Poucos projetos na história recente sintetizam tanto a ambição humana quanto as Ilhas Khazar, uma construção monumental planejada para surgir no Mar Cáspio, no Azerbaijão. Anunciado com grande alarde em 2011, o empreendimento prometia não apenas revolucionar a arquitetura e o urbanismo, mas também redefinir o status econômico e político da região.
A proposta era audaciosa: construir um arquipélago artificial com 55 ilhas, abrigar até 1 milhão de pessoas e erguer a maior torre do mundo, alcançando 1.000 metros de altura.
Porém, pouco mais de uma década depois, o sonho transformou-se em ruínas, afogado por uma crise econômica global, gestão ineficaz e dívidas bilionárias. Este é o retrato de como um projeto visionário naufragou em meio a promessas irrealistas e um mercado imobiliário inflado.
O conceito das Ilhas Khazar foi lançado por Ibrahim Ibrahimov, um magnata do setor imobiliário e fundador da Avesta Concern, empresa responsável pelo projeto. Inspirado em obras icônicas como as Ilhas Palm, em Dubai, Ibrahimov pretendia construir uma metrópole de luxo no meio do Mar Cáspio.
A cidade planejada incluía residências de alto padrão, shoppings gigantescos, parques temáticos, um autódromo de Fórmula 1 e, como coroamento, a Torre do Azerbaijão, que superaria o Burj Khalifa, em Dubai, como a estrutura mais alta do mundo. A localização, próxima à capital Baku, foi escolhida estrategicamente para atrair investidores e turistas internacionais.
Com um custo estimado em 100 bilhões de dólares, o projeto parecia à primeira vista inatingível, mas recebeu amplo apoio inicial, graças ao entusiasmo de investidores locais e estrangeiros. O Azerbaijão, rico em petróleo, estava em um momento de crescimento econômico acelerado, o que incentivou a visão de que o país poderia se tornar um polo global de inovação.
Embora grandioso no papel, o projeto começou a enfrentar desafios logo nos primeiros anos. A crise econômica de 2014, desencadeada pela queda dos preços do petróleo, afetou drasticamente a economia do Azerbaijão, que depende fortemente da exportação de hidrocarbonetos. Os investimentos que sustentavam o ambicioso plano começaram a secar, enquanto as dívidas da Avesta Concern aumentavam de forma alarmante.
Além disso, críticas começaram a surgir quanto à viabilidade técnica e ambiental do projeto. Especialistas apontaram que o Mar Cáspio, uma das maiores bacias de água do mundo, enfrenta desafios ambientais significativos, como flutuações no nível das águas e ecossistemas vulneráveis. Construir um arquipélago artificial em tais condições geraria impactos incalculáveis, tanto para a vida marinha quanto para as comunidades costeiras.
A má gestão financeira também desempenhou um papel crucial no colapso. Documentos divulgados em processos judiciais indicam que a Avesta Concern acumulou dívidas superiores a 2 bilhões de dólares, resultando na paralisação de todas as obras. Investidores retiraram seu apoio, e os bancos locais deixaram de financiar o projeto.
O estado atual das Ilhas Khazar é um reflexo de sonhos não realizados. Os locais planejados para as construções permanecem abandonados, com estruturas inacabadas e resíduos espalhados. Os trabalhadores que participaram da fase inicial das obras enfrentaram dificuldades para receber seus pagamentos, enquanto o governo azeri parece relutante em intervir para salvar o projeto.
Mais do que um fracasso arquitetônico, as Ilhas Khazar se tornaram um símbolo de excessos e prioridades mal colocadas. Para muitos, o caso reflete a falha em equilibrar ambição com realidade, sobretudo em economias dependentes de recursos naturais voláteis.
Um dos aspectos mais emblemáticos do projeto era a Torre do Azerbaijão, projetada para ser a maior construção já feita pelo homem. A torre, que teria mais de 200 andares, simbolizava o desejo do país de se destacar globalmente. Porém, à medida que os custos disparavam e os investidores recuavam, ficou evidente que a construção jamais seria concluída.
O fracasso da Torre do Azerbaijão também lançou luz sobre a competição acirrada entre nações para construir os edifícios mais altos do mundo. Especialistas argumentam que, em muitos casos, essa busca por recordes acaba negligenciando a funcionalidade e os custos sociais associados a tais empreendimentos.
O colapso das Ilhas Khazar deixou uma marca significativa na reputação do Azerbaijão como destino para grandes investimentos. Muitos analistas sugerem que o projeto deveria ter sido executado em etapas menores, o que permitiria ajustes conforme os desafios surgissem.
Apesar disso, o fracasso também trouxe lições importantes para o país e a região. Hoje, há um foco maior em projetos sustentáveis e na diversificação da economia, para reduzir a dependência do petróleo. O governo azeri tem investido em infraestrutura mais acessível e iniciativas que buscam equilibrar desenvolvimento econômico com preservação ambiental.