A missão Lucy, da NASA, acaba de entregar imagens inéditas de um asteroide até então pouco estudado: o enigmático Donaldjohanson. Durante um voo rasante no último domingo, 20 de abril, a nave espacial passou a cerca de 960 km do objeto, que orbita na região do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, registrando detalhes que deixaram os cientistas boquiabertos.
O formato do asteroide, captado com precisão pela câmera L’LORRI da sonda, foge totalmente do convencional. Donaldjohanson lembra um amendoim gigante ou até dois cones de sorvete fundidos pela base — uma aparência incomum que aponta para uma possível estrutura binária de contato. Esse tipo de corpo celeste surge quando dois asteroides menores colidem e se unem, mantendo partes visivelmente distintas, conectadas por um “pescoço” estreito. E é justamente esse “pescoço” o que mais intrigou os pesquisadores: ele é mais fino do que os modelos previam.
Com cerca de 8 km de extensão e 3,5 km em sua parte mais larga, o Donaldjohanson é maior do que se imaginava. Embora não estivesse no roteiro principal da missão, o encontro foi tratado como um ensaio técnico — um “test drive espacial” — para os eventos mais aguardados do projeto: os futuros encontros com os asteroides troianos de Júpiter.
“O que estamos vendo é uma geologia muito mais complexa do que esperávamos”, comentou Hal Levison, líder da missão no Southwest Research Institute, no Colorado. “Essas feições nos ajudam a montar o quebra-cabeça da origem dos planetas.”
As imagens iniciais, que mostram o asteroide girando lentamente, foram feitas com um intervalo de dois segundos entre cada clique — quase um stop-motion astronômico. Devido ao tamanho do objeto e à proximidade do sobrevoo, nem todo o asteroide coube nos primeiros registros. Dados adicionais estão sendo baixados e devem revelar a silhueta completa do corpo celeste ainda nesta semana.
Tom Statler, cientista da missão Lucy na sede da NASA em Washington, destacou o impacto do momento: “Essas imagens provam que a sonda Lucy é uma verdadeira máquina de descobertas. E isso é só o começo. Quando ela chegar aos troianos de Júpiter, o potencial para revelar os bastidores da formação do nosso sistema solar é gigantesco.”
A missão Lucy foi lançada em 2021 com um propósito ousado: visitar pela primeira vez os misteriosos asteroides troianos de Júpiter, relíquias da infância do sistema solar. O nome da sonda é uma homenagem ao fóssil hominídeo “Lucy”, encontrado em 1974 na Etiópia — que, por sua vez, foi batizado ao som da clássica canção dos Beatles, Lucy in the Sky with Diamonds.
O encontro inesperado com Donaldjohanson não apenas aqueceu os motores da missão como também reforçou uma verdade universal da astronomia: o espaço sempre guarda uma surpresa a mais. E, desta vez, ela veio com gosto de amendoim.
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