Cientistas alertam que taxa de natalidade atual pode levar à extinção humana

Durante décadas, acreditou-se que a fórmula para manter uma população estável era simples: 2,1 filhos por mulher. Era o tal “nível de reposição”. Esse número se tornou quase um dogma entre economistas, demógrafos e formuladores de políticas públicas. Mas agora, uma nova pesquisa abala as bases desse consenso e revela um dado alarmante: a humanidade precisa de pelo menos 2,7 filhos por mulher para garantir sua sobrevivência a longo prazo. Sim, 2,7 — não 2,1.

Esse número não surgiu do nada. Foi o resultado de um estudo matemático minucioso liderado por Takuya Okabe, da Universidade de Shizuoka, no Japão, e publicado no respeitado periódico científico PLOS One, no dia 30 de abril de 2025.

O que muda com esse novo número?

A diferença pode parecer pequena, mas as implicações são gigantescas. Segundo o estudo, o valor de 2,1 não considera variáveis cruciais, como:

  • Flutuações aleatórias no número de filhos por casal
  • Mortalidade infantil e adulta inesperada
  • Pessoas que simplesmente nunca têm filhos
  • Diferenças nas taxas de natalidade entre homens e mulheres

Essas variações estocásticas — termo bonito para “fatores aleatórios” — podem parecer inofensivas em grandes populações, mas quando se olha para comunidades menores ou segmentos específicos da população, elas podem ser fatais para a continuidade de linhagens inteiras. Literalmente.

Ou seja, em vez de estabilidade populacional, o que temos, na prática, é uma lenta e silenciosa extinção de famílias, línguas, culturas e histórias.

Uma taxa de nascimento com mais mulheres ajuda a equilibrar o jogo

Uma parte curiosa do estudo toca em algo quase contraintuitivo: o nascimento de mais meninas do que meninos pode ser vantajoso para a sobrevivência de uma população. Isso porque mulheres, estatisticamente, são quem carregam a continuidade biológica da linhagem.

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Esse dado, surpreendentemente, ajuda a explicar fenômenos já observados em tempos de guerra, fome ou estresse ambiental extremo: nasce mais mulher que homem. Coincidência? Parece que não.

A natureza, com sua sabedoria implacável, pode estar tentando corrigir os rumos antes que seja tarde demais.

O grande risco não é mais a superpopulação — é o desaparecimento silencioso

Durante décadas, o maior medo global era a superpopulação. Filmes, livros e estudos científicos projetavam um futuro onde a Terra estaria sobrecarregada, sem água, comida ou espaço. Mas a virada chegou. E veio rápido.

Atualmente, 125 dos 237 países reconhecidos no mundo já estão com taxas de fertilidade abaixo de 2,0 — muito abaixo da nova estimativa de 2,7. É o caso de países como Japão, Coreia do Sul, Alemanha, Itália, Austrália e, mais recentemente, a própria China.

Ou seja: o problema agora é outro. E ele se chama subpopulação.

Populações envelhecidas e o fardo das próximas gerações

Com menos nascimentos, o número de idosos cresce desproporcionalmente. E alguém precisa cuidar deles — financeiramente, emocionalmente, estruturalmente. Só que quem?

A equação não fecha. O sistema de aposentadoria entra em colapso. A força de trabalho encolhe. A arrecadação pública despenca. E o futuro se torna um peso que ninguém consegue mais sustentar.

Imigração: solução temporária ou falsa esperança?

Em muitos países desenvolvidos, a solução mais imediata para o problema populacional tem sido abrir as portas para a imigração. E, por um tempo, isso parece funcionar.

Mas o novo estudo é categórico: nem mesmo a imigração será capaz de resolver o problema a longo prazo. Afinal, se o mundo inteiro estiver reproduzindo abaixo da taxa necessária, não haverá mais “de onde importar gente”.

O colapso cultural que vem junto com a queda demográfica

Mas não estamos falando apenas de números. Quando falamos em extinção demográfica, falamos também do desaparecimento de:

  • Línguas milenares
  • Costumes regionais
  • Tradições familiares
  • Saberes orais e espirituais
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O que não for passado adiante, morre. E o futuro pode se tornar uma paisagem desolada de memórias esquecidas.

Por que as pessoas estão tendo menos filhos?

Agora entra a parte sociológica da equação. Por que, afinal, estamos fazendo menos filhos?

  • Custo de vida alto: morar, comer, estudar e viver está cada vez mais caro
  • Carreiras exigentes: casais priorizam a estabilidade financeira e a realização profissional
  • Mudanças de valores: nem todo mundo quer ter filhos — e isso é legítimo
  • Medo do futuro: guerras, colapsos climáticos e crises políticas afastam o sonho da parentalidade

Tudo isso compõe um cenário em que ter filhos deixou de ser um destino esperado e virou uma escolha carregada de dilemas.

O que fazer agora? Políticas públicas podem reverter essa tendência?

Alguns países estão tentando. Coreia do Sul e Japão, por exemplo, oferecem benefícios financeiros para quem tem mais filhos. Na França, a licença-maternidade é generosa e o apoio estatal também.

Mas ainda é pouco. Os incentivos precisam ser:

  • Universais
  • Desburocratizados
  • Verdadeiramente atrativos

Além disso, é preciso mudar a cultura que associa filhos a sacrifício absoluto. Criar uma nova geração não deveria parecer uma sentença — e sim uma continuidade desejável.

E quanto aos países em desenvolvimento?

Acreditava-se que os países mais pobres manteriam altas taxas de natalidade por mais tempo. Mas, com a urbanização, o acesso à educação e a inserção feminina no mercado de trabalho, a queda de natalidade está acontecendo mais rápido do que o previsto também nesses lugares.

O mundo todo está, lentamente, convergindo para a mesma crise.

Conclusão: o futuro da humanidade exige repensar o presente

O estudo publicado na PLOS One não é um alerta qualquer. É um sinal vermelho aceso no painel do futuro humano. Se queremos preservar nossas culturas, nossas línguas, nossos sobrenomes — e nossa espécie — precisamos ir além do número mágico de 2,1 filhos por mulher.

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A questão não é apenas “quantos filhos você quer ter”, mas sim: quantas histórias, culturas e identidades estamos dispostos a deixar desaparecer?