Entre setembro e novembro de 2024, uma rocha de pequeno porte foi flagrada circulando ao redor da Terra. Nomeado 2024 PT5, o objeto chamou a atenção de astrônomos por sua velocidade extremamente baixa e por apresentar características que fogem do comum em asteroides. Cientistas levantaram a possibilidade de que ele seja, na verdade, um pedaço da própria Lua, ejetado após uma colisão violenta em um passado remoto.
A hipótese foi apresentada em artigo publicado no The Astrophysical Journal Letters, e levanta a ideia de que não estamos sós nem mesmo em nossa órbita próxima — miniluas lunares podem estar discretamente nos rodeando, confundidas com detritos espaciais ou pequenos asteroides.
O que é a 2024 PT5 e por que ela é tão incomum?
O objeto foi detectado em agosto de 2024 por astrônomos na África do Sul, que notaram sua movimentação lenta — apenas 2 metros por segundo, algo como 7 km/h. Essa lentidão extrema tornou o corpo rochoso um alvo ideal para o projeto MANOS (Monitoramento de Objetos Próximos da Terra de Acesso Facilitado por Missão), que busca corpos viáveis para futuras explorações espaciais.
Teddy Kareta e Nick Moskovitz, dois pesquisadores do Observatório Lowell (EUA), são os nomes por trás da descoberta e já vinham investigando sinais de fragmentos lunares desde 2021. Uma semana após a detecção, a dupla usou o telescópio Lowell Discovery para analisar a composição espectral do 2024 PT5, utilizando luz visível e infravermelha.
Os resultados surpreenderam: os dados não batiam com a composição de um asteroide comum. Ao contrário, revelavam semelhanças com amostras coletadas pelas missões Apollo e Luna 24 — ou seja, tudo indicava uma origem lunar.
Fragmento pode ter sido expulso por impacto antigo na Lua
Com cerca de 8 a 12 metros de diâmetro, o 2024 PT5 é pequeno, mas sua origem pode carregar informações valiosas. A teoria mais aceita é que ele tenha sido lançado ao espaço após o impacto de um meteoro na superfície lunar. Se os pesquisadores conseguirem localizar a cratera de onde veio, será possível entender mais sobre a dinâmica dos impactos lunares.
Na Lua, crateras são cicatrizes que se preservam por milênios, já que não há atmosfera ou atividade geológica ativa para apagar os traços. Estudar a trajetória desses fragmentos pode oferecer pistas preciosas sobre a formação do Sistema Solar e os mecanismos de dispersão de material após grandes colisões.
Outras miniluas já foram detectadas
O caso do 2024 PT5 não é isolado. Em 2016, outro objeto semelhante foi detectado: o Kamo’oalewa. Esse corpo celeste permaneceu em órbita próxima à Terra por muito tempo e, em 2021, foi vinculado à Lua após estudos aprofundados. A teoria é que ele tenha se originado de uma cratera no lado oculto da Lua, chamada Giordano Bruno.
Apesar das origens semelhantes, os dois corpos apresentam diferenças importantes. Kamo’oalewa é maior e esteve exposto por mais tempo ao ambiente espacial, acumulando radiação e desgaste. Já o 2024 PT5 teve uma passagem mais breve, como se apenas cruzasse o caminho da Terra por alguns meses antes de seguir sua rota ao redor do Sol.
O sistema Terra-Lua é tão estreito que facilita a entrada de fragmentos lunares em órbitas temporárias ao redor do planeta. Quando um corpo é expulso da Lua, ele pode permanecer em órbita próxima por semanas, meses ou até anos — dependendo da velocidade e trajetória.
No caso do 2024 PT5, a aproximação de 2024 foi como dois carros trafegando lado a lado em pistas diferentes por um instante. A previsão é que essa “reunião orbital” volte a acontecer apenas em 2055.
A equipe do projeto MANOS acredita que outros fragmentos lunares já foram detectados, mas rotulados incorretamente como asteroides. A similaridade entre composições e órbitas dificulta a identificação sem uma análise mais criteriosa.
Descobertas como essa ajudam a reconstituir a história do Sistema Solar
Encontrar fragmentos lunares no espaço não é só uma curiosidade científica: é uma chave para entender eventos que moldaram o nosso sistema planetário. Segundo Kareta, descobrir essas “pedras flutuantes” é como coletar peças perdidas de um quebra-cabeça cósmico.
Além disso, essas informações podem alterar modelos atuais sobre riscos de colisão, formação orbital e até mesmo servir de alvo para missões futuras que busquem retornar com amostras de rochas lunares sem ter que pousar na Lua novamente.
Telescópios mais avançados prometem ampliar a caçada por miniluas
Com a entrada em operação do Observatório Vera C. Rubin, no Chile, prevista para os próximos meses, a expectativa da comunidade científica é que muitos outros objetos como o 2024 PT5 sejam identificados. Essa nova geração de telescópios terá capacidade de rastrear com precisão fragmentos pequenos, mas significativos.
A esperança é que, nos próximos anos, possamos montar um mapa mais detalhado dessas miniluas ocultas, ampliando não apenas nosso conhecimento sobre a Lua, mas também sobre o próprio comportamento gravitacional da Terra e seus arredores.
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Conclusão
A descoberta do 2024 PT5 e sua possível origem lunar reacende o interesse por tudo o que ainda não sabemos sobre o nosso satélite natural. Entre crateras escondidas, detritos vagando pelo espaço e órbitas cruzadas, a história da formação do Sistema Solar continua sendo reescrita — fragmento por fragmento.
Fonte: Olhar Digital