Livros que inspiraram filmes mas os enredos são totalmente diferentes

Adaptar um livro para o cinema sempre envolve desafios e escolhas criativas. Às vezes, diretores e roteiristas optam por seguir a história original de forma fiel, mas, em outras ocasiões, o resultado na tela é tão distinto que se torna quase irreconhecível em relação ao material literário que o inspirou. Essas mudanças podem ocorrer por diversos motivos, como limitações de tempo, visão artística, contexto histórico ou a necessidade de agradar a diferentes públicos.

1. “O Iluminado” – Stephen King vs. Stanley Kubrick

Quando se pensa em adaptações cinematográficas que se desviaram drasticamente dos livros, “O Iluminado” é uma referência quase automática. A obra-prima de Stephen King, publicada em 1977, traz uma abordagem psicológica profunda sobre alcoolismo, violência doméstica e o poder da Redenção. O protagonista, Jack Torrance, é um escritor em recuperação, lutando para manter a sanidade enquanto trabalha como zelador no isolado Hotel Overlook durante o inverno.

A adaptação de Stanley Kubrick, lançada em 1980, mantém o cenário e os personagens principais, mas muda o tom e a abordagem. No filme, Jack (interpretado por Jack Nicholson) é mais perturbado desde o início, e sua espiral descendente para a loucura é muito mais rápida e intensa. O final também difere: enquanto o livro termina com a destruição do hotel e a redenção de Jack, o filme traz uma conclusão mais ambígua e desconcertante, deixando muitos espectadores com dúvidas e interpretando o Overlook como um local ainda mais maligno e atemporal.

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2. “Eu Sou a Lenda” – Richard Matheson vs. Francis Lawrence

“Eu Sou a Lenda”, romance de Richard Matheson publicado em 1954, é uma obra de ficção científica e horror que explora temas de isolamento e o significado de humanidade. O protagonista, Robert Neville, é o último sobrevivente humano em um mundo dominado por criaturas parecidas com vampiros. Ele passa seus dias procurando curas e lutando para sobreviver, enquanto é assombrado por memórias de seu passado.

O livro já foi adaptado para o cinema três vezes, sendo a versão mais famosa a estrelada por Will Smith em 2007. No entanto, o filme se distancia bastante do final do livro, que é crucial para entender o título da obra. No livro, Neville descobre que se tornou uma figura lendária e assustadora para as criaturas, que, na verdade, são uma nova forma de vida, enquanto ele é o verdadeiro “monstro” que aterroriza essa nova sociedade. Já no filme, o final se foca na busca por uma cura e no sacrifício heróico de Neville, eliminando a ambiguidade moral presente na obra original.

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3. “Forrest Gump” – Winston Groom vs. Robert Zemeckis

O livro “Forrest Gump”, escrito por Winston Groom e publicado em 1986, apresenta um personagem excêntrico que participa de eventos históricos dos Estados Unidos, mas de maneira muito mais absurda e cômica que no filme. A adaptação de 1994, dirigida por Robert Zemeckis e estrelada por Tom Hanks, suavizou o tom e eliminou várias situações que beiram o surrealismo no livro, focando mais no lado emocional e humano de Forrest.

No livro, Forrest tem aventuras que incluem uma viagem espacial e encontros com canibais, além de ser retratado como um homem mais rude e menos ingênuo do que a versão cinematográfica. As mudanças no filme transformaram Forrest Gump em um símbolo de inocência e superação, algo que contrastou significativamente com a abordagem mais cínica e satírica de Groom.

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4. “Laranja Mecânica” – Anthony Burgess vs. Stanley Kubrick

O romance distópico de Anthony Burgess, “Laranja Mecânica” (1962), apresenta a história de Alex, um jovem delinquente que é submetido a um experimento de reabilitação comportamental pelo governo. No livro, a narrativa explora a questão do livre-arbítrio e a possibilidade de redenção para Alex. O final original, publicado na Inglaterra, sugere uma mudança em Alex, que começa a refletir sobre suas ações e deseja se reformar.

Na adaptação de Stanley Kubrick (1971), o filme é baseado na versão americana do livro, que exclui o último capítulo. O filme termina com Alex sendo “curado” do experimento de lavagem cerebral e felizmente retornando à sua vida de crimes, o que dá à história um tom muito mais sombrio e perturbador, focando na falha do sistema de reabilitação.

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5. “Clube da Luta” – Chuck Palahniuk vs. David Fincher

O livro “Clube da Luta”, de Chuck Palahniuk, lançado em 1996, é um mergulho na psique masculina e nas pressões sociais modernas. Ele explora temas de alienação, masculinidade tóxica e anarquia. A história gira em torno de um narrador sem nome que, em busca de algum significado em sua vida, cria o Clube da Luta junto com Tyler Durden.

O filme de David Fincher (1999) segue a maior parte da trama do livro, mas o final foi drasticamente alterado. No livro, o protagonista acaba se internando em um hospital psiquiátrico, enquanto no filme, ele derrota Tyler e assiste a explosão de prédios corporativos, sugerindo um futuro incerto. Palahniuk afirmou que gostou mais do final do filme do que o do próprio livro, mas isso não muda o fato de que a adaptação deixou de lado a ambiguidade sombria do desfecho original.

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6. “O Planeta dos Macacos” – Pierre Boulle vs. Franklin Schaffner

O romance de ficção científica “O Planeta dos Macacos” (1963), de Pierre Boulle, conta a história de um astronauta que aterrissa em um planeta onde macacos inteligentes dominam humanos. O livro termina com uma revelação que subverte a ideia de superioridade e inteligência.

A versão cinematográfica de 1968, dirigida por Franklin J. Schaffner e estrelada por Charlton Heston, modificou vários elementos do enredo e apresentou um final completamente novo e icônico: o protagonista descobre que estava na Terra o tempo todo, chocando o público com a imagem da Estátua da Liberdade em ruínas. Essa mudança marcou a adaptação como um dos finais mais surpreendentes do cinema, alterando radicalmente a mensagem final do livro.

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7. “Jumanji” – Chris Van Allsburg vs. Joe Johnston

O livro infantil “Jumanji”, de Chris Van Allsburg, publicado em 1981, conta a história de um jogo mágico que traz para o mundo real os perigos e desafios de uma selva. A história é curta, direta e focada nos efeitos do jogo sobre as crianças que o encontram.

A adaptação de 1995, protagonizada por Robin Williams, expande enormemente a história, adicionando personagens, cenários e um tom mais cômico e aventureiro. O filme leva o jogo a um nível completamente diferente, mostrando a cidade inteira sendo afetada pelos perigos de “Jumanji”. Já no livro, a história termina rapidamente quando as crianças finalmente conseguem completar o jogo e tudo volta ao normal.

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Conclusão

Esses exemplos mostram como a adaptação de livros para o cinema pode resultar em obras bastante distintas, que, por vezes, até superam a originalidade dos próprios livros. Cada alteração no enredo, seja por uma escolha criativa ou por exigências do público, revela a complexidade de traduzir histórias entre diferentes mídias. No final, tanto livros quanto filmes oferecem experiências únicas, que enriquecem nossa compreensão da narrativa e da arte de contar histórias.