A solidão, esse silêncio que às vezes se impõe mesmo em meio à multidão, já foi tema de inúmeras obras literárias. Mais do que ausência de companhia, ela pode ser um mergulho interno, um grito abafado ou uma pausa necessária. Alguns autores, com maestria e sensibilidade, conseguiram retratar a solidão em suas formas mais cruas, belas e contraditórias.
1. A Solidão Dos Números Primos – Paolo Giordano
Neste romance contemporâneo que arrebatou leitores em todo o mundo, Giordano constrói uma metáfora poderosa: os protagonistas Mattia e Alice são como números primos gêmeos — próximos, mas jamais tocando-se de verdade. Ambos carregam traumas silenciosos e crescem em isolamento, mesmo estando cercados por pessoas. O livro é um estudo sensível sobre a incapacidade de se conectar plenamente, mesmo quando o desejo de proximidade existe.
2. Ensaio Sobre A Cegueira – José Saramago
A epidemia de cegueira que atinge uma cidade inteira é apenas o ponto de partida para um mergulho vertiginoso nas fragilidades humanas. Saramago não escreve sobre a solidão comum, mas sobre uma solidão coletiva — a perda de identidade, a desumanização, a sensação de estar sozinho mesmo entre outros cegos.
3. A Elegância Do Ouriço – Muriel Barbery
Renée, a porteira de um prédio burguês em Paris, vive escondida em uma armadura social: culta, sensível, apaixonada por literatura, ela finge ser apenas uma zeladora rude e sem interesses. Paloma, uma adolescente rica e extremamente inteligente, vive seu tédio em silêncio e planeja o suicídio. Duas solitárias em mundos paralelos que, por acaso, se cruzam.
4. A Morte De Ivan Ilitch – Liev Tolstói
Poucas obras retrataram com tamanha precisão o isolamento existencial do ser humano diante da morte. Ivan Ilitch, um juiz bem-sucedido, vê sua vida desmoronar quando é acometido por uma doença terminal. À medida que seu corpo enfraquece, Tolstói revela um homem que, apesar de rodeado por colegas e familiares, nunca foi realmente compreendido. A angústia de Ivan é o espelho de uma sociedade que mascara a morte e finge empatia.
5. O Ano Do Pensamento Mágico – Joan Didion
Este é um livro de não-ficção, mas se lê como um romance visceral. Joan Didion narra o ano seguinte à morte súbita de seu marido, o escritor John Gregory Dunne. Sem esconder a dor crua do luto, ela compartilha a estranheza de seguir existindo quando a presença do outro desaparece. A solidão aqui é a da viuvez, da ausência, da ausência inexplicável.
Conclusão
Esses cinco livros não entregam soluções fáceis. Eles incomodam, emocionam e despertam. Talvez o verdadeiro antídoto para a solidão não seja evitá-la, mas compreendê-la em toda sua complexidade. E poucas coisas fazem isso tão bem quanto a literatura.
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Apaixonada pela literatura brasileira e internacional, Heloísa Montagner Veroneze é especialista na produção de conteúdo local e regional, com ênfase em artigos sobre livros, arqueologia e curiosidades.