A mente humana é um labirinto de segredos, e poucos diretores exploram suas complexidades tão bem quanto M. Night Shyamalan. O cineasta, conhecido por seus finais surpreendentes, deu vida a uma trilogia inesperada e brilhante, composta pelos filmes Corpo Fechado (2000), Fragmentado (2016) e Vidro (2019). Unidos por um universo compartilhado e personagens intrigantes, os três longas desafiam as convenções do gênero de suspense psicológico e elevam a narrativa de super-heróis a um patamar único e realista.
Corpo Fechado (2000)
Lançado em 2000, Corpo Fechado introduziu ao público a história de David Dunn (Bruce Willis), um homem comum que sobrevive milagrosamente a um terrível acidente de trem. Guiado por Elijah Price (Samuel L. Jackson), um colecionador de quadrinhos com uma condição genética rara que fragiliza seus ossos, David descobre que pode ter habilidades sobre-humanas. O filme subverte a mitologia dos super-heróis ao tratá-los como figuras plausíveis no mundo real, explorando o conceito de que algumas pessoas podem ter capacidades extraordinárias sem saber.
Apesar de não ter sido um sucesso imediato, Corpo Fechado conquistou um status cult ao longo dos anos, preparando o terreno para o que viria a ser um dos projetos mais ambiciosos da carreira de Shyamalan.
Disponível para assistir no Disney+
Fragmentado (2016)
Seisteen anos depois, o diretor lançou Fragmentado, um thriller psicológico que acompanha Kevin Wendell Crumb (James McAvoy), um homem diagnosticado com Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). Kevin possui 24 personalidades distintas, mas algumas delas começam a dominar seu comportamento e transformar seu corpo, levando ao surgimento de uma entidade sobre-humana conhecida como “A Fera”.
O filme é um espetáculo de atuação por parte de McAvoy, que alterna entre diferentes personas com fluidez impressionante. Anya Taylor-Joy também brilha como Casey Cooke, uma jovem sequestrada por Kevin que possui um passado traumático e uma força interior inesperada.
O grande impacto de Fragmentado se dá nos minutos finais, quando a câmera se volta para um David Dunn envelhecido assistindo a uma notícia sobre Kevin. A revelação conecta o longa diretamente a Corpo Fechado, pegando o público de surpresa e confirmando que ambos os filmes fazem parte do mesmo universo cinematográfico.
Disponível para assistir no Amazon Prime
Vidro (2019)
Em Vidro, Shyamalan finalmente une os personagens centrais da sua trilogia. David Dunn, agora conhecido como “O Vigilante”, está caçando Kevin, cuja personalidade da Fera segue aterrorizando a cidade. No entanto, ambos acabam capturados e levados para uma instituição psiquiátrica, onde se encontram com Elijah Price, também conhecido como “Senhor Vidro”.
A psiquiatra Dra. Ellie Staple (Sarah Paulson) tenta convencer os três de que suas habilidades não passam de delírios, trazendo à tona um dos temas centrais do longa: a fragilidade da realidade e a influência da mente sobre o corpo. O filme se desenrola em um jogo psicológico tenso, culminando em um final polêmico que divide opiniões, mas se mantém fiel à proposta de desconstrução do mito dos super-heróis.
Disponível para assistir no Disney+ e Amazon Prime
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A genialidade da trilogia Fragmentado e o legado de Shyamalan
A trilogia iniciada com Corpo Fechado é uma obra singular dentro do gênero. Shyamalan consegue explorar arquétipos heroicos de forma realista, fugindo dos clichês típicos dos blockbusters. Ao tratar poderes como algo passível de explicação científica e psicológica, ele cria uma mitologia própria que desafia a percepção do público.
Além disso, a atuação de James McAvoy em Fragmentado permanece como um dos desempenhos mais impressionantes do cinema moderno, enquanto Samuel L. Jackson entrega uma performance sutil e calculista como Elijah Price. A trilogia também consolidou Anya Taylor-Joy como uma das atrizes mais promissoras da atualidade.
Embora Vidro tenha sido recebido com críticas mistas, seu impacto é inegável. Ele fecha um ciclo narrativo que começou quase duas décadas antes, provando que Shyamalan é um dos poucos cineastas capazes de transformar uma ideia simples em um universo fascinante e memorável.
A trilogia Fragmentado é um marco no cinema contemporâneo, redefinindo a forma como histórias de superação e poder são contadas. M. Night Shyamalan construiu um universo sólido e surpreendente, provando que o realismo e o fantástico podem coexistir de maneira brilhante. Para aqueles que ainda não mergulharam nesse mundo, a experiência vale cada reviravolta.