O mês de julho chega com uma pausa bem-vinda na rotina escolar. Para muitos estudantes, é tempo de descanso, viagens e reencontros. Mas também pode ser o momento ideal para cultivar hábitos prazerosos que, além de relaxar, ampliam o conhecimento. A leitura é um desses caminhos.
As Meninas, de Lygia Fagundes Telles
Vencedora do Prêmio Jabuti, As Meninas apresenta a vida de três universitárias durante o regime militar no Brasil. Lorena, Ana Clara e Lia compartilham um pensionato em São Paulo e enfrentam dilemas que envolvem amor, drogas, política e repressão. A narrativa densa e psicológica de Lygia Fagundes Telles revela a angústia de uma geração que viveu sob censura e vigilância, ao mesmo tempo em que sonhava com liberdade.
Canção Para Ninar Menino Grande, de Conceição Evaristo
Com sua prosa poética e firme, Conceição Evaristo nos entrega a história de Fio Jasmim, um homem negro cercado por mulheres fortes e silenciadas. O livro denuncia o peso da escravidão, o racismo estrutural e os dilemas da masculinidade no Brasil contemporâneo. Ao mesmo tempo, traz à tona subjetividades e afetos que, por séculos, foram marginalizados.
O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório
Neste romance tocante, acompanhamos um filho que tenta reconstruir a memória do pai, um professor negro assassinado durante uma abordagem policial. Ambientado no Brasil atual, O Avesso da Pele discute o racismo institucional, as lacunas na justiça e a luta por pertencimento. Com linguagem intensa e emocional, o livro é uma ponte direta entre o passado e o presente das desigualdades raciais no país.
Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva
A narrativa mistura elementos autobiográficos com História recente. Marcelo Rubens Paiva conta sua trajetória marcada pela ausência do pai, o deputado Rubens Paiva, desaparecido político durante a ditadura militar. O livro, que também foi adaptado ao cinema, revela os impactos da repressão sobre famílias inteiras, enquanto oferece uma reflexão pessoal e generosa sobre dor, superação e resgate da verdade.
Maus, de Art Spiegelman
Nesta obra premiada com o Pulitzer, Art Spiegelman narra a história de seu pai, sobrevivente de Auschwitz, usando o formato de HQ. Judeus são representados como ratos; nazistas, como gatos. O estilo visual não suaviza o horror da narrativa: ao contrário, amplia o impacto emocional da leitura. Maus é uma porta de entrada acessível e profunda para o tema do Holocausto, recomendada a partir dos anos finais do ensino fundamental, com mediação docente.
Entre 3 Mundos, de Lavínia Rocha
Com linguagem acessível e enredo instigante, Lavínia Rocha propõe ao leitor juvenil um mergulho em temas como cidadania, direitos humanos, participação política e questões étnico-raciais. A autora utiliza o universo da fantasia como pano de fundo para provocar discussões pertinentes sobre a formação social brasileira. Indicado para estudantes a partir do 6º ano, é uma obra versátil, que dialoga com os principais temas contemporâneos da área de humanas.
1984, de George Orwell
Clássico da literatura mundial, 1984 projeta uma distopia totalitária em que o Estado controla até os pensamentos dos cidadãos. Escrita no pós-guerra, a obra de Orwell segue atual nos debates sobre censura, manipulação da informação e liberdades civis. A figura do “Grande Irmão” se tornou símbolo universal da vigilância opressiva. Leitura obrigatória para quem deseja compreender os riscos do autoritarismo.
Oliver Twist, de Charles Dickens
Dickens constrói, em Oliver Twist, um retrato sombrio da vida de um órfão na Londres do século XIX. Miséria, trabalho infantil e exploração fazem parte do cotidiano do protagonista, que ainda assim não perde sua sensibilidade. Ao expor os contrastes sociais da época, o livro ajuda o leitor a entender como a literatura pode denunciar injustiças e provocar mudanças de consciência.
Conclusão
As férias de julho podem ser mais do que um período de lazer — podem ser uma oportunidade de leitura significativa, que aproxima o estudante de grandes temas históricos por meio da literatura. Os oito livros apresentados aqui equilibram narrativa envolvente e conteúdo formativo, tornando o aprendizado mais sensível e permanente.
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Apaixonada pela literatura brasileira e internacional, Heloísa Montagner Veroneze é especialista na produção de conteúdo local e regional, com ênfase em artigos sobre livros, arqueologia e curiosidades.