Selecionar os escritores mais geniais de todos os tempos não seria um trabalho para qualquer pessoa. Quem conheceu o crítico literário chamado Harold Bloom (1930-2019), em uma primeira impressão, o achava um gigante bonachão. Com voz chorosa suspirante, olhar sonolento e gestos lentos, não ligava a inteligência do professor Bloom, como era chamado nas universidades americanas em que lecionava, ao seu trabalho profícuo. Ele superou suas limitações e escreveu mais de 40 livros, tendo, como destaque, “Gênio”, onde relacionou os escritores mais geniais de todos os tempos.
Para muitos, Harold Blomm era um gênio, e escreveu sobre os geniais escritores e suas obras magníficas. O Cânone Ocidental, ele falou do autor que considerava o maior gênio de todos, Willian Shakespeare.
No encorpado livro Gênio, com mais de 800 páginas, Bloom relacionou os 100 escritores mais geniais de todos os tempos, bem como suas obras magníficas que os colocam nesta seleção. Entre as 100 mentes brilhantes da literatura, estão o brasileiro Machado de Assis e os autores de Portugal, Luis de Camões, Eça de Queirós e Fernando Pessoa.
Assuntos deste trabalho:
Os Gênios da Literatura
O estudo dos escritores mais geniais de todos os tempos
O estudo da genialidade é uma área há muito tempo explorada com profundida nas academias e universidades, especialmente na neurociência e na sociobiologia, as quais costumam buscar justificativas para a cultura humana.
Harold Bloom criou uma classificação dos gênios com base em seus talentos, e esse estudo distribuiu os escritores mais geniais de todos os tempos de acordo com sua característica pessoal.
A revista Veja, em sua matéria publicada em 2003, apontou sobre Bloom que obras geniais surgem da luta entre um escritor e seus precursores, ou seja, elas nascem de um desejo pela originalidade, por assim dizer, mas, sobretudo, da exploração do mundo íntimo, do embate entre a mente consigo mesmo.
A divisão entre os escritores mais geniais de todos os tempos
A escolha dos melhores escritores feita por Bloom levantou hipóteses que o colocaram em dúvida, pois contém nomes incontestáveis, mas entre eles, alguns duvidosos, mas justificados pelo crítico literário, como um criador genial de livros. Com uma técnica não muito convencional, Bloom buscou, afinal, dividir os escritores em grupos com características semelhantes, tido, os escritores com maior imaginação, os mais irônicos, e assim por diante.
Nestes grupos, de forma resumida, vamos descrever os quais o crítico, indicou, nos textos a seguir.
Desbravadores
Entre os escritores desbravadores, autores de uma obra inesgotável, estão os nomes de Shakespeare, citado como o inventor do humano, em Hamlet, também Miguel de Cervantes, o primeiro romancista com Dom Quixote de la Mancha e Dante Alighieri, o poeta supremo que concebeu a Divina Comédia.
Sábios
Autores cuja criação é precursora de uma vastidão de conhecimento que se criou posteriormente. O filósofo Platão, o apóstolo São Paulo e o pai da psicanálise, Sigmund Freud, integram esse seleto grupo que buscou pela sabedoria espiritual e secular.
Irônicos
Este grupo foi divididos em dois subgrupos, os que exploram a ironia do amor e os que exploram as agonias do amor, seja terreno ou divino. No primeiro grupo, aparece o poeta John Donne e, no segundo grupo, está Hermann Melville.
Rigorosos
Dotados de um supremo rigor imaginativo, estão Emily Dickinson e T.S. Eliot, entre outros poetas americanos, além do romântico inglês, Wordsworth.
Argutos
Com uma grande agilidade mental, Bloom englobou nessa lista o filósofo Nietzche, o romancista Marcel Proust e o dramaturgo Molière.
Amantes da Beleza
Nesta seção, foram incluídos os pensadores da estética, como Walter Pater, além dos poetas franceses Arthur Rimbaud e Paul Valéry.
Incansáveis
Para este grupo, o crítico selecionou os autores que escreveram grande obras, de grande épica, como Camões e James Joyce, e aquelas que souberam agarrar-se a uma visão poética ou estilística, como willian Faulkner e Ernest Hemingway.
Fecundadores
Escritores de grande originalidade criativa fazem parte deste grupo, mestres da narrativa e figuras centrais da literatura de seus países. Nesta seleção, foram incluídos Machado de Assis, Jorge Luis Borges e Willian Blake.
Visionários
O poeta americano Walt Whitman e o português Fernando Pessoa, que de certa forma manifestam a voz de seu povo, assim como o escritor de esplendor moral, a inglesa George Eliot.
Muralistas
Os criadores de grandes comédias humanas, como francês Honoré de Balzac, o russo Fiodor Dostoieviski e o inglês, Charles Dickens.
Os 20 primeiros gênios da lista dos mais geniais
1. William Shakespeare (1564-1616)
- Obra mais genial: Hamlet
- Motivo: A complexa exploração da psique humana, atemporalidade dos temas e a maestria na linguagem.
2. Geoffrey Chaucer (1343-1400)
- Obra mais genial: Os Contos de Canterbury
- Motivo: A sátira social, a riqueza dos personagens e a inventividade poética.
3. Dante Alighieri (1265-1321)
- Obra mais genial: A Divina Comédia
- Motivo: A grandiosidade da visão do inferno, purgatório e paraíso, a maestria poética e a influência cultural.
4. Miguel de Cervantes (1547-1616)
- Obra mais genial: Dom Quixote
- Motivo: A sátira da cavalaria medieval, a complexa caracterização dos personagens e a influência universal.
5. Charles Dickens (1812-1870)
- Obra mais genial: Grandes Esperanças
- Motivo: A crítica social, a riqueza dos personagens e a maestria na narrativa.
6. Walt Whitman (1819-1892)
- Obra mais genial: Folhas de Relva
- Motivo: A celebração da natureza, a linguagem inovadora e a influência na poesia americana.
7. Stendhal (1783-1842)
- Obra mais genial: O Vermelho e o Negro
- Motivo: A análise psicológica do protagonista, a crítica social e a influência na literatura moderna.
8. Fiódor Dostoiévski (1828-1881)
- Obra mais genial: Os Irmãos Karamazov
- Motivo: A exploração da fé, do crime e da redenção, a complexidade dos personagens e a influência na literatura universal.
9. Leo Tolstói (1828-1910)
- Obra mais genial: Guerra e Paz
- Motivo: A grandiosidade da narrativa, a análise da guerra e da sociedade russa e a influência na literatura universal.
10. Friedrich Nietzsche (1844-1900)
- Obra mais genial: Assim Falou Zaratustra
- Motivo: A crítica à moral tradicional, a filosofia da vontade de poder e a influência no pensamento ocidental.
11. Sigmund Freud (1856-1939)
- Obra mais genial: A Interpretação dos Sonhos
- Motivo: A teoria do inconsciente, a análise dos sonhos e a influência na psicanálise.
12. Marcel Proust (1871-1927)
- Obra mais genial: Em Busca do Tempo Perdido
- Motivo: A exploração da memória, do tempo e da subjetividade, a riqueza da linguagem e a influência na literatura moderna.
13. James Joyce (1882-1941)
- Obra mais genial: Ulisses
- Motivo: A experimentação linguística, a exploração da consciência e a influência na literatura moderna.
14. Franz Kafka (1883-1924)
- Obra mais genial: A Metamorfose
- Motivo: A alienação, a burocracia e a angústia existencial, a linguagem simbólica e a influência na literatura moderna.
15. Virginia Woolf (1882-1941)
- Obra mais genial: Mrs. Dalloway
- Motivo: A experimentação narrativa, a exploração da psique feminina e a influência na literatura moderna.
16. Jorge Luis Borges (1899-1986)
- Obra mais genial: Ficções
- Motivo: A ficção especulativa, a metalinguagem e a influência na literatura latino-americana.
17. Samuel Beckett (1906-1989)
- Obra mais genial: Esperando Godot
- Motivo: O absurdo existencial, a linguagem minimalista e a influência na literatura do pós-modernismo.
18. Gabriel García Márquez (1927-2014)
- Obra mais genial: Cem Anos de Solidão
- Motivo: O realismo mágico, a narrativa cíclica e a influência na literatura latino-americana
19. Italo Calvino (1923-1985)
- Obra mais genial: Se Se Uma Noite de Inverno um Viajante (trilogia)
- Motivo: A metaficção, o jogo literário e a influência na literatura pós-moderna.
20. William Faulkner (1897-1962)
- Obra mais genial: Absalão, Absalão!
- Motivo: A narrativa fragmentada, a exploração do sul dos Estados Unidos e a influência na literatura modernista.
Um toque de genialidade
Eu não concordo com Bloom em grande parte desta divisão de autores. Penso que Machado de Assis não deveria estar entre os Fecundadores, mas entre os Irônicos, e esse grupo dos irônicos, em minha opinião, foi mal construído. Sem falsa modéstia, Machado de Assis está ao lado de Shakespeare ou ao menos entre os 10 primeiros escritores mais geniais de todos os tempos. Mas Bloom deu o toque de gênio ao conseguir transmitir ao leitor sua paixão pela literatura, o sentimento de que há algo maravilhoso e magnífico nas 100 obras-primas, e com isto, ele se coloca como um gênio, também.
Autor: Luiz Veroneze – MTB 9830/PR