiões do norte, indica o ano de 2081. Já o calendário hindu tradicional, usado em rituais, se baseia em eras como o Kali Yuga, que começou em 3102 a.C.
Em contextos religiosos e culturais, essas datas paralelas são usadas para calcular casamentos, feriados, festivais como o Diwali, e celebrações agrícolas. Essa coexistência de tempos diferentes reflete a pluralidade filosófica e espiritual do país.

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Nepal: entre o Bikram Sambat e o mundo moderno

O Nepal utiliza oficialmente o calendário Bikram Sambat, que atualmente marca o ano de 2081. Esta contagem também se baseia em tradições hindus, e é cerca de 57 anos mais avançada do que o calendário gregoriano.
Na prática, o Bikram Sambat é usado em escolas, documentos oficiais e na mídia. Porém, o gregoriano também é compreendido e aplicado em contextos internacionais e de negócios. A dualidade é vivida com naturalidade — e sem conflito.

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Tailândia: um salto budista para 2568

Na Tailândia, o calendário budista é o sistema oficial. Segundo ele, o ano é 2568 — isso porque a contagem começa com a morte de Buda, datada tradicionalmente em 543 a.C.
Esse calendário é usado para documentos oficiais, datas de vencimento, feriados e até placas de veículos. O ano novo tailandês, o Songkran, é celebrado em abril, com festas de água e limpeza espiritual.
Apesar da predominância oficial, o calendário gregoriano também é amplamente compreendido, especialmente nas interações com estrangeiros e no turismo.

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Coreia do Norte: o tempo de Kim Il-sung

Na Coreia do Norte, o ano zero não é o nascimento de Cristo, mas o de Kim Il-sung, fundador do país. Assim, o calendário Juche começou em 1912 — o ano de nascimento do líder.
O calendário Juche é utilizado em conjunto com o calendário gregoriano, especialmente em contextos oficiais e propagandísticos. Em 2025 do nosso calendário, a Coreia do Norte vive o ano 114. A contagem expressa ideologia política e culto à personalidade, sendo uma forma de reforçar a soberania e identidade nacional.

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Budismo Theravada: a era da iluminação

Em países como Sri Lanka, Mianmar, Laos e Camboja, também vigora o calendário budista, que atualmente marca o ano 2568.
Embora esses países utilizem o calendário gregoriano para relações internacionais e aspectos administrativos, o sistema budista ainda é central para rituais, cerimônias religiosas e eventos comunitários.
Datas como o Vesak (nascimento, iluminação e morte de Buda) são celebradas com base nesse calendário e têm forte impacto no cotidiano dos cidadãos.

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O tempo, apesar de parecer uma constante universal, é moldado pela cultura, pela religião e pela história. Os calendários alternativos ao gregoriano não são excentricidades, mas expressões profundas de identidade coletiva.

Viver em 2025 pode parecer uma regra, mas para milhões de pessoas, o tempo avança em outras páginas do calendário. Seja 2017 na Etiópia, 5785 em Israel, 1403 no Irã, 2081 no Nepal ou 2568 na Tailândia, essas datas revelam que o mundo é muito mais diverso do que os números em nossos relógios digitais sugerem.

Entender esses diferentes sistemas é uma forma de respeitar o tempo dos outros — e, talvez, de repensar a pressa do nosso próprio. Em tempos de conexões globais, reconhecer o tempo como plural é, também, um gesto de sabedoria.

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