O nome sugestivo: maldição das aéreas faz referência a um setor que, com frequência entra crise, companhias anunciam dificuldades financeiras ou que até mesmo encerram as atividades. Nomes tradicionais já sumiram neste setor que, a exemplo de outros, como varejo, de vez em vez apresenta instabilidade.
A bola da vez é a companhia aérea Azul (AZUL4), que protocolou nesta quarta-feira, 28 de maio, um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, utilizando o mecanismo jurídico conhecido como Capítulo 11, que permite a reorganização financeira de empresas em dificuldade. A medida surge após a dívida da companhia atingir impressionantes R$ 31,35 bilhões no primeiro trimestre de 2025, representando um aumento de 50,3% em comparação ao mesmo período de 2024.
A decisão marca uma mudança drástica na estratégia da Azul, que até recentemente descartava publicamente qualquer intenção de recorrer ao Capítulo 11. Segundo a própria empresa, a iniciativa é um movimento estratégico e voluntário, com foco na preservação de suas operações e na reestruturação de seu pesado endividamento.
Entenda o que levou a Azul a buscar proteção judicial
Nos últimos anos, a Azul enfrentou uma sequência de desafios severos. A crise provocada pela pandemia de Covid-19 deixou cicatrizes profundas no setor de aviação. Além disso, a companhia sofreu impactos diretos de turbulências macroeconômicas globais e de uma grave disrupção na cadeia de suprimentos aeronáutica, que aumentou custos operacionais e reduziu margens de lucro.
Sem conseguir levantar recursos suficientes no mercado tradicional, e pressionada pelos prazos e valores de sua dívida, a Azul anunciou que garantiu cerca de US$ 1,6 bilhão em negociações com credores e investidores, o que deve sustentar parte de suas operações durante o processo de reestruturação.
O que diz a empresa
Em comunicado oficial, John Rodgerson, CEO da Azul, destacou:
“Tomamos uma decisão estratégica de iniciar uma reestruturação financeira voluntária com um movimento proativo para melhorar nossa estrutura de capital – que foi sobrecarregada pela pandemia da Covid-19, turbulências macroeconômicas e problemas na cadeia de suprimentos da aviação.”
A declaração evidencia que a companhia busca não apenas sobreviver ao momento turbulento, mas também garantir uma estrutura financeira mais saudável e sustentável para o futuro.
Impacto imediato no mercado
Logo após a divulgação da decisão, as ADRs da Azul desabaram até 40% nas negociações de pré-mercado em Nova York, refletindo a apreensão dos investidores. O movimento é considerado natural em processos de recuperação judicial, já que o Capítulo 11 costuma gerar incertezas no curto prazo, especialmente sobre os pagamentos a credores, fornecedores e sobre o futuro das operações.
No entanto, especialistas do mercado apontam que, se bem conduzido, o processo pode significar uma oportunidade de reorganização e até de valorização futura das ações, como ocorreu com outras empresas que passaram pelo Capítulo 11 nos Estados Unidos.
O que é o capítulo 11?
O Capítulo 11 é uma ferramenta prevista na legislação dos Estados Unidos que permite que empresas endividadas façam uma reorganização judicial, protegendo seus ativos enquanto negociam acordos com credores. Diferente de processos de falência, o Capítulo 11 não significa encerramento das atividades, mas sim uma tentativa de recuperação estruturada.
Empresas gigantes como Delta Airlines, General Motors e United Airlines já utilizaram esse mecanismo e, posteriormente, conseguiram se recuperar e voltar a operar com força no mercado.
E os clientes? Há risco para quem comprou passagens?
Por enquanto, a Azul afirma que todas as operações seguem normalmente, incluindo voos, emissão de passagens, programas de fidelidade e serviços contratados. A proteção do Capítulo 11 não paralisa os negócios, e o atendimento aos clientes deve ser mantido sem alterações.
Contudo, como todo processo desse porte, a recomendação é que passageiros acompanhem os desdobramentos e fiquem atentos aos comunicados oficiais da empresa.
A decisão da Azul de entrar com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos representa um capítulo decisivo na história da companhia. Embora traga incertezas no curto prazo, o uso do Capítulo 11 pode ser uma estratégia eficaz para reorganizar dívidas, proteger operações e buscar um caminho sustentável para o futuro.
O mercado, os investidores e os clientes agora observam atentamente cada passo da empresa. Se bem conduzido, o processo pode não apenas salvar a Azul, mas também servir de exemplo para todo o setor aéreo brasileiro.