O dia tão esperado chegou, quando nesta quarta, 2 de abril de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 10% sobre todas as exportações brasileiras para o mercado americano, como parte de uma política de “tarifas recíprocas” apelidada por ele de “Dia da Libertação”.
A medida, que entra em vigor às 00h01 do dia 5 de abril, afeta todos os produtos brasileiros enviados aos EUA, com exceção de setores que já possuem tarifas específicas mais altas, como aço e alumínio (taxados em 25%). Embora o Brasil tenha recebido a tarifa mínima entre os países afetados, o impacto sobre os bens exportados, especialmente os de uso comum, será significativo.
O consumidor brasileiro tem se perguntado se isso vai afetar a sua vida diretamente? Seus efeitos podem, sim, reverberar no dia a dia dos brasileiros, mas de forma indireta e dependendo de como o Brasil e suas indústrias reagirem. Portanto, a resposta não é simples e depende de vários fatores.
A tarifa de 10% foi justificada por Trump como uma resposta às barreiras comerciais que outros países, incluindo o Brasil, impõem aos produtos americanos. Apesar de o Brasil argumentar que sua tarifa média efetiva sobre bens dos EUA é baixa (cerca de 2,7%, segundo o governo), os EUA decidiram aplicar a taxação linear a todas as exportações brasileiras.
Em 2024, os Estados Unidos foram o destino de 12% das exportações totais do Brasil, movimentando cerca de US$ 40,4 bilhões, com destaque para commodities e produtos industrializados. Abaixo, listamos os 10 produtos de uso comum mais impactados, considerando volume de exportação e relevância no mercado americano.
Os 10 produtos mais afetados pelo Tarifaço de Trump
- Petróleo bruto
O petróleo lidera as exportações brasileiras para os EUA, com US$ 5,8 bilhões em 2024. Usado amplamente na produção de combustíveis e derivados, o petróleo bruto é um insumo essencial na vida cotidiana americana. A tarifa de 10% pode encarecer a gasolina e outros produtos energéticos nos EUA, afetando diretamente os consumidores. - Café
O café brasileiro, especialmente o não torrado, é um dos preferidos no mercado americano, com exportações significativas em 2024. Presente em milhões de lares e cafeterias, o aumento de custo pode elevar os preços nas prateleiras, impactando desde o café matinal até as grandes redes de varejo. - Açúcar
Apesar de os EUA já aplicarem uma tarifa elevada (81%) ao açúcar brasileiro, a nova taxação de 10% sobre o volume restante pode agravar os custos desse adoçante essencial. Usado em alimentos processados e bebidas, o açúcar é um item básico que pode refletir o impacto nas indústrias alimentícias americanas. - Carne bovina
A carne bovina brasileira, com forte presença no mercado americano, é consumida em hambúrgueres, churrascos e pratos prontos. A tarifa de 10% deve aumentar os preços para os consumidores finais, especialmente em cadeias de fast-food e supermercados. - Suco de laranja
O Brasil é um dos maiores fornecedores de suco de laranja concentrado para os EUA. Esse produto, presente no café da manhã de muitas famílias americanas, pode sofrer reajustes de preço, afetando tanto o varejo quanto a indústria de bebidas. - Etanol
Usado como biocombustível e aditivo em gasolina, o etanol brasileiro já enfrenta uma tarifa de 18% nos EUA. Com a adição dos 10% anunciados, o custo desse produto essencial para a matriz energética americana pode pressionar os preços dos combustíveis. - Madeira e derivados
Exportações de madeira, como compensados e móveis, são amplamente utilizadas na construção civil e na fabricação de itens domésticos nos EUA. O aumento de 10% nos custos pode encarecer reformas e produtos de mobiliário, impactando o bolso dos consumidores. - Celulose
A celulose brasileira é um insumo chave para a produção de papel, incluindo itens de uso diário como papel higiênico, toalhas e embalagens. A tarifa deve elevar os custos desses produtos essenciais, afetando tanto residências quanto empresas. - Calçados
Embora os calçados brasileiros já enfrentem uma tarifa de 40% nos EUA, a nova taxação adicional de 10% pode reduzir ainda mais a competitividade desse item de vestuário básico, encarecendo opções acessíveis para os consumidores americanos. - Aeronaves e partes
A Embraer exporta aviões e componentes para os EUA, usados em aviação comercial e privada. Apesar de ser um produto de alto valor agregado, a tarifa de 10% pode aumentar os custos para companhias aéreas, potencialmente refletidos nas passagens.
No Brasil, os setores mais afetados — como petróleo, café e carne — podem enfrentar queda na demanda americana, forçando produtores a buscar novos mercados ou absorver perdas.
O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, lamentou a decisão e avalia medidas de retaliação ou negociação na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Já nos EUA, economistas alertam para o “efeito máquina de lavar”, observado no primeiro mandato de Trump: tarifas tendem a elevar os preços internos, penalizando os próprios consumidores americanos. Produtos como café, açúcar e suco de laranja, amplamente consumidos, podem pressionar a inflação, enquanto o encarecimento de insumos como petróleo e etanol pode afetar a economia de forma mais ampla.
Alternativas
A tarifa de 10% coloca o Brasil em uma posição relativamente vantajosa frente a países como China (54%) e Vietnã (46%), que enfrentam taxações mais altas. Isso pode abrir oportunidades para o Brasil ganhar mercado em relação a concorrentes mais penalizados. Especialistas sugerem que o governo e o setor privado brasileiro intensifiquem negociações com os EUA para obter isenções ou cotas, enquanto exploram destinos alternativos, como a União Europeia e a Ásia.
Entretanto, é importante dizer, que essa não é uma questão definitiva. Agora, os países começaram a anunciar medidas retaliativas, como é o caso da China, que neste dia 4 anunciou tarifa de 34% em todos os produtos americanos.
A tarifa de 10% imposta pelo governo Trump às exportações brasileiras, embora menor que a de outros países, terá reflexos diretos em produtos de uso comum que conectam os dois mercados. Do café da manhã ao combustível no tanque, o impacto será sentido por consumidores americanos e produtores brasileiros. Resta saber como o Brasil reagirá a esse novo capítulo da política comercial global e se conseguirá transformar desafios em oportunidades no cenário internacional.