Entre as vítimas da doença hepática, os homens carregam um fardo desproporcional, com dois terços das mortes ocorrendo nesse grupo. A cirrose e o carcinoma hepatocelular emergem como os vilões principais, seguidos de perto pela hepatite aguda. Desde os anos 1950, os médicos identificaram o álcool como uma causa primária de cirrose, seguido pelas hepatites virais e pela doença hepática gordurosa não alcoólica.
Globalmente, o consumo de álcool é generalizado, com 43% da população participando. Esse hábito, quando abusivo, representa um importante fator de risco para uma série de doenças, deficiências e, em última análise, morte prematura. Não é de surpreender que os países de alta renda sejam os mais afetados pela falência hepática relacionada ao álcool.
A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) surge como a segunda principal causa de falência hepática terminal, abrangendo um quarto da população global. Na Europa e na América, tornou-se uma razão significativa para transplantes de fígado. Além do custo humano, a cirrose é uma doença financeiramente onerosa. Nos Estados Unidos, em 2016, os gastos relacionados à doença hepática atingiram a marca alarmante de US$ 32,5 bilhões.
Com o consumo de álcool aumentando e a população envelhecendo, juntamente com uma prevalência crescente de fatores de risco metabólicos, o cenário para a falência hepática nas próximas décadas é sombrio. Atualmente, mais de 10.500 pessoas aguardam um transplante de fígado nos Estados Unidos. A cada dia, 17 indivíduos perdem suas vidas enquanto esperam por esse órgão vital.
Com o desequilíbrio entre a oferta e a demanda de órgãos tornando-se cada vez mais evidente, a esperança se transforma em desespero para muitos na lista de espera. Mas a ciência oferece uma luz no fim do túnel.
Em um avanço revolucionário, cirurgiões da Universidade da Pensilvânia conseguiram conectar com sucesso um fígado de porco geneticamente modificado a um paciente humano com morte cerebral. Este marco histórico representou a primeira vez que um órgão de porco foi integrado com sucesso a um sistema humano, funcionando normalmente por 72 horas.
O impacto potencial desse feito não pode ser subestimado. Além de abrir as portas para o uso de órgãos de porcos em transplantes, também oferece uma solução inovadora para a crise de doação de órgãos.
Os cientistas realizaram 68 edições genéticas no fígado do porco, desativando genes que desencadeiam a rejeição imunológica e inserindo genes humanos relacionados à inflamação, imunidade e coagulação sanguínea. Essas modificações, realizadas em colaboração com a empresa de biotecnologia eGenesis, representam um passo significativo em direção à compatibilidade entre humanos e porcos.
Embora ainda haja desafios a superar, o sucesso inicial deste transplante de fígado de porco oferece esperança para milhares de pacientes em lista de espera. A equipe da Universidade da Pensilvânia planeja realizar mais testes, enquanto a eGenesis busca aprovação regulatória para testes clínicos em pacientes com insuficiência hepática.
À medida que continuamos a avançar na fronteira da medicina, é imperativo que mantenhamos o foco na inovação e na busca por soluções que possam salvar vidas. A revolução dos transplantes de órgãos está apenas começando, e com ela, esperamos transformar a pandemia silenciosa da doença hepática em uma história de triunfo da ciência e da humanidade.