A região de Nazca, no Peru, conhecida por suas impressionantes e enigmáticas linhas desenhadas no solo, acaba de ganhar um novo capítulo em sua história. Graças a uma colaboração entre a Universidade de Yamagata, no Japão, e o Ministério da Cultura do Peru, arqueólogos identificaram 303 novos geoglifos utilizando a combinação de drones e inteligência artificial (IA).
Essas figuras, criadas ao manipular pedras na superfície do deserto, são diferentes das Linhas de Nazca mundialmente famosas e revelam segredos sobre as práticas e crenças das antigas civilizações que habitaram a região há mais de mil anos.
Esses novos geoglifos, que incluem representações de humanos, animais e formas geométricas, são menores e estão localizados ao longo de antigos caminhos, indicando um possível uso funcional ou ritualístico.
A descoberta, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), demonstra como a tecnologia pode revolucionar a forma como a arqueologia explora e interpreta o passado. A aplicação de IA, desenvolvida em parceria com a IBM Research, possibilitou identificar figuras praticamente invisíveis a olho nu e até mesmo aos métodos tradicionais de mapeamento.
Tecnologia e arqueologia: a revolução no estudo das Linhas de Nazca
O uso de tecnologias avançadas como a IA e os drones está transformando a maneira como os pesquisadores desvendam os mistérios arqueológicos. No caso dos novos geoglifos de Nazca, a aplicação dessas ferramentas não apenas aumentou significativamente o número de figuras conhecidas, mas também permitiu que os pesquisadores estudassem em detalhes os padrões e a distribuição das figuras no terreno.
A IA desenvolvida pela equipe da Universidade de Yamagata, em colaboração com a IBM Research, mostrou-se particularmente eficaz na detecção de geoglifos menores e mais complexos, que são difíceis de identificar devido ao desgaste natural e às características do relevo local.
Mesmo com poucos exemplos para treinar os algoritmos, a tecnologia conseguiu distinguir figuras que, de outra forma, passariam despercebidas. A descoberta de novos geoglifos, composta por um conjunto variado de símbolos e formas, sugere uma evolução estilística e cultural das antigas civilizações que viveram na região.
Geoglifos que contam a história de civilizações antigas
Ao contrário das Linhas de Nazca mais conhecidas, que apresentam grandes figuras visíveis apenas do alto, os novos geoglifos são menores e posicionados em locais estratégicos. As análises preliminares indicam que essas figuras podem estar associadas a atividades cotidianas, como marcação de rotas de viagem ou representação de grupos sociais.
Há ainda quem acredite que esses geoglifos foram criados como oferendas para divindades ou mesmo como calendários astronômicos, utilizados para acompanhar as estações e fenômenos celestes.
Além disso, a localização das figuras próximas a antigos caminhos sugere que elas tinham um papel de orientação para os viajantes que atravessavam o deserto. Essa descoberta ajuda a entender melhor como os povos da região interagiam com o ambiente e como organizavam seu território.
As teorias sobre o propósito dos geoglifos incluem também a possibilidade de que fossem utilizados em pequenos rituais, talvez ligados à fertilidade ou à proteção das rotas de comércio.
A importância cultural e arqueológica dos geoglifos de Nazca
As figuras recém-descobertas fornecem uma nova perspectiva sobre a vida nas civilizações pré-colombianas que habitaram a região de Nazca. Conhecidos por suas habilidades em criar formas geométricas e desenhos gigantescos no solo, esses povos demonstravam um conhecimento profundo de matemática, astronomia e engenharia.
A criação dos geoglifos exigia planejamento meticuloso e cooperação entre diversos grupos, o que revela uma sociedade complexa e organizada.
Com essas novas descobertas, os pesquisadores esperam aprofundar os estudos sobre as técnicas utilizadas na construção dos geoglifos, que variam desde a simples remoção de pedras para expor o solo mais claro abaixo, até a disposição estratégica de grandes quantidades de material rochoso para criar contrastes e formas. Essa diversidade de métodos sugere diferentes fases de ocupação e uso das figuras ao longo dos séculos.
Por que os geoglifos são importantes para entender o passado?
Os geoglifos não são apenas obras de arte no deserto; eles desempenham um papel crucial no entendimento da relação entre os povos antigos e o ambiente. Os estudiosos acreditam que as linhas e figuras de Nazca possuíam significados simbólicos e espirituais, além de serem ferramentas para medir o tempo e o espaço.
Esses símbolos desenhados no solo contavam histórias e mitos, celebravam rituais e serviam como forma de comunicação entre os habitantes da região.
A descoberta dos novos geoglifos abre a possibilidade de novas interpretações sobre as interações sociais e culturais dos antigos habitantes de Nazca. As figuras antropomórficas, por exemplo, podem representar membros importantes da comunidade ou deidades veneradas. Já as formas geométricas podem ter sido utilizadas para demarcar territórios ou indicar pontos de referência importantes.
Os desafios e a preservação dos geoglifos
Com o aumento do número de geoglifos conhecidos, surge também a preocupação com sua preservação. A região de Nazca é vulnerável a mudanças climáticas e à ação humana, o que coloca em risco a integridade dessas figuras históricas. As atividades de mineração e a expansão agrícola nas proximidades também representam ameaças à conservação dos geoglifos.
Por isso, iniciativas como a parceria entre a Universidade de Yamagata e o Ministério da Cultura do Peru são fundamentais para garantir a proteção e o estudo contínuo desses monumentos. A aplicação de drones e tecnologias de mapeamento digital possibilita a documentação precisa dos geoglifos e a identificação de áreas mais suscetíveis a danos.