Há um Brasil que não se aprende apenas nos livros de história — um Brasil que vive nas noites de lua cheia, nos sussurros das matas, nas rodas de contação de causos ao redor do fogão a lenha. Um país onde o invisível habita o cotidiano, onde os rios têm sereias, as florestas têm guardiões, e o vento pode carregar travessuras. Esse Brasil encantado é o território do folclore, um conjunto de lendas, mitos, personagens, festas e tradições orais que atravessam gerações, moldando a identidade cultural de norte a sul.
O folclore brasileiro é tão vasto quanto sua geografia e tão diverso quanto seu povo. Nascido da fusão entre as heranças indígenas, africanas e europeias, ele resiste ao tempo como um saber popular que fala de medos, esperanças, valores e desafios. Não se trata apenas de figuras fantásticas ou histórias para crianças — trata-se de um patrimônio vivo, que traduz a relação do brasileiro com a natureza, o sobrenatural e o outro. Neste artigo, vamos revisitar algumas das figuras mais emblemáticas do folclore brasileiro, refletindo sobre sua origem, significado e permanência. Porque, em tempos de modernidade acelerada, lembrar dessas narrativas é, mais do que nunca, um gesto de preservação e pertencimento.
Saci-Pererê: o menino de uma perna só que virou símbolo nacional
Entre os personagens mais conhecidos do folclore brasileiro, o Saci-Pererê ocupa lugar de destaque. Com uma só perna, gorro vermelho, cachimbo na boca e um espírito irrequieto, ele representa o arquétipo da malandragem brasileira. Segundo a tradição, o Saci é capaz de aparecer e desaparecer em redemoinhos de vento, e adora pregar peças: esconder objetos, atrapalhar o trabalho dos outros, assustar animais ou trocar o sal pelo açúcar.
Sua origem remonta à cultura indígena tupi-guarani, onde existia um ser protetor da floresta. Mas foi com a chegada dos africanos escravizados e os contadores de causos nas fazendas do interior que o Saci ganhou seu chapéu mágico e sua fama nacional. Monteiro Lobato foi responsável por sua popularização literária, transformando-o em figura central nas aventuras do Sítio do Picapau Amarelo.
O Saci não é só uma lenda — ele é símbolo de resistência cultural. Travesso, mas não maligno, ele traduz a capacidade de rir diante das dificuldades e de subverter o controle com criatividade. Em 31 de outubro, em contraponto ao Halloween importado, o Brasil celebra o Dia do Saci, em defesa da valorização do folclore nacional.
Iara: a sereia dos rios que canta e enfeitiça
Se o mar tem suas sereias, os rios brasileiros têm a Iara — uma das figuras mais encantadoras e perigosas do folclore. De acordo com a lenda, Iara é uma belíssima mulher de longos cabelos negros e olhos hipnotizantes, que vive nas águas doces e atrai homens com seu canto suave. Aqueles que a seguem, fascinados, nunca mais retornam.

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A origem da Iara é indígena, mas foi sendo adaptada ao longo dos séculos com elementos do romantismo europeu. Em algumas versões, ela é uma entidade vingativa; em outras, uma vítima do machismo, condenada à solidão após ser injustamente punida. O que permanece em todas é a força simbólica de seu poder sobre o desejo e o medo da natureza.
A Iara representa o mistério das águas interiores, o perigo que seduz, a fronteira entre o humano e o incontrolável. Sua lenda ecoa especialmente nas regiões amazônicas, onde o imaginário dos rios continua sendo uma parte viva da vida cotidiana.
Curupira: o guardião da floresta com pés ao contrário
Diferente de outras figuras que brincam com o imaginário do medo, o Curupira tem uma função bem definida: proteger a floresta dos abusos humanos. Pequeno, de cabelos flamejantes e com os pés virados para trás, ele é um dos mais antigos personagens do folclore indígena. Seu andar invertido confunde caçadores, e seus assobios ensurdecedores deixam qualquer invasor desorientado.
O Curupira é um símbolo da natureza viva, consciente e ativa na defesa de seus próprios limites. Em tempos de desmatamento e degradação ambiental, sua figura adquire nova relevância — como representação da força moral da floresta contra a ganância. Para muitos caboclos da Amazônia, ele ainda é respeitado como uma entidade real, e não apenas como lenda.

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Alguns relatos modernos falam de aparições em trilhas de mata fechada, ou de situações inexplicáveis atribuídas ao Curupira. Seja mito ou guardião espiritual, ele mantém viva uma mensagem: a natureza observa, e tem seus próprios defensores.
Boitatá: o fogo que vigia e pune os profanadores da natureza
O Boitatá é uma serpente de fogo, de olhos brilhantes, que protege as matas e os campos contra aqueles que os queimam ou destroem. Seu nome vem do tupi mboi-tata, que significa “cobra de fogo”. Com origem em relatos indígenas, o Boitatá foi incorporado à tradição oral do sul do Brasil, onde sua lenda ganhou força entre os gaúchos e tropeiros.
Dizem que ele aparece em noites escuras como uma luz serpenteante, que queima tudo o que toca — especialmente os olhos de quem tenta enfrentá-lo. Curiosamente, algumas interpretações modernas associam o Boitatá ao fenômeno conhecido como “fogo-fátuo”, uma combustão espontânea que ocorre em pântanos.
Mais do que uma figura assustadora, o Boitatá é também um símbolo da justiça cósmica — uma energia ancestral que protege os ciclos da natureza. Sua lenda ensina que quem desrespeita os limites da terra corre o risco de encontrar algo maior do que pode compreender.

Cuca, Mula-sem-Cabeça e outras figuras do medo infantil
O folclore brasileiro também abriga criaturas que povoam o universo do medo infantil — mas que, por trás de sua aparência aterrorizante, guardam valores sociais e morais transmitidos oralmente. A Cuca, por exemplo, é uma bruxa com aparência reptiliana que aparece para castigar crianças desobedientes. Sua canção de ninar — “a Cuca vem pegar” — já assustou gerações.
A Mula-sem-Cabeça, por sua vez, é uma mulher amaldiçoada que, segundo a tradição, foi condenada por manter relações com um padre. Todas as noites, transforma-se em um animal flamejante que galopa soltando fogo pelas narinas. A lenda, que percorre todo o interior do Brasil, tem raízes na moral católica colonial e carrega, sob sua fantasia grotesca, uma crítica à repressão feminina.
Essas figuras funcionam como instrumentos de socialização: não apenas assustam, mas também ensinam. Apontam o que é permitido, o que é perigoso, e o que acontece quando se ultrapassa certos limites. São, ao mesmo tempo, espelhos e advertências.
O folclore hoje: das rodas de contação às redes sociais
Em pleno século XXI, o folclore brasileiro continua vivo — mas sob novas formas. Nas escolas, ele é celebrado em agosto, no chamado Mês do Folclore, com apresentações, danças, jogos e contação de histórias. Nas redes sociais, figuras como o Saci e o Curupira ganham memes, animações e até jogos virtuais. O cinema nacional já explorou esses personagens com diferentes linguagens, e a literatura infantojuvenil segue reinventando suas histórias com um olhar contemporâneo.
No entanto, há também o desafio da preservação. O avanço da cultura de massa globalizada e o distanciamento dos jovens das tradições orais locais colocam em risco parte desse patrimônio. Por isso, iniciativas de valorização do folclore — em museus, feiras culturais, livros e plataformas digitais — são fundamentais. Contar essas histórias, adaptá-las e mantê-las circulando é uma forma de manter viva a alma do Brasil.
O Brasil que vive entre o visível e o encantado
O folclore brasileiro é mais do que um conjunto de personagens curiosos — é o retrato de um país múltiplo, onde o racional convive com o mágico e o cotidiano é atravessado pelo sagrado. São narrativas que nascem do chão, da mata, do rio e do medo; que atravessam séculos e ainda hoje ressoam nas palavras de avós, nos sorrisos das crianças, nos olhares atentos diante de um redemoinho.
Cuidar do folclore é cuidar da nossa identidade mais profunda. É lembrar que antes do progresso, houve sabedoria. Antes do concreto, havia encantamento. E que em algum lugar, ainda hoje, o Saci pode estar rindo, a Iara cantando, e o Curupira marcando sua trilha. Porque o Brasil, no fundo, é feito disso: memória, magia e muita imaginação.
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