Novos artefatos são resgatados no navio submerso mais valioso do mundo

Em 1708, nas profundezas do Mar do Caribe, um dos mais grandiosos navios da frota espanhola, o galeão San José, encontrou seu trágico fim, levando consigo um dos maiores tesouros já registrados.

Este evento, ocorrido durante a Guerra da Sucessão Espanhola, marcou o início de uma saga que perdura por mais de três séculos, fascinando exploradores, historiadores e caçadores de tesouros.

Com suas 62 armas de fogo e uma carga de ouro, prata e pedras preciosas avaliada em bilhões de dólares, o San José ganhou o apelido de “Santo Graal dos Naufrágios”.

Recentemente, o Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH) anunciou novas descobertas no local do naufrágio, trazendo à tona artefatos valiosos e expandindo significativamente o conhecimento sobre essa embarcação lendária.

Contudo, enquanto os arqueólogos continuam suas explorações, disputas legais sobre a posse desse fabuloso tesouro se intensificam. Este artigo examina a verdadeira história do San José, as recentes descobertas e as complexas disputas que cercam o destino de sua preciosa carga.

O San José não era apenas um navio mercante; era uma fortaleza flutuante, um símbolo do poderio naval espanhol durante a Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714). Esta guerra, que eclodiu após a morte do rei Carlos II da Espanha, sem herdeiros, envolveu diversas potências europeias, todas disputando territórios e riquezas coloniais.

Nas águas do Caribe, essa luta assumiu a forma de uma feroz guerra naval, onde os britânicos buscavam interromper o fluxo de riquezas das colônias espanholas para a Europa.

O San José fazia parte de uma frota que transportava imensas quantidades de metais preciosos e pedras preciosas extraídas das Américas, destinadas a financiar os esforços de guerra da Espanha.

Em uma fatídica noite de 8 de junho de 1708, o navio foi atacado por forças britânicas perto da costa de Cartagena, na Colômbia. Após uma intensa batalha, o San José explodiu e afundou, levando consigo seu valioso tesouro e a maior parte de sua tripulação.

Por séculos, o San José permaneceu no fundo do mar, seu paradeiro desconhecido. O interesse em localizar o naufrágio começou a crescer no final do século XX, à medida que a tecnologia de exploração subaquática avançava. Diversos caçadores de tesouros e equipes de exploração tentaram localizar o navio, atraídos pela perspectiva de encontrar o imenso tesouro que ele carregava.

Finalmente, em 2015, a Marinha Colombiana, em colaboração com o Instituto Colombiano de Antropologia e História, anunciou a descoberta do San José.

O então presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, fez o anúncio oficial, celebrando a descoberta como um triunfo para o patrimônio cultural do país. A localização exata do naufrágio foi mantida em segredo por razões de segurança, mas a confirmação de sua existência foi um marco na arqueologia subaquática.

As recentes explorações realizadas pelo ICANH, com o apoio de câmeras de alta resolução e robôs submersíveis, revelaram novos detalhes sobre o San José e seu conteúdo. Embora a busca pelas moedas de ouro e prata e pelas pedras preciosas tenha dominado os esforços iniciais, as últimas expedições focaram em artefatos de grande valor arqueológico.

Entre os itens descobertos estão peças de madeira que faziam parte do casco do navio, fragmentos de âncoras, pregos, garrafas, potes de cerâmica e vidro, além de outros objetos do cotidiano que foram preservados pelo ambiente marinho.

Esses artefatos, embora não tenham o valor monetário dos tesouros, são inestimáveis do ponto de vista histórico, pois oferecem uma visão detalhada da vida a bordo do San José e das práticas navais da época.

Alhena Caicedo, diretora do ICANH, destacou a importância dessas descobertas, afirmando que elas representam “um conjunto sem precedentes de evidências arqueológicas, que expandiram enormemente nosso conhecimento sobre a navegação e o comércio do século XVIII”.

Essas peças permitem aos pesquisadores reconstruir a história do San José, desde sua construção até seu trágico naufrágio, e oferecem insights sobre as técnicas de construção naval da época e as condições de vida dos marinheiros.

Embora as descobertas arqueológicas sejam celebradas, a questão da posse do tesouro do San José continua a gerar disputas acirradas. O consórcio Sea Search Armada (SSA), sediado nos Estados Unidos, reivindica a descoberta do naufrágio na década de 1980 e alega que o governo colombiano prometeu a eles metade do tesouro em troca das coordenadas do local.

No entanto, o governo colombiano sustenta que foi a Marinha do país que localizou oficialmente o San José e, portanto, todo o tesouro pertence ao Estado.

A disputa se complicou ainda mais com a entrada do governo espanhol, que reivindica os direitos sobre o tesouro com base no fato de que o San José era uma embarcação da Marinha espanhola. Além disso, o povo indígena Qhara Qhara, da Bolívia, afirma que parte do tesouro foi extraída de suas terras ancestrais e deveria ser devolvida a eles como reparação histórica.

Essas disputas são atualmente objeto de litígios nos tribunais internacionais, e o resultado final ainda é incerto. Enquanto isso, o governo colombiano, sob a liderança do presidente Gustavo Petro, prometeu continuar com os esforços de recuperação, com a intenção de trazer o San José à superfície antes do final de seu mandato em 2026.

Recuperar um naufrágio a 945 metros de profundidade apresenta desafios tecnológicos significativos. Devido à pressão extrema e às condições difíceis no fundo do mar, é impossível para mergulhadores humanos acessarem o local. Como resultado, a recuperação dos tesouros do San José depende do uso de tecnologias avançadas, como robôs submersíveis e equipamentos de elevação de alta precisão.

Esses desafios técnicos são um dos principais obstáculos para a recuperação do San José. No entanto, as autoridades colombianas estão determinadas a superar esses desafios, impulsionadas pelo valor cultural e econômico do tesouro.

Se o San José for recuperado com sucesso, ele não apenas enriquecerá o patrimônio histórico da Colômbia, mas também poderá se tornar uma das maiores operações de recuperação subaquática da história.

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