Nos últimos anos, o aumento da presença de microplásticos no ambiente tem gerado preocupações em diversas áreas da ciência, e um estudo recente veio confirmar uma realidade alarmante: as partículas plásticas podem estar se acumulando em concentrações alarmantes no cérebro humano. A pesquisa, publicada na Nature Medicine em 2024, revelou que as amostras de cérebro analisadas apresentaram concentrações de microplásticos de até 30 vezes mais do que as encontradas em órgãos como fígado e rins.
O estudo foi conduzido utilizando técnicas avançadas de análise para detectar micro e nanopartículas plásticas (MNPs) em amostras de tecidos humanos, tanto de 2016 quanto de 2024, com foco principal em amostras coletadas no estado do Novo México (EUA). Para surpresa dos cientistas, todas as amostras de cérebro, analisadas em um total de 52, apresentaram evidências de acúmulo de microplásticos. A concentração média no cérebro de 2024 foi de 4.917 μg/g, significativamente mais alta do que as 3.345 μg/g encontradas nas amostras de 2016 e ainda mais elevadas se comparadas aos dados de 1997 a 2013, que tinham valores próximos a 1.254 μg/g.
Embora o estudo tenha estabelecido uma conexão preocupante entre a quantidade de microplásticos e os tecidos cerebrais, não se pode afirmar, com base nos dados atuais, que esses plásticos sejam a causa direta de doenças neurológicas. Contudo, os autores destacam que o aumento exponencial da presença de microplásticos no ambiente e seus potenciais efeitos sobre o sistema nervoso exigem mais pesquisas para entender suas implicações à saúde humana, especialmente considerando a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro de substâncias nocivas na corrente sanguínea.
O estudo também apontou que as amostras de cérebros de pessoas diagnosticadas com demência apresentaram mais microplásticos do que aquelas sem esse diagnóstico, sugerindo uma possível relação entre a presença dessas partículas e doenças neurológicas. No entanto, como afirmam os especialistas, é importante realizar mais investigações para confirmar ou refutar qualquer vínculo causal entre os microplásticos e os distúrbios no cérebro humano.
A técnica utilizada para a análise foi extremamente minuciosa, permitindo a identificação de partículas menores que 5 micrômetros, o que representou um avanço em relação aos estudos anteriores, que não conseguiam detectar partículas tão pequenas. Com o uso de microscopia eletrônica, os pesquisadores puderam visualizar as MNPs isoladas do cérebro e confirmar que elas estavam predominantemente compostas por polietileno, um dos plásticos mais comuns no meio ambiente.
Apesar da crescente preocupação com os microplásticos e seus impactos no organismo humano, a pesquisa ainda não estabelece conclusões definitivas sobre os efeitos diretos desses resíduos plásticos na saúde. Porém, os pesquisadores sugerem que a exposição crônica pode aumentar o risco de doenças preexistentes, como as doenças vasculares, uma vez que as partículas podem interagir com a barreira hematoencefálica.
O neurologista Antonio Francisco de Araujo Netto, da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, que não participou do estudo, reforça que, embora o estudo não tenha encontrado uma relação causal direta, ele confirma que a presença de microplásticos no organismo pode representar um risco significativo, especialmente para o cérebro. A interação com a barreira hematoencefálica é uma preocupação central, pois ela pode contribuir para o desenvolvimento de doenças vasculares e outros problemas neurológicos.
Esse estudo aponta para a necessidade urgente de aprofundar as pesquisas sobre os microplásticos, sua via de exposição, os mecanismos de absorção e os impactos reais desses materiais nos tecidos humanos. A comunidade científica, portanto, se vê diante de um desafio crescente: entender os efeitos desse contaminante ambiental na saúde humana antes que as consequências se tornem irreversíveis.
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As próximas etapas da pesquisa incluem a ampliação das amostras analisadas e a inclusão de populações de diferentes regiões e perfis, para uma compreensão mais abrangente sobre os impactos dos microplásticos no corpo humano.