Mistério das múmias de 3 mil anos é desvendado com tecnologia de tomografia

Por séculos, as múmias egípcias têm sido objeto de fascínio e mistério, simbolizando a rica e complexa cultura do Egito Antigo. Apesar dos avanços na arqueologia, muitos segredos ainda permanecem escondidos, protegidos pelas camadas de tecidos e cartonagem que envolvem esses corpos.

No entanto, uma abordagem inovadora com tecnologia de tomografia computadorizada está mudando esse cenário. Cientistas do Field Museum, em Chicago, analisaram 26 múmias usando essa técnica não invasiva, revelando detalhes sobre o processo de mumificação e os costumes funerários dos antigos egípcios.

A tomografia possibilitou criar imagens em 3D das tumbas e dos corpos sem a necessidade de desmontá-los ou remover os tecidos. Essa abordagem não só preserva os artefatos, mas também revela informações preciosas sobre a vida, a morte e os rituais de passagem para o pós-vida praticados há milhares de anos. Com essa técnica, os pesquisadores descobriram aspectos surpreendentes, como o uso de enchimentos para manter partes do corpo intactas e a reutilização de certos elementos no processo de embalsamamento.

A tomografia computadorizada, uma tecnologia amplamente utilizada na medicina moderna, mostrou ser uma ferramenta poderosa para a arqueologia. No caso das múmias analisadas, a técnica permitiu visualizar estruturas internas, artefatos escondidos e até mesmo os materiais usados no processo de mumificação.

Segundo Stacy Drake, gerente de coleções do Field Museum, essa abordagem oferece uma oportunidade única de estudar a história através da perspectiva individual. “Podemos compreender quem essas pessoas realmente eram, além das narrativas que construímos sobre elas”, explicou. Ao observar os detalhes das múmias, os cientistas conseguem traçar um panorama mais completo da vida no Egito Antigo, desde a dieta até as crenças espirituais.

O Egito Antigo via a mumificação como um ritual profundamente religioso, essencial para garantir a transição para a vida após a morte. O processo, que durava cerca de 70 dias, envolvia a remoção dos órgãos internos, exceto o coração, considerado o lar da alma. O corpo era então desidratado com sal e coberto por tecidos de linho. Durante esse processo, inscrições e amuletos eram frequentemente adicionados, carregando mensagens ou orações destinadas a proteger o falecido na jornada espiritual.

A tomografia revelou detalhes surpreendentes sobre esse processo. Em algumas múmias, os órgãos removidos foram empacotados e recolocados dentro do corpo, uma prática que desafia as ideias tradicionais sobre a mumificação. Além disso, os cientistas encontraram evidências de que os antigos egípcios utilizavam enchimentos artificiais, como próteses nos olhos, para garantir que os corpos estivessem “completos” para a vida após a morte.

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Entre as múmias analisadas, Lady Chenet-aa chamou atenção especial. Essa mulher, que viveu há aproximadamente 3 mil anos, foi mumificada de maneira única, o que intrigou os pesquisadores. A tomografia revelou que ela tinha próteses oculares e enchimentos na traqueia, práticas que indicam um cuidado meticuloso com o preparo do corpo. Essas técnicas eram realizadas para assegurar que o falecido tivesse todos os atributos necessários para enfrentar o além.

O maior mistério, no entanto, está em como o corpo de Lady Chenet-aa foi colocado dentro de seu caixão. A estrutura, feita de cartonagem (uma espécie de papel machê endurecido), não apresentava costuras visíveis. A análise mostrou que os embalsamadores cortaram uma abertura na parte de trás da cartonagem, moldaram o corpo no interior e selaram a fenda de maneira quase imperceptível. Esse nível de habilidade demonstra o conhecimento técnico e o comprometimento dos antigos egípcios com seus rituais funerários.

No Egito Antigo, os rituais funerários eram mais do que simples tradições; eles eram uma ponte para a vida eterna. Cada etapa do processo de mumificação tinha um significado espiritual. Os amuletos colocados junto ao corpo, por exemplo, tinham o propósito de proteger o falecido contra forças malignas. As inscrições nos tecidos ou nos sarcófagos continham orações e mensagens para guiar a alma no pós-vida.

A tomografia mostrou como esses detalhes estavam intrinsecamente ligados às crenças religiosas da época. Elementos como enchimentos e próteses eram cuidadosamente adicionados para garantir que o corpo estivesse intacto e funcional para a jornada espiritual. Essa visão de continuidade entre a vida terrena e a vida após a morte é um dos aspectos mais marcantes da cultura egípcia.

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