Os livros de Stephen King não são apenas histórias de terror, são também retratos psicológicos dos personagens que sobreviveram ao caos. E as personagens femininas de King não estão ali só como coadjuvantes ou vítimas. Pelo contrário, são figuras centrais em muitos dos seus livros. Mas você sabe quais são as mais impactantes?
Carrie White
Não há como começar essa lista sem falar dela: Carrie White, a protagonista do primeiro romance publicado por Stephen King, Carrie (1974). Uma adolescente retraída, criada sob as rédeas do fanatismo religioso da mãe, Carrie é vítima de bullying, humilhações e uma brutal ausência de afeto. Mas ela carrega um dom — a telecinesia — que se transforma em maldição. O que torna Carrie inesquecível não é apenas seu poder, mas a carga simbólica de sua vingança.
Annie Wilkes
Em Misery (1987), Annie Wilkes personifica um tipo de medo que é tão real quanto perturbador: a obsessão. Ex-enfermeira, solitária e completamente fanática pelo escritor Paul Sheldon, ela o mantém em cárcere após um acidente, exigindo que ele escreva exclusivamente para ela. Annie é imprevisível, cruel e ao mesmo tempo absurdamente humana. Sua loucura vem acompanhada de uma lógica distorcida e uma coerência assustadora.
Beverly Marsh
Beverly é a única menina no Clube dos Otários de It: A Coisa (1986). Em meio a meninos que combatem uma entidade sobrenatural disfarçada de palhaço, ela se destaca pela sensibilidade, coragem e profundidade emocional. Beverly enfrenta não apenas Pennywise, mas o horror doméstico, o abuso, a misoginia e, posteriormente, a violência conjugal. Sua trajetória é a de uma mulher que precisa vencer medos reais antes de confrontar o sobrenatural.
Dolores Claiborne
A protagonista do livro Dolores Claiborne (1992) é uma das personagens mais densas criadas por King. Uma mulher endurecida pela vida, Dolores é acusada de assassinato e, ao longo do romance, narra em primeira pessoa os abusos que sofreu do marido e as humilhações do cotidiano. Ela não é heroína no sentido clássico, mas representa o que há de mais cru e real na luta feminina contra estruturas opressoras.
Rose Daniels
Em Rose Madder (1995), acompanhamos a jornada de Rose Daniels, uma mulher que decide fugir de um casamento abusivo após anos de violência psicológica e física. A narrativa segue seu processo de reconstrução — emocional, financeira e espiritual — enquanto tenta se livrar do marido psicopata que a persegue. Com elementos mitológicos e oníricos, Rose simboliza o renascimento feminino.
Wendy Torrance
Muitas vezes ofuscada pela presença de Jack Torrance, Wendy, a esposa em O Iluminado (1977), é uma figura fundamental. Apesar de inicialmente parecer frágil e submissa, ela revela uma resiliência impressionante diante do colapso mental do marido e da ameaça sobrenatural do Hotel Overlook. Wendy protege o filho com uma determinação feroz, sendo uma das primeiras personagens do autor a romper com o estereótipo da esposa passiva em meio ao horror.
Frannie Goldsmith
Em A Dança da Morte (The Stand, 1978), Frannie é uma das poucas sobreviventes de uma pandemia que devasta a humanidade. Mais do que uma mera coadjuvante na luta entre o bem e o mal, ela representa a esperança em um mundo devastado. Grávida, inteligente e resiliente, Frannie não se rende à desesperança.
Susan Norton
Em A Hora do Vampiro (’Salem’s Lot, 1975), Susan Norton é uma das personagens mais racionais da história. Ela tenta entender o inexplicável com lógica e empatia, sendo uma das primeiras a desconfiar que algo sobrenatural está corrompendo a cidade. Sua presença marca o equilíbrio entre ceticismo e coragem diante do absurdo.
Jessie Burlingame
Em Jogo Perigoso (Gerald’s Game, 1992), Jessie se vê presa a uma cama após um jogo sexual que termina mal. Sozinha, sem chance de ajuda, ela precisa não só sobreviver, mas confrontar memórias traumáticas enterradas na infância. O livro é uma jornada intensa de autoconhecimento, culpa e superação. Jessie é uma das criações mais introspectivas e corajosas de King.
Charlie McGee
Em A Incendiária (Firestarter, 1980), Charlie McGee é uma menina com poderes pirocinéticos, perseguida por agências governamentais. Apesar da pouca idade, ela é uma personagem poderosa, tanto em termos narrativos quanto simbólicos. Representa a pureza, mas também a capacidade destrutiva de quem é levado ao limite. Charlie é o prenúncio do que a força feminina pode se tornar quando ameaçada.
Conclusão
Stephen King não escreve mulheres para preencher espaço. Ele as cria para contar histórias densas, dolorosas e, acima de tudo, reais. Elas não são apenas vítimas ou vilãs. São sobreviventes, guerreiras, mães, adolescentes, idosas, loucas, lúcidas — e, muitas vezes, tudo isso ao mesmo tempo. Ao mergulhar no universo de King, é impossível não se impressionar com a riqueza de suas personagens femininas. E isso, sem dúvida, é um dos fatores que fazem sua obra resistir ao tempo e dialogar com leitores de todas as gerações.
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