No noticiário econômico, na mesa de negociações de grandes corporações ou mesmo nas bolsas de valores globais, há um termo que aparece com frequência quase hipnótica: commodity. Ele soa técnico, distante, coisa de economista ou corretor da Bolsa. No entanto, o impacto desse conceito na vida de cada um de nós é surpreendentemente direto. Da comida que colocamos no prato à gasolina que abastece nosso carro, passando pelo papel do dólar na inflação brasileira, tudo passa, em algum ponto, por uma commodity. É um tipo de produto que, apesar de parecer genérico, tem o poder de desestabilizar países, enriquecer nações exportadoras e ditar os preços daquilo que consumimos todos os dias. Mas afinal, o que é, de fato, uma commodity? E por que esse nome aparentemente simples carrega tanto peso nos bastidores da economia global?
Commodities: o que são e por que são tão valiosas?
Em termos objetivos, commodities são produtos de origem primária — ou seja, matérias-primas — que são comercializados em grande escala e que possuem pouca ou nenhuma diferenciação entre os produtores. Em outras palavras, não importa quem extrai o petróleo, cultiva a soja ou minera o ouro: o produto final é praticamente o mesmo. Por essa razão, esses itens são negociados com preços padronizados no mercado internacional.
As commodities se dividem em duas grandes categorias: as soft commodities, de origem agrícola, como café, açúcar, algodão e trigo; e as hard commodities, que envolvem recursos naturais como petróleo, gás natural, ouro, prata, ferro e cobre. A cotação desses produtos oscila diariamente em função da oferta e da demanda global, sendo influenciada por fatores como guerras, crises climáticas, decisões políticas e avanços tecnológicos.
Por que os preços das commodities afetam o seu bolso
Quando o preço do petróleo sobe, por exemplo, o impacto não se limita aos combustíveis. Ele se espalha para toda a cadeia de produção e logística, encarecendo o transporte de mercadorias, os produtos agrícolas e até os preços de passagens aéreas. Da mesma forma, uma quebra na safra de soja no Brasil ou na Argentina pode impactar diretamente o valor da ração animal na China, o custo de produção de carne nos Estados Unidos e o preço final do frango na mesa do consumidor brasileiro.
No Brasil, a economia é fortemente influenciada pelas commodities. O país é um dos maiores exportadores mundiais de soja, café, minério de ferro, petróleo e carne bovina. Quando esses produtos valorizam no mercado internacional, entram mais dólares na economia, fortalecendo o real e melhorando a balança comercial. Por outro lado, quedas abruptas nos preços das commodities afetam diretamente o PIB, o nível de empregos e até os investimentos públicos.
Como funcionam os mercados de commodities
As commodities são negociadas em bolsas de valores específicas, como a Chicago Board of Trade (CBOT), a New York Mercantile Exchange (NYMEX) e a London Metal Exchange (LME). Nesses ambientes, traders compram e vendem contratos futuros, apostando nas variações de preço desses produtos. Um contrato futuro de soja, por exemplo, permite que um produtor fixe um preço para venda daqui a três meses, protegendo-se contra quedas inesperadas.
Esse sistema oferece previsibilidade e segurança para produtores e compradores, mas também atrai especuladores — investidores que não têm interesse direto na mercadoria física, mas buscam lucrar com as flutuações de preço. Isso pode causar picos de volatilidade, como os vistos durante crises geopolíticas, pandemias ou eventos climáticos extremos.
Commodities, clima e geopolítica: uma relação delicada
Poucos setores estão tão vulneráveis a fatores externos quanto o das commodities. Uma seca severa nos EUA pode afetar o preço global do milho. Um embargo ao petróleo russo impacta o valor do barril em Londres. Um aumento de tarifas chinesas sobre a soja americana pode beneficiar os produtores brasileiros. Tudo está interligado.
Eventos geopolíticos e mudanças climáticas são forças que atuam diretamente na disponibilidade e nos preços das commodities. Em tempos de guerra, o acesso a certos recursos se torna limitado, gerando escassez e aumento de preços. Já o aquecimento global tem alterado padrões de chuva e temperatura, interferindo na produção agrícola e na estabilidade das colheitas.
Investir em commodities: oportunidade ou risco?
O investimento em commodities é uma prática comum tanto entre grandes investidores institucionais quanto em carteiras de pessoas físicas. É possível investir diretamente nos contratos futuros ou por meio de fundos de índice (ETFs), ações de empresas produtoras ou fundos multimercado especializados.
Embora ofereçam oportunidades de lucro, as commodities também representam risco elevado. Seus preços são voláteis e podem ser impactados por variáveis que fogem ao controle do investidor. Por isso, especialistas recomendam diversificação e uma boa compreensão dos fundamentos de cada mercado antes de apostar nessa classe de ativos.
O papel estratégico das commodities na soberania nacional
Alguns países enxergam determinadas commodities como ativos de segurança nacional. Petróleo, por exemplo, é considerado um recurso estratégico em muitas nações, dado seu papel central na matriz energética e no setor de transportes. Controlar a produção e a distribuição desse recurso é, em muitos casos, uma questão de soberania.
No caso do Brasil, a riqueza em recursos naturais representa uma vantagem competitiva no cenário global, mas também impõe desafios. A dependência de commodities para equilibrar a balança comercial pode gerar vulnerabilidade. Diversificar a economia e agregar valor à produção — por exemplo, exportando produtos processados e não apenas matérias-primas — é essencial para escapar da armadilha do “colonialismo moderno” das commodities.
Por trás da palavra aparentemente fria e técnica, commodity, esconde-se uma engrenagem fundamental do mundo moderno. Da alimentação à energia, da economia global ao preço da gasolina, tudo passa por essa estrutura invisível, porém vital. Entender o que são commodities é compreender um pouco mais do motor que move o planeta — e reconhecer como o cotidiano de todos nós está conectado, direta ou indiretamente, a decisões tomadas em bolsas de valores a milhares de quilômetros de distância. Saber disso não é apenas um exercício de curiosidade: é uma forma de entender melhor o cenário econômico, valorizar os recursos naturais e, sobretudo, pensar em como queremos construir um futuro mais equilibrado, sustentável e menos vulnerável à instabilidade dos mercados. Em um mundo em constante transformação, a consciência sobre as bases que sustentam nossas necessidades é mais do que útil: é estratégica.
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Formada em administração, Nicolle Prado de Camargo Leão Correia é especialista na produção de conteúdo relacionado a assuntos variados, curiosidades, gastronomia, natureza e qualidade de vida.