Uma descoberta arqueológica no noroeste do Irã está lançando nova luz sobre os rituais de beleza e status social da Idade do Ferro. Durante escavações no sítio funerário de Kani Koter, pesquisadores encontraram um pequeno frasco de cerâmica contendo vestígios de um cosmético milenar. Após análise química detalhada, confirmou-se que o conteúdo era uma antiga fórmula de kohl — maquiagem para os olhos amplamente usada no Egito e no Oriente Médio há milênios. No entanto, a composição desse produto em particular surpreendeu os cientistas por sua originalidade.
Delineador milenar com toque de grafite prateado
Diferente de outras amostras de kohl encontradas em regiões vizinhas, a substância identificada em Kani Koter combina óxidos de manganês com grafite, um elemento até então inédito em fórmulas de maquiagem da Antiguidade. O uso do grafite, segundo os estudiosos, teria proporcionado um efeito visual marcante: brilho metálico em tons preto-prateados, capaz de refletir a luz e intensificar o contorno dos olhos.
Além do apelo estético, o grafite possui propriedades adesivas que permitem maior fixação na pele — característica útil em regiões de clima árido. Os pesquisadores também observaram que, ao contrário do esperado, o cosmético não apresentava resíduos de gordura animal ou óleo vegetal, ingredientes frequentemente usados como base em maquiagens antigas.
Uso cosmético e simbólico entre as elites
A ausência de substâncias orgânicas levanta questões sobre a fórmula exata e o método de aplicação. Ainda assim, o grau de sofisticação do produto, somado ao contexto em que foi encontrado, indica que não se tratava de um item comum. O frasco foi descoberto em uma tumba rica, associada a um indivíduo de alto prestígio social — possivelmente um guerreiro ou figura de elite — como sugerem os demais objetos funerários: armas ornamentadas, joias finas, arreios e peças em metais preciosos.
O achado reforça a tese de que o uso de cosméticos no Oriente Médio antigo transcendia a vaidade pessoal. Produtos como o kohl tinham também funções espirituais e protetivas, sendo usados por homens e mulheres em contextos religiosos, cerimoniais e até militares. Neste caso específico, a maquiagem poderia ter reforçado o status do falecido ou até simbolizado sua posição em rituais pós-morte.
A pesquisa, publicada na revista científica Archaeometry, destaca a complexidade técnica por trás da produção de cosméticos há quase três milênios. A escolha dos ingredientes, a precisão na moagem e a ausência de contaminantes orgânicos indicam um conhecimento refinado de minerais e processos químicos. O uso de grafite também sugere que os antigos artesãos de Kani Koter experimentavam novas possibilidades visuais e materiais, antecipando efeitos que só muito mais tarde seriam replicados por indústrias modernas.
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