Paris utiliza IA para monitorar ameaças durante as Olimpíadas de 2024

Paris se prepara para sediar as Olimpíadas de 2024, implementando medidas de segurança avançadas para garantir a proteção de participantes e espectadores. Uma dessas medidas é o uso de um algoritmo de inteligência artificial (IA) para identificar potenciais ameaças em tempo real.

Desenvolvida pela empresa francesa Wintics, a tecnologia analisará milhares de imagens de câmeras de segurança instaladas em estações de transporte público, como metrô e ônibus, para detectar comportamentos suspeitos. No entanto, o uso dessa tecnologia de vigilância divide a opinião pública na França, levantando questões sobre privacidade, discriminação e eficácia.

O algoritmo da Wintics foi desenvolvido utilizando uma combinação de dados abertos e dados sintéticos, criados por meio de simulações. A empresa afirma que isso permite que a IA aprenda a identificar comportamentos suspeitos sem depender de reconhecimento facial ou características físicas. Os primeiros testes ocorreram em março de 2023, durante dois shows da banda Depeche Mode, focando na análise de imagens capturadas nas estações de transporte público.

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O algoritmo da Wintics é projetado para detectar ações que possam indicar uma ameaça iminente. Por exemplo, se uma pessoa cai e outras pessoas começam a cair em sequência, o sistema envia um alerta para os operadores sobre um possível ataque. A tecnologia visa fornecer uma camada adicional de segurança, ajudando a prevenir incidentes em grandes eventos como as Olimpíadas.

Apesar das intenções de aumentar a segurança, a implementação da IA de vigilância não é isenta de controvérsias. Críticos argumentam que o sistema pode perpetuar comportamentos discriminatórios e violações de privacidade. O grupo ativista La Quadrature du Net, que defende a privacidade digital, expressou preocupações de que não é possível realizar análises de comportamentos sem acessar dados pessoais e biométricos. Noémie Levain, integrante do grupo, afirmou que o uso da tecnologia pode levar a uma vigilância excessiva e invasiva.

Em resposta às críticas, a Wintics enfatiza que seu algoritmo não utiliza reconhecimento facial ou de características físicas. A empresa explica que a IA foca exclusivamente em ações e comportamentos, minimizando riscos de discriminação e invasões de privacidade. No entanto, as preocupações sobre a possibilidade de erros e a aplicação contínua da tecnologia após as Olimpíadas permanecem.

Os defensores do uso de IA para segurança pública argumentam que a tecnologia pode significativamente aumentar a capacidade de detectar e responder a ameaças em tempo real. Em eventos de grande escala como as Olimpíadas, onde a segurança é uma prioridade máxima, a IA pode proporcionar uma resposta rápida a incidentes, potencialmente salvando vidas.

Por outro lado, os detratores alertam que a implementação de tais sistemas pode abrir precedentes perigosos para a vigilância em massa. A possibilidade de erros na identificação de ameaças e o impacto na privacidade individual são questões que precisam ser cuidadosamente consideradas. Além disso, a continuidade do uso da tecnologia após os jogos é uma preocupação real para muitos, que temem um aumento na vigilância pública permanente.

Desde 2020, a Wintics tem contrato com a prefeitura de Paris para usar seu sistema de análise de imagens. Inicialmente, a tecnologia foi utilizada para coletar dados sobre o fluxo de ciclistas na cidade, ajudando no planejamento de novas ciclovias. Esse uso inicial estabeleceu a base para a expansão da aplicação da tecnologia em cenários de segurança pública.

A adoção da IA de vigilância para as Olimpíadas representa uma expansão significativa do papel da Wintics em Paris. No entanto, críticos temem que, uma vez introduzida, a tecnologia possa se tornar uma ferramenta permanente de vigilância. A questão de até que ponto o uso da tecnologia será limitado aos jogos ou se estenderá além deles é um ponto central do debate.

Os testes realizados durante os shows do Depeche Mode proporcionaram uma oportunidade para avaliar a eficácia do algoritmo em ambientes de alta densidade. A análise das imagens capturadas nas estações de transporte público ajudou a refinar o sistema e identificar possíveis falhas antes da implementação em larga escala durante as Olimpíadas.

Os resultados desses testes iniciais indicaram que a tecnologia da Wintics pode detectar comportamentos suspeitos de forma eficiente. No entanto, a verdadeira prova de sua eficácia e aceitabilidade virá durante os jogos, quando a pressão e a complexidade do ambiente serão significativamente maiores.

A implementação de IA para vigilância levanta sérias questões éticas e legais sobre privacidade. Embora a Wintics afirme que seu sistema não utiliza reconhecimento facial, a coleta e análise de dados em larga escala podem ser vistas como uma invasão da privacidade individual. Reguladores e defensores da privacidade estão atentos ao desenvolvimento dessa tecnologia e suas implicações.

Os regulamentos europeus sobre proteção de dados, como o GDPR, estabelecem diretrizes rigorosas para a coleta e uso de dados pessoais. A conformidade com essas regulamentações é crucial para a implementação contínua da tecnologia. Qualquer desvio pode resultar em ações legais e prejuízos para a imagem pública do projeto.

Se o uso da IA de vigilância em Paris durante as Olimpíadas for considerado um sucesso, outras cidades podem seguir o exemplo, adotando tecnologias semelhantes para melhorar a segurança pública. No entanto, é essencial que qualquer expansão seja acompanhada de um debate público robusto e de avaliações contínuas de impacto.

O desafio para governos e sociedades é encontrar um equilíbrio entre a necessidade de segurança e a proteção das liberdades individuais. A adoção de tecnologias avançadas, como a IA de vigilância, deve ser acompanhada de transparência, supervisão regulatória e um compromisso com os direitos humanos.

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