Muito antes de vestir o branco papal e liderar a Igreja Católica, Jorge Mario Bergoglio já era um homem apaixonado por letras. Além de faxineiro, segurança de bar e técnico químico, foi também professor de literatura e psicologia em colégios jesuítas na Argentina nos anos 1960. E foi nesse universo de salas de aula, livros sublinhados e conversas sobre a existência que se formou o gosto literário de quem mais tarde se tornaria o Papa Francisco.
1. “A Ideia de uma Sociedade Cristã”, de T.S. Eliot
Nesta obra de 1939, derivada de uma conferência em Cambridge, o poeta e pensador T.S. Eliot reflete sobre como a fé cristã pode influenciar de maneira profunda não só a espiritualidade pessoal, mas também as estruturas sociais e políticas. Para Eliot, uma sociedade verdadeiramente cristã deve ir além dos muros da igreja, influenciando o bem comum, a cultura e os valores coletivos. A ideia de uma fé ativa, moldando a convivência e a política, ressoa fortemente com a atuação pública do Papa Francisco.
2. “Do lado de Swann” – Volume 1 de “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust
Publicada em 1913, esta é a porta de entrada para o monumental romance em sete partes de Marcel Proust. O Papa Francisco aprecia particularmente a maneira como o autor francês explora o tempo, a memória e os sentimentos humanos. O episódio icônico da madalena — em que o protagonista revive memórias esquecidas ao provar um bolinho — mostra como lembranças involuntárias podem nos reconectar com o que somos. Uma leitura que combina sensibilidade literária com profundidade existencial.
3. “O Tempo Redescoberto” – Volume 7 de “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust
Sim, o pontífice não leu apenas o início: ele foi até o fim. O último volume da saga de Proust, lançado em 1927, fecha com chave de ouro uma reflexão sobre o impacto do tempo e da memória na nossa experiência de vida. Situado durante a Primeira Guerra Mundial, o livro capta uma Paris em transformação e examina como o passado se reconstrói dentro de nós. Francisco aprecia essa fusão entre imaginação e realidade, um verdadeiro elogio à permanência da memória.
4. “Borges Oral & Sete Noites”, de Jorge Luis Borges
O escritor argentino Jorge Luis Borges é um dos grandes ídolos literários do Papa Francisco — e não por acaso. Cego nos últimos anos de vida, Borges ministrava palestras recheadas de ironia refinada, erudição acessível e uma visão poética da existência. Nos livros Borges Oral (1979) e Sete Noites (1980), ele discorre sobre temas como o tempo, a eternidade e a poesia, com citações que vão de Buda a Sócrates e de Cristo a autores latino-americanos. Um verdadeiro banquete filosófico.
5. “Um Experimento em Crítica Literária”, de C.S. Lewis
Conhecido mundialmente por As Crônicas de Nárnia, C.S. Lewis também se destacou como teólogo e crítico literário. Neste ensaio publicado em 1961, o autor britânico propõe uma revolução no modo de avaliar os livros: em vez de julgá-los por critérios acadêmicos rígidos, deveríamos observar como eles nos transformam como leitores. Para Lewis, o bom livro é aquele que nos faz viver outras vidas. Essa visão, centrada na empatia e na experiência sensível da leitura, encontra eco na maneira humanista com que Francisco interpreta o mundo.
Conclusão
Essas obras não são apenas leituras de cabeceira; são pistas para entender como o Papa enxerga o ser humano, a sociedade e o papel da espiritualidade em nossas escolhas cotidianas. A literatura, para Francisco, não é um luxo intelectual — é uma forma de tocar o sagrado.
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