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O Mistério da Mão Dominante: Por que uns são destros e outros canhotos?

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Poucas questões do comportamento humano despertam tanta curiosidade quanto a mão dominante. Desde os primeiros rabiscos infantis até tarefas complexas da vida adulta, a escolha entre a mão direita e a mão esquerda é uma marca invisível que molda a forma como cada pessoa interage com o mundo. Ao longo da história, destros e canhotos foram vistos com olhares distintos: uns celebrados, outros estigmatizados, sempre envolvidos em mitos, crenças populares e até mesmo preconceitos sociais. O tema vai muito além da simples preferência por uma das mãos; trata-se de uma intrigante mistura de fatores biológicos, culturais e históricos. Afinal, por que cerca de 90% da população mundial nasce destra, enquanto apenas 10% desafia essa estatística sendo canhota?

A predominância da mão direita ao longo da história

Em praticamente todas as civilizações conhecidas, a mão direita recebeu status de superioridade. Na Roma Antiga, ser “dextro” significava ser habilidoso, ágil e confiável. A própria palavra “destro” deriva do latim dexter, que carregava conotações positivas. Por outro lado, a esquerda sempre carregou certo estigma. Em francês, gauche significa literalmente “esquerdo”, mas também pode ser traduzido como “desajeitado”. O mesmo ocorreu em línguas como o inglês (sinister), em que “canhoto” foi por muito tempo associado à má sorte e até ao mal.

Não à toa, durante séculos, crianças canhotas eram forçadas a aprender a escrever com a mão direita, prática comum até meados do século XX em escolas da Europa e da América Latina. Essa imposição, além de causar sofrimento, gerava dificuldades motoras e cognitivas para muitos alunos, que lutavam contra sua natureza biológica.

O papel da genética e da ciência

A ciência moderna desvenda que a mão dominante não é mero capricho: ela está ligada à organização neurológica do cérebro. Os hemisférios cerebrais controlam lados opostos do corpo: o esquerdo governa o lado direito, e o direito, o lado esquerdo. Estudos apontam que, na maioria das pessoas, o hemisfério esquerdo é mais ativo e responsável pela linguagem, o que favorece o uso da mão direita.

A genética também desempenha papel fundamental. Pesquisas recentes sugerem que não existe um “gene do canhoto”, mas sim um conjunto de genes que interagem com fatores ambientais. Um estudo publicado na revista PNAS revelou que cerca de 25% da variabilidade da lateralidade é herdada, enquanto o restante é moldado por influências externas, como estímulos na infância.

Curiosamente, a proporção de canhotos é relativamente estável em todas as culturas, sugerindo que a evolução manteve essa característica minoritária como uma vantagem possível, talvez ligada à diversidade cognitiva ou até à surpresa em situações de combate.

Canhotos famosos que mudaram a história

Embora sejam minoria, os canhotos deixaram marcas profundas na humanidade. Leonardo da Vinci, Michelangelo, Napoleão Bonaparte, Albert Einstein e Marie Curie estão entre os célebres canhotos que desafiaram padrões. Nas artes, Jimi Hendrix reinventou a guitarra tocando de forma invertida; no esporte, nomes como Pelé, Maradona e Lionel Messi mostraram que a habilidade da esquerda também encanta multidões.

Essa presença ilustre reforça uma percepção curiosa: apesar de todas as barreiras, os canhotos frequentemente se destacam em áreas criativas e inovadoras. Pesquisadores defendem que a maior conexão entre os hemisférios cerebrais em canhotos pode favorecer habilidades artísticas, pensamento divergente e soluções originais para problemas complexos.

Canhotos, destros e o cotidiano

No dia a dia, ser canhoto significa viver em um mundo desenhado para destros. Tesouras, carteiras escolares, instrumentos musicais e até mesmo utensílios de cozinha são projetados majoritariamente para quem usa a mão direita. Não é raro que canhotos desenvolvam maior habilidade em adaptar-se ou mesmo se tornem ambidestros por necessidade.

A tecnologia, felizmente, tem dado mais espaço à inclusão. Hoje existem versões de objetos adaptados, de notebooks a equipamentos médicos, que reconhecem a importância da diversidade motora. Mas ainda assim, os desafios permanecem — e, em muitos casos, moldam a resiliência e a criatividade de quem nasceu com a predominância da mão esquerda.

Mitos, crenças e superstições

As mãos também carregaram significados religiosos e místicos. Na Idade Média, acreditava-se que canhotos poderiam estar ligados à bruxaria. Já em culturas orientais, como na Índia, a mão esquerda foi associada a impurezas, reforçando tabus sociais. Por outro lado, no Japão, casamentos poderiam ser anulados caso um cônjuge descobrisse que o outro era canhoto — tamanho era o peso da tradição.

Esses mitos, no entanto, foram gradualmente sendo desmistificados com o avanço da ciência e da educação. Hoje, a canhotice não é mais encarada como “defeito”, mas como expressão da diversidade humana.

A ambidestria e os desafios do equilíbrio

Entre os extremos da destreza e da canhotice, existe um grupo ainda mais raro: os ambidestros. Representando apenas 1% da população, essas pessoas conseguem utilizar ambas as mãos com igual habilidade. Embora pareça uma vantagem extraordinária, a ambidestria completa pode gerar desafios cognitivos, já que o cérebro não define com clareza uma dominância, podendo dificultar processos de leitura e escrita.

Ainda assim, a capacidade de alternar entre as mãos é valiosa em atividades que exigem flexibilidade, como esportes e artes. Muitos treinadores incentivam o desenvolvimento da “mão fraca”, justamente para ampliar as possibilidades de desempenho.

O Mistério da Mão Dominante: Por que uns são destros e outros canhotos?

Conclusão

O mistério da mão dominante continua fascinando cientistas, filósofos e curiosos. Mais do que uma simples questão de preferência, ser destro, canhoto ou ambidestro é parte da riqueza da diversidade humana, que transcende biologia e cultura. Se por séculos os canhotos foram alvo de preconceitos, hoje a ciência e a sociedade reconhecem que a lateralidade é apenas mais uma expressão de nossa singularidade. Cada mão que escreve, pinta, esculpe, toca um instrumento ou simplesmente acaricia alguém carrega a história de uma herança complexa, que une genética, ambiente e simbolismo cultural. O que antes era visto como desvio, agora se transforma em símbolo de pluralidade.

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