A escavação arqueológica em Kerouarn, no noroeste da França, trouxe à luz um dos mais significativos tesouros da Idade do Bronze Médio do Atlântico: 89 pulseiras de ligas à base de cobre e outros ornamentos, totalizando 15kg. Este sítio, caracterizado por uma estrutura semicircular enigmática e ausência de vestígios domésticos ou funerários, sugere um passado complexo, potencialmente marcado por práticas rituais e socioeconômicas.
Em uma área de 225m², arqueólogos encontraram uma concentração sem precedentes de ornamentos da Idade do Bronze, composta exclusivamente por pulseiras de ligas à base de cobre. Estes artefatos, datados através de análise cerâmica e radiocarbono como contemporâneos das valas semicirculares descobertas no local, representam a maior coleção e massa de ornamentos deste período já encontrada na região.
As pulseiras, variando em design mas unidas por um trabalho geométrico finamente detalhado, demonstram a habilidade extraordinária dos artesãos da época. A maioria exibe um formato fechado, com extremidades ocultas por bojos – uma raridade no registro arqueológico. Uma pulseira particular, pesando 600g, destaca-se como o exemplo mais complexo, enquanto outras apresentam sistemas de travamento sofisticados, indicando um elevado nível de inovação e refinamento.
A particularidade do sítio de Kerouarn reside não apenas nos tesouros encontrados, mas também na sua configuração arquitetônica. A falta de estruturas construídas na área semicircular aponta para um propósito além do doméstico ou funerário, sugerindo que o local possa ter sido um centro para reuniões com significados rituais, religiosos ou socioeconômicos.
Os ornamentos podem ter sido tanto o motivo quanto o resultado dessas reuniões, indicando uma prática de entesouramento com significado cultural e espiritual profundo. A análise detalhada revela que todas as pulseiras foram criadas usando a técnica de fundição por cera perdida, evidenciando uma tradição artesanal de longa data na produção de metal.
A descoberta levanta questões sobre a função dessas pulseiras. Enquanto sua beleza e artesanato sugerem um uso ornamental, a presença de artefatos inacabados e a ausência de vestígios relacionados à sua fabricação levantam a possibilidade de terem servido como uma forma de moeda pré-monetária ou como oferendas em práticas rituais.
Kerouarn não é um caso isolado na Bretanha; vários outros sítios com tesouros semelhantes datam do Bronze Final à Idade do Ferro inicial. Essas descobertas destacam a região como um centro significativo de produção e comércio de metal durante a Idade do Bronze Atlântica, com Kerouarn representando um elo vital nessa rede complexa.
A escavação em Kerouarn oferece uma janela fascinante para o passado, revelando não apenas a habilidade artesanal dos povos da Idade do Bronze Médio, mas também sugerindo práticas culturais e econômicas complexas. À medida que a análise dos dados continua, espera-se que mais luz seja lançada sobre o significado desses tesouros, as técnicas de fundição por cera perdida utilizadas, e o papel de Kerouarn nas redes de comércio da época.