Você já parou para observar aqueles portões de ferro fundido que guardam as casas brasileiras com uma elegância discreta e cheia de história? Eles não são apenas enfeites; carregam uma tradição que remonta à filosofia africana Sankofa — um conceito profundo que convida a revisitar o passado para moldar o futuro.
A filosofia Sankofa e o pássaro que dança para trás
A palavra Sankofa vem do idioma Akan, de Gana, e significa literalmente “voltar e buscar”. Ela é representada por um pássaro mítico que voa para frente enquanto olha para trás, simbolizando a importância de aprender com o que já passou. Essa ideia transcende fronteiras e encontrou no Brasil um novo palco: os portões de ferro dos subúrbios e das cidades antigas.
Esses portões, tão presentes em casas antigas, trazem padrões geométricos que lembram os símbolos de Sankofa — curvas, voltas e arabescos que se repetem como um eco visual da memória. Eles são ao mesmo tempo fortes e delicados, guardiões silenciosos que, com suas formas retorcidas, guardam o passado e apontam para o futuro.
O Brasil, com toda sua miscigenação cultural, adotou e reinterpretou esses símbolos africanos. Nos portões, o ferro fundido ganhou vida própria, sendo moldado por mãos de ferreiros que desconheciam, talvez, a filosofia Sankofa, mas intuíram que, ao embelezar as casas, estavam perpetuando memórias.
Foi essa poesia visual que me inspirou a criar um cartaz — um convite para quem passa por esses portões e não imagina que, por trás das linhas de ferro, pulsa uma história ancestral. Cada detalhe desses portões é como uma frase do passado gravada na memória coletiva, resistindo ao tempo.
O portão que abre caminho para o futuro
O mais fascinante nessa história é que, apesar de olharem para trás, esses portões não são retrógrados. Eles são como o pássaro Sankofa: enquanto evocam o passado, também guardam a esperança do que está por vir. Ao atravessar esses portões, entramos em lares que carregam lembranças de avós, pais e filhos — um portal simbólico que conecta gerações.
Conclusão
A arte dos portões de ferro é um testemunho silencioso de nossa herança, mas que fala alto para quem tem sensibilidade para ouvir. Eles são a tradução visual da filosofia Sankofa — que nos lembra: olhar para trás não é recuar, é aprender e, assim, avançar com mais sabedoria. Quando passamos por esses portões, não cruzamos apenas uma barreira física, mas também um elo com tudo que já fomos e podemos ser.
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