Mergulhadores encontram naufrágio que pode ter sido a última expedição de Vasco da Gama

Um naufrágio descoberto na costa do Quênia está atraindo os holofotes da comunidade arqueológica global. Localizado próximo a Malindi, acredita-se que os destroços possam pertencer ao São Jorge, um dos navios da última expedição de Vasco da Gama, que culminou em sua morte em 1524.

A investigação em curso não apenas promete desvendar mais sobre o destino do icônico explorador português, mas também sobre as rotas comerciais que conectavam o Ocidente ao Oriente durante o século XVI.

Um mistério submerso no tempo

Os restos do naufrágio foram descobertos em 2013, mas só recentemente começaram a ser investigados de forma sistemática. A embarcação está localizada a cerca de 500 metros da costa, submersa em águas rasas, a seis metros de profundidade. Encoberto por corais e parcialmente preservado, o local começou a revelar seus segredos quando arqueólogos desenterraram fragmentos do casco e outros materiais da embarcação.

Filipe Castro, especialista em arqueologia marítima da Universidade de Coimbra, lidera os esforços para identificar o navio. Em suas análises preliminares, ele sugere que o naufrágio pode, de fato, ser o São Jorge, um dos navios que integraram a armada de Vasco da Gama em sua última jornada ao subcontinente indiano. Contudo, Castro reconhece que ainda há muitas perguntas sem resposta.

A trajetória de Vasco da Gama, um dos maiores navegadores da Era dos Descobrimentos, é marcada por feitos pioneiros, como a abertura da rota marítima para a Índia em 1498. Na última expedição, organizada em 1524, o explorador liderou uma frota de aproximadamente 20 navios, incluindo o São Jorge. Tragicamente, o navio afundou pouco antes de sua morte, ocorrida na Índia, possivelmente causada por malária.

Se confirmado, o naufrágio do São Jorge será o mais antigo já identificado de uma embarcação europeia no Oceano Índico. Essa descoberta não apenas adicionará um capítulo crucial à história da navegação portuguesa, mas também evidenciará a presença europeia nas águas africanas no século XVI.

O naufrágio de Malindi é apenas um dos oito conhecidos relacionados à presença portuguesa no Oceano Índico. No entanto, sua possível identificação como o São Jorge confere um peso simbólico único à descoberta. Filipe Castro descreve o achado como “um verdadeiro tesouro”, enfatizando seu valor cultural e histórico. Além disso, a descoberta reitera a importância estratégica de Malindi, que serviu como um dos principais pontos de parada para as viagens portuguesas.

A arqueóloga queniana Caesar Bita, que inicialmente descobriu o local, já recuperou artefatos como lingotes de cobre e presas de elefante, levantando hipóteses sobre o papel do São Jorge no comércio entre o Oriente e o Ocidente. A possibilidade de transformar o local em um museu subaquático também está em discussão, o que poderia tornar a região um ponto turístico de relevância histórica.

Embora a hipótese de que o São Jorge seja o naufrágio encontrado em Malindi seja fascinante, os pesquisadores enfrentam vários desafios para confirmar sua identidade. Sean Kingsley, arqueólogo marítimo e editor da revista Wreckwatch, destaca a necessidade de proteger e preservar o local. “Este naufrágio clama por cuidado antes que sua história desapareça para sempre”, afirmou ele.

A próxima etapa inclui uma investigação mais ampla nos recifes de corais ao norte de Malindi, cobrindo uma área de 25 quilômetros. Esse estudo ajudará não apenas na identificação do naufrágio, mas também na compreensão da presença portuguesa na região.

Se o naufrágio for realmente identificado como o São Jorge, ele marcará um avanço significativo para a arqueologia marítima. Além de enriquecer o conhecimento histórico sobre as navegações portuguesas, a descoberta tem o potencial de reconfigurar nosso entendimento sobre as interações comerciais e culturais no Oceano Índico durante o século XVI.

A preservação desse patrimônio cultural é essencial para garantir que as futuras gerações tenham acesso a essas informações. Descobertas como essa não apenas celebram os avanços científicos, mas também nos conectam com nosso passado, relembrando os feitos de exploradores que moldaram o mundo moderno.

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