Meteorito lunar de 2,3 bilhões de anos revela período de atividade vulcânica na Lua

Um pequeno fragmento vindo do espaço tem feito os cientistas olharem para a Lua com olhos renovados. Descoberto em 2023 no deserto do Norte da África, o meteorito batizado de Northwest Africa 16286 oferece pistas preciosas sobre um capítulo quase esquecido da história lunar. Pesando apenas 311 gramas, essa rocha milenar carrega em sua estrutura um mistério que preenche um vazio de cerca de 1 bilhão de anos no entendimento da atividade vulcânica do nosso satélite natural.

Apresentado por pesquisadores da Universidade de Manchester durante a Conferência Goldschmidt 2025, na República Checa, o estudo desse meteorito não só amplia nossa compreensão sobre o passado geológico da Lua, como pode ser decisivo para o futuro da exploração espacial.

A rocha mais jovem do tipo já encontrada na Terra

O que faz o Northwest Africa 16286 tão singular é o fato de ser uma rocha basáltica, formada por lava que emergiu do interior da Lua. Com 2,35 bilhões de anos, trata-se da mais jovem desse tipo já encontrada em nosso planeta. Isso indica que, mesmo após o período em que se acreditava que a Lua já estivesse geologicamente “adormecida”, ainda havia intensa atividade térmica e vulcânica sob sua crosta.

Essas evidências são raras e preciosas, especialmente porque a maioria das amostras lunares conhecidas é significativamente mais antiga. A análise do meteorito sugere que a geração de calor interno da Lua perdurou muito mais do que se imaginava, desafiando modelos anteriores sobre seu resfriamento e inatividade.

Análises isotópicas revelam segredos do interior lunar

A equipe de cientistas obteve esses dados a partir de exames detalhados dos isótopos de chumbo (Pb) presentes na amostra. Eles detectaram uma proporção inusitada de urânio em relação ao chumbo, o que reforça a ideia de que a Lua possuía um processo contínuo de geração de calor, possivelmente alimentado pela decomposição de elementos radiogênicos.

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Meteorito lunar de 2,3 bilhões de anos revela período de atividade vulcânica na Lua

A composição química da rocha inclui cristais de olivina, níveis moderados de titânio e concentrações elevadas de potássio, características que fornecem um retrato geológico detalhado do interior lunar naquele período. A existência dessa mistura específica de minerais ajuda os cientistas a mapear camadas internas da Lua e seus processos térmicos.

Uma ponte entre passado e futuro da exploração lunar

Joshua Snape, um dos pesquisadores envolvidos, ressalta que a idade da rocha é especialmente reveladora. “Ela preenche uma lacuna de quase um bilhão de anos na história vulcânica da Lua. Isso indica que o satélite continuou ativo por muito mais tempo do que presumíamos”, afirma.

Essa revelação é estratégica. O meteorito pode indicar onde futuros pousos de sondas espaciais devem ocorrer. Como ele provavelmente foi ejetado da Lua após uma colisão com outro corpo celeste, sua origem remota pode ser rastreada com precisão — algo que permite traçar conexões com regiões lunares específicas que ainda não foram exploradas por missões.

Uma amostra acidental, mas cientificamente valiosa

Embora tenha sido encontrado na Terra, o Northwest Africa 16286 chegou aqui por acaso. Como outros meteoritos lunares, ele foi lançado ao espaço após um impacto violento e, após uma longa viagem, caiu em nosso planeta. Esse tipo de achado é considerado raro, mas de enorme valor científico: traz informações sem que seja necessário enviar uma missão tripulada, o que reduz custos e riscos.

Snape destaca: “Há uma dose de sorte envolvida. Essa rocha caiu aqui, praticamente sozinha, e nos entrega dados valiosos sobre a Lua sem que tenhamos precisado tocar nela com uma nave.”

Além de ser uma cápsula do tempo do passado geológico da Lua, o meteorito também serve de guia para os próximos passos da exploração lunar. Ele pode ajudar agências como a NASA e a ESA a selecionar alvos com maior potencial científico para suas futuras missões de retorno de amostras.

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