Excedente no mercado interno pode derrubar preço do frango

Suspensão de importações devido à gripe aviária pode afetar preços e logística do setor avícola brasileiro, com impactos temporários no mercado interno

Após a confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja comercial no município de Montenegro (RS), o setor de alimentos no Brasil avalia os impactos econômicos decorrentes das suspensões temporárias de importação impostas por diversos países.

Embora o efeito total ainda não tenha sido mensurado, especialistas indicam que podem ocorrer alterações nos preços do frango no mercado interno e desafios logísticos para a indústria avícola.

Segundo o economista André Braz, da FGV Ibre, a interrupção parcial das exportações pode gerar uma sobreoferta de carne de frango no mercado interno, o que tende a pressionar os preços para baixo no curto prazo. No entanto, ele destaca que os produtores devem ajustar rapidamente seus volumes de produção para evitar prejuízos, reduzindo a criação de aves e, assim, equilibrando a oferta à nova demanda.

Antonio da Luz, economista-chefe da Farsul, concorda que os preços ao consumidor podem cair temporariamente, mas ressalta que o ciclo de produção de aves é curto, variando entre 30 e 40 dias. Assim, a indústria tende a se adaptar rapidamente às novas condições de mercado, com o objetivo de evitar desperdícios e manter a rentabilidade.

Com a suspensão das exportações, as empresas do setor precisam realocar produtos que eram tradicionalmente destinados ao mercado externo. Cortes pouco consumidos no Brasil, como pés de frango — muito exportados à China —, poderão ser redirecionados para outros fins, como a produção de ração animal. Felipe Vasconcellos, da Equus Capital, observa que essa readequação exigirá criatividade da indústria e poderá gerar oscilações nos preços das ações de grandes empresas do setor.

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Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), destaca que o impacto logístico também será significativo, com a necessidade de armazenar parte da produção que não será embarcada, além da reorganização dos embarques. O sistema logístico, que movimenta cerca de 25 milhões de aves por dia, deverá ser ajustado para acomodar a nova realidade temporária.

Diversos países já anunciaram suspensão parcial ou total das importações de carne de frango e ovos do Brasil. A lista inclui China, União Europeia, Argentina, Uruguai, México, Chile, Coreia do Sul, Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Filipinas. Juntos, esses mercados representaram US$ 2,8 bilhões em exportações brasileiras em 2024 — aproximadamente 28% do total exportado no ano. A China sozinha responde por US$ 1,2 bilhão.

Com a confirmação do foco em Montenegro, o Brasil perdeu a condição de único grande exportador mundial livre de gripe aviária em granjas comerciais. Para conter a disseminação do vírus H5N1, medidas emergenciais foram adotadas. Cerca de 1,7 milhão de ovos foram destruídos no Rio Grande do Sul, e lotes enviados a outros estados foram rastreados e descartados, mesmo sem confirmação de contaminação.

O Ministério da Agricultura declarou emergência zoossanitária por 60 dias na região afetada e informou que a regionalização do foco permitirá que outras áreas do país mantenham as exportações normalmente, dentro dos critérios sanitários estabelecidos pelos países importadores.

O vírus H5N1 pertence à família influenza e é altamente letal em aves, especialmente em ambientes de criação intensiva. Não há risco de transmissão para humanos por meio do consumo de carne ou ovos. A infecção em humanos, embora rara, pode ocorrer por contato direto e contínuo com aves vivas infectadas.

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O Ministério da Agricultura continua monitorando a situação e mantém ações de rastreamento e vigilância em todo o território nacional, com o objetivo de conter a propagação do vírus e preservar a integridade do setor avícola brasileiro.

Suspensão de importações devido à gripe aviária pode afetar preços e logística do setor avícola brasileiro, com impactos temporários no mercado interno

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