Quando o assunto é literatura, a síndrome de vira-lata é uma praga, ela se manifesta naquelas frases clássicas: “só livro grindo é bom”, “literatura brasileira é chata”, “no Brasil não tem escritores bons”. Mas é só sair um pouco da bolha e mergulhar em pelo menos um livro nacional e já vai perceber o quanto a síndrome de vira-lata não é apenas uma ideia injusta, mas totalmente equivocada.
Flores da Batalha — Sérgio Vaz
A poesia de Sérgio Vaz não é feita para elite entender — é para o povo sentir. Versos que falam da luta coletiva, da esperança diária, da força da periferia. A obra pulsa com a voz de quem levanta cedo, enfrenta o transporte lotado e não desiste dos seus sonhos. Com apresentação de Emicida, Flores da Batalha é resistência transformada em palavra, é o Brasil real rimando com dignidade.
Dez Mil Sóis — Renan Carvalho
Ambientado na devastação de Hiroshima, o livro acompanha quatro irmãos em busca dos pais, misturando drama histórico, aventura e elementos de anime, como mechas, youkais e espelhos mágicos. O toque nacional vem na linguagem ágil, nas ilustrações intensas e na ousadia de colocar o Brasil como criador de uma fantasia que compete com qualquer produção gringa.
Cartografia Para Caminhos Incertos — Ian Fraser
Um romance que parece saído de uma caixa de sonhos do sertão baiano. A narrativa é uma mistura brilhante de realismo mágico, lirismo e crítica social. Mané, o protagonista, busca Redenção — a cidade, o sentimento, a essência. E, nessa jornada pela alma brasileira, o leitor encontra uma prosa encantadora, rica em brasilidade e absurdamente bem escrita.
Gael e a Terra dos Vivos — Matheus Peleteiro
Se você é fã de fantasia com identidade própria, Gael vai te conquistar. A história mergulha em uma Salvador mágica, onde animais falam e pensamentos ecoam. Com uma onça espirituosa e um mico-leão-dourado príncipe, essa fábula brasileira fala sobre luto, coragem e alegria de viver, em uma aventura que homenageia nossa fauna e folclore com originalidade e afeto.
Tudo Nela Brilha e Queima — Ryane Leão
Poesia de mulher preta, urbana, visceral. Ryane escreve com a carne viva e transforma dor em verbo. O livro é um manifesto afetivo contra o apagamento, uma coletânea de poemas que gritam amor, resistência e pertencimento. Se você ainda acha que poesia brasileira é só rima clássica, prepare-se para ser completamente desmontado.
Ozymandias — José Roberto Castro Neves
E se as tragédias gregas ocorressem no interior do Brasil? Ozymandias responde com uma narrativa robusta, recheada de mitologia, história e crítica social. A ficção costura famílias dilaceradas, heranças culturais e forças implacáveis que moldam nosso destino coletivo. Uma estreia literária densa, sofisticada e profundamente brasileira.
Se A Casa 8 Falasse — Vitor Martins
Aqui, quem narra é uma casa. E não é brincadeira. A Casa 8 testemunha as vidas de seus moradores em três décadas distintas, abordando identidade, afeto e passagem do tempo. É um romance queer, sensível e envolvente, que mostra como nossas memórias se entrelaçam com os espaços que habitamos. Um dos melhores exemplos de literatura jovem adulta feita no Brasil.
Balela — Solaine Chioro
Quer rir, se apaixonar e se ver representado em uma história leve e divertida? Balela entrega isso com humor afiado, uma protagonista carismática e uma comédia romântica digna de sessão da tarde, mas com referências brasileiras, pagode dos anos 90 e um cachorro chamado Bombom. É o tipo de livro que prova que literatura nacional também sabe fazer entretenimento de qualidade.
O Beijo do Bandido — Lola Salgado
Romance histórico, banditismo e redenção. Florence foge de um casamento arranjado e acaba cruzando com um grupo de foras da lei. O que começa como fuga vira empoderamento. O Beijo do Bandido é romance de época com alma feminista, ambientado em paisagens áridas e movido por escolhas ousadas. Uma joia para quem quer romance com coragem.
Conclusão
A literatura brasileira está cheia de autores talentosos, ousados e absolutamente originais. O problema não é a escrita nem a obra e sim a leitura. A falta de espaço e visibilidade com o nacional. Precisamos deixar de lado os preconceitos com nossas próprias obras, abrir o livro e indicar para os vira-latas de grindos.
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Apaixonada pela literatura brasileira e internacional, Heloísa Montagner Veroneze é especialista na produção de conteúdo local e regional, com ênfase em artigos sobre livros, arqueologia e curiosidades.