O osso animal oco foi usado para armazenar sementes venenosas durante a era romana. (Crédito da imagem: Consulta BIAX)
Um osso de animal oco, aparentemente banal à primeira vista, tornou-se um artefato arqueológico extraordinário, revelando uma prática obscura dos antigos romanos: o armazenamento de sementes venenosas. Este achado notável veio à luz em Houten-Castellum, um assentamento rural do período romano situado na Holanda, lançando uma nova luz sobre as práticas e conhecimentos botânicos da época.
O osso, identificado como um fêmur esculpido de animal, possivelmente uma cabra ou ovelha, continha centenas de sementes venenosas, meticulosamente preservadas por quase dois milênios. Estas sementes pertenciam à planta Hyoscyamus niger, conhecida por seus poderosos efeitos tóxicos e propriedades alucinógenas. O estudo publicado na revista Antiquity em abril oferece uma visão fascinante sobre o uso dessas sementes no mundo romano.
Antes dessa descoberta crucial em 2017, não havia evidências tangíveis do uso dessas sementes durante o Império Romano. No entanto, os arqueólogos agora têm em mãos um testemunho físico intrigante desse uso, desafiando concepções anteriores sobre a interação dos romanos com plantas venenosas.
O meimendro preto, há muito reconhecido por suas propriedades medicinais e alucinógenas, remonta a períodos muito anteriores ao domínio romano. Sementes semelhantes foram descobertas em sítios arqueológicos em toda a Europa, datando de 5500 a.C. No entanto, a verdadeira natureza de sua presença nessas localidades permaneceu incerta até agora.
A descoberta deste recipiente de ossos, selado cuidadosamente com um tampão de casca de bétula preta, lança luz sobre a intenção humana por trás desse ato. Os pesquisadores determinaram que as sementes foram colocadas deliberadamente dentro do osso, estabelecendo assim a primeira evidência concreta do armazenamento intencional dessas sementes para uso posterior.
Esta descoberta não só confirma as referências literárias clássicas ao uso do meimendro preto pelos romanos, mas também adiciona uma nova dimensão à nossa compreensão de suas práticas médicas e culturais. Autores como Plínio, o Velho, já haviam descrito as propriedades alucinógenas e perigosas dessas sementes, mas agora temos evidências físicas que corroboram essas narrativas antigas.
A descoberta deste osso oco não apenas ressalta a importância da arqueologia na reconstrução de sociedades antigas, mas também destaca a necessidade de abordagens contextuais ao estudar evidências botânicas. Com o avanço da pesquisa, é fundamental considerar não apenas a presença de plantas, mas também seu contexto e relação com as práticas humanas.
A descoberta deste recipiente de ossos em Houten-Castellum oferece um vislumbre fascinante e revelador da vida e práticas dos antigos romanos. Ao armazenar sementes venenosas, eles não apenas demonstraram um conhecimento botânico avançado, mas também revelaram uma faceta intrigante de sua relação com o mundo natural. Este achado arqueológico, sem dúvida, continuará a inspirar novas investigações e debates sobre o mundo romano e sua interação com plantas venenosas e medicinais.