No último fim de semana do mês de janeiro, uma cena assustadora surpreendeu os banhistas que desfrutavam das belas praias do litoral de São Paulo: caravelas-portuguesas em grande quantidade, gerando temor e alerta entre os veranistas. Para entender melhor esse fenômeno e os perigos que ele representa, buscamos o conhecimento do professor Sérgio Nascimento Stampar, especialista em biologia marinha e chefe do Laboratório de Evolução e Diversidade Aquática da Unesp. Neste artigo, exploraremos o que são caravelas-portuguesas, seus perigos, como se proteger e o que fazer em caso de contato com esses organismos.
Para começar, é fundamental compreender o que são as caravelas-portuguesas. O professor Stampar esclarece que esses organismos são, na verdade, cnidários, parentes dos corais e das águas-vivas. No entanto, diferentemente das águas-vivas, as caravelas têm um ciclo de vida peculiar. Elas possuem uma estrutura flutuante chamada de ‘bexiga’, que é produzida pelos próprios pólipos, formando colônias com diferentes funções, inclusive algumas extremamente peçonhentas, como os nactilozoides. Stampar destaca a distinção entre caravelas e águas-vivas, ressaltando que as primeiras produzem uma estrutura semelhante à água-viva, mas não são exatamente águas-vivas. “A caravela é o estágio anterior à água-viva, que será produzida posteriormente”, explica.
Quanto aos riscos representados pelas caravelas, o professor alerta para a alta toxicidade desses organismos. “Elas são atualmente os organismos mais peçonhentos entre os cnidários encontrados na costa brasileira. Suas toxinas são especialmente perigosas para os vertebrados, como peixes e humanos, podendo causar desde dor intensa até reações alérgicas graves”.
Sobre os cuidados após um contato com caravelas, Stampar enfatiza a importância de lavar a pele afetada com água do mar, evitando água doce ou urina, que podem agravar a situação. “É fundamental remover qualquer vestígio de tentáculos e, caso os sintomas persistam ou se agravem, buscar assistência médica imediatamente”, recomenda.
Quanto à presença desses organismos nas praias, o professor explica que ventos fortes podem carreá-los para a zona costeira, onde acabam encalhando na areia. “A quebra das caravelas na arrebentação libera tentáculos soltos na água, aumentando os riscos de acidentes mesmo após a morte do organismo”, alerta. Sobre o aumento da ocorrência de caravelas, Stampar ressalta que as mudanças climáticas podem influenciar indiretamente, devido ao aumento da intensidade e frequência dos ventos. “Porém, não há estudos conclusivos sobre um aumento específico na presença desses organismos”, esclarece.
No que diz respeito aos predadores das caravelas, o professor menciona que grandes peixes e tartarugas estão entre os principais, mas muitas vezes esses organismos completam seu ciclo de vida sem serem predados. “O que a gente tem de predadores são grandes peixes e tartarugas, então esses são os predadores comuns de caravelas, mas normalmente elas acabam fechando o seu ciclo de vida sem ter sido predados, então elas acabam morrendo e aí o ciclo de vida é bastante curto da caravela, não dura mais do que algumas semanas e acabam morrendo, então o número de predadores, claro que acaba impactando na quantidade de indivíduos que aparecem, mas normalmente não é um fator preponderante não”, explica.
Por fim, o professor Stampar orienta os banhistas a ficarem atentos à presença de caravelas na água e na areia, evitando o contato e, caso avistem esses organismos, optando por não entrar no mar para prevenir acidentes. É essencial que todos estejam cientes dos perigos que as caravelas-portuguesas representam e saibam como agir em caso de um encontro inesperado com esses organismos peçonhentos nas praias do litoral brasileiro.