As queimadas no Brasil se intensificam durante o período seco, com a fumaça se tornando uma marca visível e preocupante no horizonte de diversas regiões. Embora as queimadas sejam mais associadas ao Norte e Centro-Oeste, a fumaça gerada por elas está se espalhando por todo o território brasileiro e até para países vizinhos.
Nas últimas semanas, satélites registraram uma extensa nuvem de fumaça que cobriu grande parte do país, incluindo estados do Sul, como Santa Catarina. Este fenômeno não só afeta a visibilidade, mas também tem um impacto direto na qualidade do ar, trazendo riscos à saúde e consequências climáticas.
Figura 1 – Imagem de satélite com a composição de diversos canais (vapor d’água, visível e infravermelho), indicando a presença de fumaça em parte da América do Sul (Fonte: ventusky.com).
O Brasil enfrenta, historicamente, uma combinação de queimadas naturais e provocadas que afetam vastas áreas de vegetação. Em 2023, a situação se agravou com um aumento significativo nas queimadas em regiões como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal. As condições climáticas adversas, como o calor extremo e a baixa umidade do ar, criam um ambiente propício para a propagação do fogo.
A fumaça das queimadas se espalha pelo ar e é transportada por ventos de direção norte. Com isso, mesmo regiões distantes das queimadas, como o Sul do Brasil, sentem seus efeitos. Estados como Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul passaram a experimentar a chegada dessas nuvens de fumaça, que não só obscurecem o céu, mas também afetam diretamente a qualidade de vida da população.
Um dos principais fatores para o transporte de fumaça para regiões distantes das queimadas é a circulação de ventos. Em 2023, ventos de direção norte têm contribuído de forma significativa para a propagação da fumaça em direção ao Sul do Brasil. Além disso, a presença de uma massa de ar quente e seco sobre grande parte do país agrava a situação. A falta de umidade no ar impede que a fumaça seja dissipada, concentrando ainda mais os poluentes na atmosfera.
A fumaça não respeita fronteiras e, além de atingir o Sul do Brasil, também afeta países vizinhos como Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina. Nesses locais, a situação é igualmente alarmante, com a qualidade do ar se deteriorando em áreas urbanas e rurais.
A densa camada de fumaça que cobre partes do Brasil tem gerado cenários impressionantes, como o céu tingido de tons laranja e vermelho durante o nascer e o pôr do sol. No entanto, os efeitos estéticos vêm acompanhados de riscos graves para a saúde. A qualidade do ar em várias regiões do Brasil já foi considerada crítica, especialmente em áreas industriais e carboníferas, onde a poluição do ar é naturalmente alta.
Figura 2 – Imagem de satélite com a composição de diversos canais (vapor d’água, visível e infravermelho), indicando a presença de nevoeiros na costa de SC (Fonte: ventusky.com).
A exposição prolongada à fumaça pode causar uma série de problemas respiratórios, afetando principalmente crianças, idosos e pessoas com condições preexistentes, como asma e bronquite. Os sintomas mais comuns incluem ardência nos olhos, garganta seca, dificuldade para respirar e até crises de tosse e chiado no peito.
Além dos problemas respiratórios, a fumaça também pode agravar doenças cardiovasculares e aumentar o risco de infecções respiratórias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a poluição do ar, especialmente em regiões com alta concentração de partículas finas, é uma das principais causas de morte prematura no mundo.
Em Santa Catarina, além da fumaça oriunda das queimadas, a população do litoral também enfrenta outra dificuldade: os nevoeiros marítimos. Esses nevoeiros, causados pela atuação de uma massa de ar mais quente sobre o oceano, reduzem significativamente a visibilidade em algumas áreas costeiras, complicando a navegação e o trânsito.
O fenômeno do nevoeiro marítimo é comum em regiões litorâneas, especialmente durante períodos de transição climática. No entanto, em 2023, a combinação de nevoeiros com a fumaça das queimadas criou uma situação ainda mais crítica. A visibilidade reduzida, tanto no ar quanto no mar, pode aumentar o risco de acidentes, tanto em estradas quanto em rotas marítimas.
Diante da situação alarmante, meteorologistas apontam que uma mudança nos padrões de ventos ou a chegada de chuvas mais intensas pode ajudar a inibir o transporte de fumaça para o Sul do Brasil. Uma nova frente fria está prevista para chegar a Santa Catarina na próxima sexta-feira, 13 de setembro, trazendo consigo a possibilidade de chuvas que podem dissipar a fumaça da atmosfera.
No entanto, a frente fria também pode trazer novos desafios. Embora as chuvas possam melhorar temporariamente a qualidade do ar, elas também podem causar deslizamentos e inundações em áreas vulneráveis, especialmente aquelas que sofreram com a seca e o calor extremos nas últimas semanas.
Além dos problemas imediatos para a saúde e a qualidade do ar, as queimadas no Brasil têm efeitos de longo prazo no clima e no meio ambiente. As queimadas contribuem para o aumento da emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono, que intensificam o aquecimento global. A destruição de grandes áreas de floresta reduz a capacidade de captura de carbono da vegetação, agravando ainda mais o problema.
O desmatamento e as queimadas também afetam a biodiversidade, destruindo habitats de inúmeras espécies e colocando em risco a fauna e a flora de regiões como a Amazônia e o Cerrado. As consequências das queimadas podem ser sentidas por anos, com impactos diretos na capacidade de regeneração dos ecossistemas e no equilíbrio climático do Brasil e do mundo.