Em uma descoberta que desafia nossa compreensão da história dos livros, pesquisadores acreditam ter encontrado o fragmento de um dos primeiros livros do mundo. Este pedaço de papiro, medindo 10 por 6 polegadas, não é apenas um artefato antigo; é um testemunho das diversas vidas que um objeto pode levar ao longo dos séculos.
A jornada deste fragmento desde um documento de registro de impostos até um embrulho para múmia no Egito Antigo ilustra não apenas a multifuncionalidade dos materiais escritos na antiguidade, mas também fornece insights valiosos sobre as práticas de encadernação muito antes do que se pensava.
O caminho de um fragmento de papiro
Descoberto no local de El Hibeh em 1902, junto com centenas de outros fragmentos, este pedaço de papiro começou sua jornada como um documento encadernado. Datado de 260 a.C., registrava taxas de impostos para cerveja e óleo, escritas em letras gregas com tinta preta. Com o tempo, este documento foi transformado: primeiramente reutilizado como carta e, posteriormente, pintado com imagens religiosas antes de servir como embrulho para uma múmia durante o período ptolomaico.
A análise meticulosa do fragmento por uma equipe liderada pela conservadora Theresa Zammit Lupi, da Universidade de Graz, revelou detalhes sobre sua confecção. Uma simples folha de papiro foi dobrada, escrita e transformada em livreto, com os bifólios fixados por meio de tachas. Essa técnica sugere uma sofisticação na produção de livros muito antes do que os registros históricos previamente indicavam.
Revisando a história dos livros
A descoberta desse fragmento de papiro empurra as origens da encadernação de livros séculos para trás, desafiando a noção de que o livro mais antigo conhecido datava do século I ou II d.C. Os buracos para tachas e a transferência simétrica de tinta evidenciam um método de encadernação que prenuncia as técnicas modernas.
Este livro antigo não apenas revela práticas de encadernação desconhecidas até então, mas também oferece uma janela para a vida cotidiana e as transações no Egito Antigo. A maneira como as informações eram transmitidas, registradas e reutilizadas fala volumes sobre a economia, a religião e a cultura da época.
A história do fragmento de papiro de El Hibeh não é apenas a história de um objeto, mas a história da própria escrita e da transmissão de conhecimento. Este pedaço de papiro, passando de um documento fiscal a um objeto religioso e finalmente a um material de embalagem, ilustra a longevidade e a versatilidade dos materiais escritos na antiguidade. Mais importante, a descoberta desse fragmento redefine nosso entendimento sobre a evolução dos livros, demonstrando que a prática de encadernação tem raízes muito mais profundas na história humana do que se acreditava anteriormente.
Em última análise, nos lembra de como objetos aparentemente simples podem conter camadas profundas de significado e história, aguardando serem desvendadas pela pesquisa e pela curiosidade humana.