Encontrada necrópole de 3.000 anos que aponta como era a vida no Neolítico

A recente escavação arqueológica em um sítio histórico nos Hauts-de-France trouxe à tona uma série de descobertas fascinantes sobre a vida e a morte de comunidades que habitaram a região desde o Neolítico. Este local remonta a aproximadamente 3.000 anos a.C., revelando vestígios de práticas agrícolas, estruturas habitacionais e rituais funerários que contribuem para compreender as interações humanas e a evolução cultural ao longo de milênios.

As primeiras ocupações do sítio datam do período Neolítico, quando o relevo da área era caracterizado por montes e cumes que se destacavam mais de 1,50 metro acima da superfície atual. A topografia foi alterada gradualmente pelo cultivo da terra, uma prática que transformou a paisagem e expôs camadas de solo ricas em materiais arqueológicos. Nessas camadas, os pesquisadores encontraram fragmentos de cerâmica e artefatos de sílex, incluindo raspadores, machados e lâminas de adagas, evidenciando atividades cotidianas de subsistência e defesa.

Os elementos líticos desenterrados refletem padrões característicos do Neolítico Final, oferecendo pistas sobre os hábitos e habilidades tecnológicas desses habitantes primitivos. Além disso, uma infinidade de valas foi identificada, algumas delimitando áreas de habitação, enquanto outras parecem ter sido utilizadas para atividades agropastoris.

Avançando para a Segunda Idade do Ferro, o sítio mostra sinais de uma fazenda estruturada em paisagens da antiga Gália Belga. As marcas das construções, feitas de madeira e terra, estavam associadas a fossas ricas em restos domésticos, como cerâmica e ossos de animais. Lareiras, poços, postes e fossas de resíduos indicam uma organização agrícola que sustentava a vida diária. As descobertas reforçam a ideia de que essas áreas serviram como centros de produção agrícola, essenciais para a economia local.

Um dos achados mais marcantes foi a necrópole datada do século I d.C., que se estende por uma área de 130 metros quadrados. Cerca de trinta sepulturas de cremação foram identificadas, alinhadas com a prática funerária predominante nos primeiros séculos do domínio romano. Ossos cremados foram encontrados em baús ou urnas cinerárias, e algumas sepulturas continham múltiplos indivíduos, incluindo três crianças enterradas juntas. A hipótese de uma epidemia pode explicar essa concentração de mortes infantis.

O estudo dos túmulos revelou práticas funerárias complexas. Mais de 150 peças de cerâmica, muitas em perfeito estado, foram analisadas, destacando padrões de utilização que variavam conforme a idade e o status social do falecido. Entre os achados, estavam vasos mutilados, recipientes para bebidas e objetos associados a rituais libatórios, reforçando a conexão entre os vivos e os mortos.

A análise antropológica dos restos mortais forneceu uma visão mais detalhada sobre a composição demográfica e os hábitos funerários da comunidade. A necrópole, localizada na fronteira entre os territórios dos Nerviens e Atrebates, reflete uma mistura de influências culturais. As práticas observadas ilustram a interação entre as tradições locais e as influências romanas, enriquecendo o entendimento sobre as dinâmicas culturais na região.

Outro achado notável foi uma estrutura de aquecimento que evidencia a prática de reciclagem desde tempos antigos. Construída com fragmentos de mó e roda do Neolítico, a estrutura continha resíduos de combustão utilizados por ferreiros, como escórias e pellets de forja. Esse sistema híbrido demonstra a engenhosidade dos habitantes em reutilizar materiais e integrar elementos de diferentes períodos históricos.

Os estudos pós-escavação continuam a lançar luz sobre a história do sítio. Análises de cerâmica estão ajudando a determinar as datas de criação e abandono da fazenda galo-romana, enquanto testes de carbono-14 prometem datar estruturas específicas com maior precisão. O trabalho contínuo dos arqueólogos não apenas amplia o conhecimento sobre o passado da região, mas também inspira reflexões sobre as conexões entre diferentes eras históricas.

As descobertas no sítio dos Hauts-de-France são uma janela para o passado, revelando detalhes impressionantes sobre a vida cotidiana, os costumes funerários e as habilidades tecnológicas de civilizações antigas. Este mosaico de informações resgata a memória de comunidades que moldaram a paisagem cultural da Europa e proporciona uma compreensão mais rica sobre a evolução da humanidade.

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Fonte: Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica Preventiva da França (INRAP)