Os astrônomos vinham tentando, por décadas, detectar esses fenômenos no planeta, mas a confirmação só foi viável graças à sensibilidade infravermelha do Telescópio James Webb.
Mais de 30 anos atrás, cientistas já tinham registrado a presença de auroras em Júpiter, Saturno e Urano, mas Netuno continuava a ser um enigma. Recentemente, essa lacuna foi preenchida com imagens inéditas obtidas pelo Telescópio Espacial James Webb, que revelou pela primeira vez a existência de auroras no planeta mais remoto do Sistema Solar.
A revelação do Webb sobre Netuno
Ao contrário das auroras na Terra, que estão predominantemente localizadas nos polos, as de Netuno aparecem mais centralizadas, aproximadamente na latitude da América do Sul. Essa localização peculiar decorre da inclinação do campo magnético de Netuno, que forma um ângulo de 47° em relação ao seu eixo de rotação.
A dificuldade de observá-las anteriormente se deve ao fato de que essas auroras não são visíveis a olho nu, necessitando de uma tecnologia capaz de captar sinais em infravermelho. O Telescópio James Webb, com sua tecnologia avançada, possibilitou a identificação das moléculas responsáveis pelas auroras, resultando em uma das descobertas mais significativas da astronomia contemporânea.
O papel do infravermelho na identificação das auroras
As imagens e os dados foram obtidos pelo Espectrógrafo de Infravermelho Próximo do Webb em junho de 2023 e publicados na revista Nature. Além de capturar imagens do planeta, os cientistas conseguiram registrar um espectro da atmosfera superior de Netuno, o que permitiu caracterizar sua composição e medir sua temperatura.
Durante essa análise, os pesquisadores descobriram uma linha de emissão marcante associada ao cátion tri-hidrogênio (H3+), um indicador de auroras já identificado em outros gigantes gasosos. O Webb tornou visível essa emissão intensa, destacando as auroras em Netuno como manchas de cor ciano.
“Heidi Hammel, coautora do estudo, comentou: ‘H3+ é um sinal claro de auroras nos gigantes gasosos, e esperávamos encontrá-lo em Netuno há anos, mas isso não havia sido possível até agora. A potência do Webb finalmente nos proporcionou essa confirmação.’”
Essa descoberta também abre novas portas para compreender melhor a interação entre o campo magnético de Netuno e as partículas solares que atingem suas regiões mais distantes.
Uma segunda descoberta surpreendente
Além das auroras, os cientistas fizeram outra descoberta inesperada: um resfriamento significativo na atmosfera de Netuno. Ao comparar as medições do Webb com dados obtidos pela Voyager 2 em 1989, os pesquisadores notaram que a temperatura atual do planeta é pouco mais da metade da registrada na época.
“O resfriamento acentuado sugere uma alteração significativa na dinâmica atmosférica de Netuno ao longo do tempo”, afirmou Henrik Melin, principal autor da pesquisa. “Mesmo estando 30 vezes mais distante do Sol do que a Terra, Netuno parece reagir de forma complexa aos ciclos solares.”
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O que esperar das futuras investigações?
Com essas novas descobertas, os cientistas planejam monitorar Netuno durante um ciclo solar completo, que dura cerca de 11 anos. A expectativa é que investigações futuras revelem mais informações sobre o enigmático campo magnético do planeta e suas interações com o meio interplanetário.
Esses avanços ressaltam a importância do Telescópio James Webb como uma ferramenta crucial para a exploração espacial e a compreensão dos gigantes gasosos. O universo continua a revelar seus mistérios, e Netuno agora ocupa um lugar central em uma das maiores questões da astronomia moderna.