Luiza Clara da Silva tinha apenas 19 anos, dois filhos pequenos e sonhos pela frente. Mas tudo foi interrompido de forma brutal no Sul de Santa Catarina. Natural de Santana, no Amapá, a jovem morreu após passar dias internada na UTI do Hospital São José, em Criciúma, depois de ser agredida com um golpe conhecido como “mata-leão” pelo próprio marido. A violência doméstica, mais uma vez, escancara a urgência de enfrentarmos o feminicídio com a seriedade e estrutura que o problema exige.
A tragédia aconteceu no bairro Cristo Redentor, em Criciúma. A Polícia Militar foi acionada pelo próprio agressor, que tentou disfarçar o crime pedindo socorro após as agressões. Quando os socorristas do Samu chegaram ao local, encontraram Luiza já inconsciente, caída no chão da cozinha, sem sinais vitais. Ela foi reanimada e levada às pressas ao hospital em estado gravíssimo, mas após quatro dias lutando pela vida, a jovem teve uma piora e não resistiu. Sua morte foi confirmada na quinta-feira (17), encerrando uma curta trajetória marcada por violência e maternidade precoce.
Luiza havia se mudado para Santa Catarina com o companheiro. Com ela, uma filha de quatro anos e um bebê recém-nascido. Agora, órfãos de mãe e com o pai preso, os filhos da jovem tornam-se vítimas secundárias de uma tragédia anunciada.
A família de Luiza vive no Amapá e tenta lidar com a dor de longe, enfrentando também uma dura realidade: o custo para levar o corpo da filha de volta à terra natal. O pai e a madrasta conseguiram chegar a Criciúma — esta última também em puerpério, com um recém-nascido de apenas 20 dias nos braços. Já a mãe de Luiza aguarda no Amapá, sem condições de viagem, contando os minutos para conseguir dar o último adeus à filha.
Diante da dificuldade financeira, a família, com apoio da equipe médica de Criciúma, criou uma vakinha online para arrecadar os cerca de R$ 25 mil necessários para o translado. A comoção nas redes sociais é grande. Amigos, conhecidos e até desconhecidos têm compartilhado a campanha. A morte de Clara, como era carinhosamente chamada pelos próximos, tocou profundamente quem acompanhou seu drama.
Nas redes, familiares e amigos deixaram homenagens comoventes. Uma das mensagens resume o sentimento coletivo:
“Clara foi um presente, um raio de luz que passou por nossas vidas deixando amor, ternura e saudade. Tivemos o privilégio de conhecê-la, de chamá-la de nossa. E esse amor… esse será eterno e incondicional.”
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é vítima de feminicídio a cada 6 horas no país. E, em muitos desses casos, o agressor é alguém com quem ela dividia a casa, a vida, os filhos — exatamente como aconteceu com Luiza.
No dia da ocorrência, o companheiro de Luiza foi preso em flagrante e levado à Central de Plantão Policial de Criciúma. As primeiras informações indicam que o motivo da agressão foi o fim do relacionamento. Após audiência de custódia, o agressor teve a prisão convertida para preventiva e segue detido.
A Delegacia da Mulher e do Adolescente de Criciúma assumiu a investigação. O inquérito agora caminha para enquadrar o crime como feminicídio consumado — uma tipificação penal que, desde 2015, reconhece o assassinato de mulheres motivado por violência de gênero.
Com informações da NSCTotal e fotos das redes sociais.