O enigma das ilhas Tonga e o mistério do megalítico Ha’amonga ‘a Maui

Espalhadas por mais de 700.000 quilômetros quadrados no sul do Oceano Pacífico, as ilhas Tonga guardam um dos maiores enigmas arqueológicos do Pacífico: o Ha’amonga ‘a Maui, um trilito megalítico com origem incerta e funções ainda mais misteriosas. Localizado em Tongatapu, uma das 176 ilhas do arquipélago, o monumento desafia pesquisadores e intriga visitantes com sua grandiosidade e possível simbolismo astronômico.

O reino de Tonga e os primeiros colonos

O reino de Tonga, um estado soberano polinésio, é composto por quase duzentas ilhas, das quais apenas cerca de um quarto são habitadas. Acredita-se que a ocupação humana em Tonga remonta a cerca de 1500 a.C., com o povo Lapita sendo os primeiros a habitar a região. Os Lapitas eram conhecidos por suas habilidades avançadas de navegação, permitindo que colonizassem ilhas remotas no Pacífico, desde o Havaí até a Ilha de Páscoa.

A antiga capital de Tonga, Mu’a, localizada em Tongatapu, foi um importante centro político e cultural. Curiosamente, o nome Mu’a evoca associações com o mítico continente perdido de Mu, muitas vezes comparado à Atlântida. Embora tal conexão permaneça no campo da especulação, a cidade reflete o passado vibrante e culturalmente rico do reino.

Ha’amonga ‘a Maui: o bastão dos semideuses

O Ha’amonga ‘a Maui, construído por volta de 1200 d.C., é um exemplo impressionante de engenharia megalítica. Composto por três pedras de calcário coral, o trilito atinge 5,2 metros de altura e pesa entre 30 e 40 toneladas. De acordo com a tradição local, o monumento foi erguido pelo rei Tu’itātui como um símbolo da união de seus filhos, mas também há quem diga que sua construção foi obra dos semideuses Maui.

Esses semideuses, figuras lendárias presentes no folclore de várias ilhas do Pacífico, são conhecidos por seus feitos extraordinários. Segundo as lendas, os Maui transportaram as pedras gigantes em uma canoa mágica, demonstrando força sobre-humana. Havaí, Taiti, Nova Zelândia e Tonga compartilham histórias sobre os irmãos Maui, destacando sua conexão com a humanidade e seu desejo de buscar a imortalidade para os homens.

Significado astronômico e alinhamento solar

Em 1967, o rei de Tonga, Taufa’ahau Tupou IV, propôs que o Ha’amonga ‘a Maui poderia ter uma função astronômica. Entalhes na pedra superior indicam os solstícios e equinócios, sugerindo que o monumento servia como marcador celestial. Essa característica seria crucial para navegadores e agricultores da época, orientando atividades como plantio, colheita e navegação.

Embora a teoria astronômica seja amplamente aceita entre os tonganeses, faltam evidências arqueológicas conclusivas para corroborar essa hipótese. No entanto, a precisão do alinhamento solar reforça a ideia de que os construtores do Ha’amonga ‘a Maui possuíam vasto conhecimento sobre os movimentos celestiais.

Conexões globais e semelhanças com outros trilitos

O Ha’amonga ‘a Maui não é o único trilito conhecido no mundo. Estruturas semelhantes, como as de Stonehenge, na Inglaterra, e os trilitos de Malta, levantam questões sobre possíveis conexões culturais ou coincidências entre civilizações antigas. A semelhança arquitetônica sugere que esses monumentos podem ter sido construídos por razões similares, como fins cerimoniais ou astronômicos.

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Alguns arqueólogos argumentam que o Ha’amonga ‘a Maui poderia ser muito mais antigo do que se acredita, possivelmente datando de antes de 1200 d.C. Essa teoria baseia-se em sua semelhança com trilitos pré-históricos encontrados em outras partes do mundo, mas carece de datação precisa para confirmação.

Lendas de Mu e a cidade de Mu’a

A antiga cidade de Mu’a, a capital de Tonga antes da chegada dos europeus, adiciona uma camada de mistério à história do arquipélago. Alguns teóricos associam Mu’a ao continente perdido de Mu, uma terra lendária que supostamente afundou no Oceano Pacífico. Embora tal conexão seja amplamente desacreditada pela arqueologia convencional, as lendas alimentam especulações sobre uma civilização avançada que poderia ter habitado a região.

Reconhecimento internacional e desafios de preservação

O Parque Histórico Ha’amonga ‘a Maui foi submetido à Lista Provisória de Patrimônio Mundial da UNESCO em 2007, destacando sua importância cultural e histórica. No entanto, o monumento enfrenta desafios de preservação devido ao clima tropical e à falta de recursos dedicados à manutenção. A crescente conscientização sobre seu valor pode ajudar a garantir sua conservação para futuras gerações.

O legado do Ha’amonga ‘a Maui

O Ha’amonga ‘a Maui é mais do que uma estrutura de pedra; é um testemunho das habilidades de navegação, da engenharia e das crenças espirituais do povo de Tonga. Seja como marcador astronômico, portal cerimonial ou símbolo de união, o trilito continua a inspirar curiosidade e admiração. Ele representa um capítulo fascinante da história do Pacífico, lembrando-nos de que ainda há muito a descobrir sobre as civilizações que moldaram o mundo.