Descubra as leituras decisivas que influenciaram Franz Kafka e James Joyce antes de revolucionarem a literatura mundial — e como esses livros ajudaram a moldar estilos que mudaram para sempre a forma de escrever.
Antes de existirem A Metamorfose ou Ulisses, existiram leituras. Muitas leituras. Franz Kafka e James Joyce não surgiram do nada nem simplesmente “descobriram” o talento que os levou ao lugar mais alto da literatura do século XX. Eles foram formados por mundos impressos, por autores que abriram janelas, criaram inquietações e deixaram marcas profundas.
Essa etapa inicial da formação literária de ambos é tão fascinante quanto pouco explorada. Afinal, quais livros moldaram a sensibilidade de Kafka, com seu universo de angústia e burocracia sufocante? Quais obras estimularam a ousadia narrativa de Joyce, responsável por romper padrões e reinventar a linguagem?
Neste artigo, você vai percorrer as obras que influenciaram esses dois autores antes que fossem reconhecidos como gênios. Leituras que explicam, em grande parte, o que se tornariam mais tarde. Um mergulho no passado para compreender as raízes de algumas das mentes mais brilhantes da literatura ocidental.
As leituras que moldaram Franz Kafka
O universo literário antes de Kafka se tornar Kafka
Franz Kafka cresceu em um ambiente onde a literatura era refúgio, provocação e escape emocional. Em sua juventude, leu intensamente autores que dialogavam com suas inquietações existenciais e sociais. Esses livros deixaram marcas perceptíveis em sua escrita madura.
Goethe: o início da formação intelectual
Kafka teve contato precoce com Johann Wolfgang von Goethe, especialmente com Os Sofrimentos do Jovem Werther. O sentimentalismo trágico do protagonista, a sensação de inadequação e o mergulho psicológico influenciaram profundamente o jovem Kafka.
Esse livro ajudou a moldar seu olhar para personagens que vivem conflitos internos intensos, algo que vemos claramente em Gregor Samsa ou Josef K., figuras que carregam peso emocional semelhante, ainda que dentro de universos absurdos.
Dostoiévski: o peso da culpa e da consciência
Nenhum autor impactou tanto Kafka quanto Fiódor Dostoiévski. Crime e Castigo, Os Irmãos Karamázov e O Idiota foram leituras intensas, que iluminaram temas como culpa, alienação e dilemas morais.
Kafka via em Dostoiévski o poder de transformar conflitos internos em universos literários tão densos quanto fascinantes. Esse impacto aparece em sua obra em tons introspectivos e na presença constante de personagens esmagados por forças que não compreendem.
Nietzsche: a provocação filosófica que abriu portas
Kafka também se aproximou de Friedrich Nietzsche e de sua ruptura com tradições morais. A leitura de Assim Falou Zaratustra e O Nascimento da Tragédia ampliou sua compreensão sobre humanidade e absurdo.
Os questionamentos nietzschianos ajudaram Kafka a explorar temas como identidade fragmentada, imposições sociais e a crise do indivíduo frente ao mundo moderno.
Kierkegaard: a angústia existencial
Søren Kierkegaard foi uma leitura profunda para Kafka, que consumiu obras como O Desespero Humano. A relação entre fé, angústia e responsabilidade pessoal levou o jovem escritor a refletir sobre as tensões existenciais que permeariam toda sua obra.
Não por acaso, Kafka é visto como um dos pais do existencialismo literário — e isso se deve, em grande parte, a essas primeiras leituras.
As leituras que moldaram James Joyce
As influências literárias antes da revolução joyceana
James Joyce, muito antes de publicar Ulisses, já era um leitor insaciável. Suas influências misturam tradição clássica, referências religiosas, autores modernos e até elementos folclóricos, criando a base do estilo experimental que o tornaria mundialmente conhecido.
Homero: a estrutura que se tornaria um marco
A leitura da Ilíada e da Odisseia foi essencial na adolescência de Joyce. Muito mais tarde, ele transformaria essa influência em uma das maiores homenagens literárias da história em Ulisses.
Mas antes disso, Homero serviu como guia para a percepção narrativa, o desenvolvimento de personagens e a noção de jornada — elementos que aparecem tanto em suas obras curtas quanto nas mais complexas.
Dante Alighieri: linguagem, moral e poética
Joyce estudou A Divina Comédia com enorme interesse. O domínio linguístico, a construção simbólica e o olhar moral sobre a humanidade encantaram o jovem irlandês.
Essa influência aparece em seu uso de linguagem como elemento estrutural, em sua ironia e em sua capacidade de construir camadas textuais densas — traços que definem Finnegans Wake e Dublinenses.
Shakespeare: a força dramática e as palavras como arma
Leitor apaixonado de Shakespeare, Joyce mergulhou em Hamlet, Rei Lear e Macbeth. O jogo verbal, a psicologia dos personagens e a profundidade emocional foram determinantes para sua formação.
A admiração era tanta que Joyce analisava minuciosamente o ritmo dos diálogos e a construção dos conflitos — bases que moldariam sua obsessão com linguagem e forma literária.
Ibsen: o realismo crítico que desmonta ilusões
Antes mesmo da fama, Joyce já era um leitor dedicado às peças de Henrik Ibsen. Obras como Casa de Bonecas e Hedda Gabler influenciaram sua visão crítica sobre sociedade e convenções.
Essa visão aparece em Dublinenses, onde Joyce retrata personagens aprisionados por regras sociais, hipocrisia e paralisia moral — ecos diretos de seu contato com o teatro ibseniano.
Tolstói e Flaubert: a força da narrativa modernista
Joyce leu Tolstói (Guerra e Paz e Anna Kariênina) e Flaubert (Madame Bovary), absorvendo o realismo minucioso e a profundidade psicológica desses autores.
Esse repertório serviu como base para sua própria revolução literária, mostrando que a literatura podia unir profundidade emocional, crítica social e inovação narrativa.
Conclusão
As leituras que moldaram Franz Kafka e James Joyce revelam trajetórias diferentes, mas igualmente potentes. Ambos caminharam por universos literários que despertaram inquietações e abriram portas criativas, transformando sensações e reflexões em obras que atravessam gerações.
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