Em 14 de maio de 1973, os céus testemunharam um salto audacioso da humanidade rumo ao desconhecido. A NASA lançava o Skylab, sua primeira estação espacial, marcando o início de uma nova era na exploração orbital. Mais do que uma estrutura metálica em órbita, o Skylab foi uma aposta ousada: entender até onde o corpo e a mente humana podiam resistir fora da Terra.
Uma estação espacial que nasceu da corrida espacial
Durante os anos 1970, a tensão entre Estados Unidos e União Soviética ainda moldava a agenda da exploração espacial. Após a conquista da Lua em 1969, a NASA precisava reafirmar sua liderança com um novo feito. Assim, surgiu o Skylab, projetado a partir de partes de foguetes Saturno V — os mesmos que levaram os astronautas ao solo lunar. A proposta era ambiciosa: colocar em órbita um laboratório onde astronautas pudessem viver e trabalhar por longos períodos.
Com 77 toneladas e cerca de 26 metros de comprimento, o Skylab orbitava a Terra a 435 km de altitude. Sua estrutura abrigava áreas de trabalho, dormitórios, cozinha, banheiro e equipamentos científicos — um verdadeiro protótipo do que hoje conhecemos como estação espacial.
Apesar do sucesso do lançamento, a missão começou com um susto. Durante o voo, o escudo térmico do Skylab se desprendeu, comprometendo o sistema de proteção solar e deixando o interior da estação superaquecido. A situação parecia crítica, mas a NASA respondeu com agilidade. Os astronautas da missão Skylab 2, enviados pouco depois, realizaram uma das manobras mais arriscadas da história: instalaram um “guarda-sol” improvisado durante uma caminhada espacial, reduzindo a temperatura interna e salvando o projeto.
Três missões tripuladas foram realizadas entre 1973 e 1974, com duração que variava de 28 a 84 dias. Os astronautas estudaram os efeitos da gravidade zero no corpo humano, monitoraram tempestades solares e coletaram dados meteorológicos da Terra. Pela primeira vez, foram realizadas observações solares contínuas com o telescópio a bordo, o Apollo Telescope Mount, revelando detalhes inéditos sobre o comportamento do Sol.
Esses dados seriam fundamentais décadas depois, ao planejar missões de longa duração como as da estação espacial Mir, russa, e da ISS (Estação Espacial Internacional), parceria entre várias nações. O Skylab provou que era possível viver, trabalhar e até manter certa rotina a centenas de quilômetros da superfície terrestre.
O fim prematuro e a entrada na atmosfera
Após o término das missões tripuladas, o Skylab permaneceu desabitado em órbita por quase cinco anos. Esperava-se que ele fosse reacoplado no início da década de 1980, com ajuda do então promissor Ônibus Espacial. No entanto, atrasos no desenvolvimento do programa Shuttle selaram o destino da estação.
Em julho de 1979, o Skylab reentrou na atmosfera terrestre de forma descontrolada, espalhando destroços sobre o Oceano Índico e partes da Austrália Ocidental. Felizmente, ninguém se feriu, mas o episódio reacendeu debates sobre lixo espacial e controle de reentradas atmosféricas.
Conclusão
O Skylab foi muito mais do que um tubo metálico girando ao redor da Terra. Ele simbolizou o início de uma convivência longa entre humanidade e cosmos. Foi um teste bem-sucedido de resistência, engenhosidade e adaptação — um passo decisivo na preparação para voos mais ambiciosos, como uma possível missão tripulada a Marte.
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