O que "Barbie" realmente criticou na sociedade contemporânea

O que “Barbie” realmente criticou na sociedade contemporânea

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Quando “Barbie” chegou aos cinemas, muitos esperavam um filme leve, colorido e, no máximo, nostálgico. Mas o que o público recebeu foi algo muito maior e mais complexo. Por trás das cores vibrantes e da estética impecável, havia uma narrativa carregada de críticas afiadas à sociedade contemporânea. A diretora Greta Gerwig transformou o ícone cultural em um espelho desconfortável, revelando contradições que atravessam questões como identidade, gênero, consumo, poder e expectativas sociais. A cada cena, o filme costura humor, reflexão e ironia, convidando o espectador a revisitar ideias que aceitamos como naturais, mas que há muito merecem questionamento.

A crítica à idealização do feminino

Desde o início, o filme expõe o peso dos padrões irreais projetados sobre as mulheres. Barbie, símbolo de perfeição, vive em um mundo onde tudo funciona — até que deixa de funcionar. A fragilidade de sua rotina idealizada revela a pressão real que mulheres enfrentam para desempenhar papéis impecáveis. O filme discute como a sociedade exige força, beleza, sucesso e doçura simultaneamente, criando expectativas impossíveis. A famosa cena do discurso de Gloria, personagem vivida por America Ferrera, sintetiza a exaustão que muitas mulheres sentem ao tentar ser “tudo ao mesmo tempo” em um cenário que nunca lhes devolve reconhecimento à altura.

O questionamento ao patriarcado e às estruturas de poder

Ao apresentar o “Ken-dom”, o filme ironiza o modelo patriarcal que privilegia o masculino, coloca homens no topo e relega mulheres a papéis secundários. A transição de Ken ao “mundo real”, onde percebe sua súbita valorização apenas por existir como homem, é uma crítica direta ao privilégio muitas vezes naturalizado. Greta Gerwig usa humor para expor desigualdades profundas, mostrando que não se trata de rivalidade entre gêneros, mas de um sistema que ainda distribui oportunidades e respeito de maneira desigual, mesmo em sociedades modernas.

O que "Barbie" realmente criticou na sociedade contemporânea

A crítica ao consumismo e à cultura corporativa

“Barbie” também provoca reflexões sobre consumo, sobretudo quando a Mattel aparece como uma corporação desconectada das vozes que afirma representar. O filme destaca como empresas tentam capturar o discurso feminista para moldar produtos, transformando causas sociais em marketing. Essa ironia fica evidente quando a própria Barbie tenta fugir da caixa que a aprisiona, sugerindo que transformar empoderamento em mercadoria não significa promover mudança real. A crítica se estende ao comportamento do consumidor, que muitas vezes busca soluções rápidas e simbólicas, sem enfrentar questões mais profundas.

A reflexão sobre identidade e sentido de existir

Outro ponto central da narrativa é a jornada de autodescoberta. Barbie deixa de ser um objeto perfeito e passa a ser uma personagem cheia de dúvidas, erros e vulnerabilidades. Essa transição é uma metáfora sobre como nossas identidades são moldadas, cobradas e, às vezes, sufocadas por expectativas externas. O filme parte do universo rosa para discutir algo universal: encontrar propósito, falhar, recomeçar e aceitar que imperfeição faz parte da experiência humana. A decisão final da personagem sintetiza essa busca por autenticidade, algo que ecoa diretamente nas angústias contemporâneas sobre pertencimento e liberdade pessoal.

Conclusão

Ao unir humor, crítica social e simbolismos, “Barbie” se transforma em uma obra que ultrapassa o entretenimento. O filme convoca o público a repensar estruturas enraizadas, a questionar padrões sufocantes e a refletir sobre o consumo como parte da construção coletiva de identidades.

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