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O que os livros mais vendidos de 2025 revelam sobre o nosso tempo

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As listas dos livros mais vendidos do mundo não se fazem sozinhas — e nem em silêncio. Elas não nascem do juízo, mas da repetição. Elas não escolhem: elas confirmam. Em 2025, os títulos que dominaram as paradas de vendas — de acordo com dados da Amazon Global, The New York Times, PublishNews Brasil, Circana (ex-NPD BookScan), GfK (França, Alemanha, Áustria, Suíça), Media Control (Alemanha), OpenBook (China), Oricon e Books Data (Japão) e as divisões da Nielsen na Espanha e Itália — traçaram um mapa mais afetivo do que estético, mais emocional do que literário. O leitor contemporâneo, exausto, buscou nas páginas não complexidade, mas consolo. E o mercado, como sempre, soube entregar.

Os romances que explodiram em vendas não desafiam — repetem. Rebecca Yarros vendeu milhões narrando academias militares com dragões domesticáveis, onde tudo é árduo, mas nada é ambíguo. Colleen Hoover seguiu como fenômeno emocional, entregando dor em doses calibradas, com linguagem simplificada e finais que quase nunca assustam. Freida McFadden traduziu o cotidiano em tensão de supermercado: mulheres isoladas, maridos suspeitos, reviravoltas prontas para serem adaptadas por streamings. Tudo muito legível. Tudo muito rápido. Tudo já dito — mas com outra capa.

No Japão, a Oricon destacou mangás e thrillers previsíveis. Na China, o OpenBook indicou o avanço de guias espirituais e soluções emocionais de bolso. Na Europa Central, o cruzamento entre GfK e Media Control apontou a presença tênue, porém necessária, de exceções — como “James”, de Percival Everett, um romance que confronta o cânone com inteligência, ironia e risco narrativo real. No mais, a curva foi clara: o que vende é o que não incomoda.

Mel Robbins figurou entre os mais vendidos com um apelo minimalista ao autocuidado: “deixe que façam”. O imperativo que encantou leitores talvez diga mais sobre o tempo do que o próprio livro. Porque o que se busca hoje não é pensar — é amenizar. A leitura não como inquietação, mas como alívio temporário.

E não há culpa nisso. Mas há custo. Porque quando o mercado se torna absoluto, o experimental vira ruído, o incômodo vira falha, o silêncio vira ausência. Em 2025, o que mais se leu foi o que menos arriscou. E se isso revela o momento — talvez também revele o limite dele. A literatura, afinal, não foi feita para descansar ninguém. Ela serve para acordar.

Saiba mais sobre cada um dos livros livros mais vendidos

Amanhecer na Colheita (2025), Suzanne Collins

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Num cenário ainda marcado pelos escombros da guerra civil, Panem tenta reorganizar sua estrutura de poder. Um jovem mentor, forçado a orientar um tributo nos Jogos Vorazes, carrega nas costas não apenas o peso do espetáculo, mas a lenta percepção de que está participando da construção de algo mais sombrio do que jamais imaginou. A narrativa refuta o heroísmo clássico e mergulha numa construção psicológica tensa, onde a repulsa silenciosa é o único gesto de resistência possível.

James (2024), Percival Everett

Neste romance ousado, Jim, o escravizado coadjuvante de “As Aventuras de Huckleberry Finn”, assume o centro da narrativa. Alternando entre linguagem socialmente estratégica e uma voz interior afiada e filosófica, James nos conduz por uma travessia que não busca libertação apenas física, mas sobretudo existencial. A crítica à estrutura racial é feita com uma ironia cortante e profunda humanidade.

Deixa Pra Lá (2024), Mel Robbins

Com uma linguagem íntima e acessível, Mel Robbins apresenta um guia de sobrevivência emocional para tempos turbulentos. A proposta é radical na simplicidade: não reaja. Não carregue o que não é seu. O “deixa pra lá” torna-se filosofia prática de vida para quem já se cansou de responder a tudo. Ao invés de confronto, a autora oferece pausa e perspectiva.

Quarta Asa (2023), Rebecca Yarros

Uma protagonista frágil, mas intelectualmente afiada, entra numa academia militar onde alianças com dragões decidem quem vive ou morre. A jornada de autodescoberta, sobrevivência e resistência aos modelos de poder impostos revela um campo de batalha não apenas físico, mas profundamente psicológico. Um romance que dosa dor e humor com rara competência.

Tempestade de Ônix (2023), Rebecca Yarros

A continuação intensifica o conflito. A guerra agora é também interna: a personagem principal precisa confrontar não só inimigos externos, mas as rachaduras do próprio sistema em que se formou. Desconfiança, perdas, dilemas éticos e poder corrompido compõem uma narrativa marcada por escolhas difíceis e consequências inevitáveis.

A Empregada (2022), Freida McFadden

Ao aceitar um trabalho aparentemente simples numa casa de família, a narradora entra num universo de tensão psicológica crescente. A rotina vira armadilha. Gestos banais ganham contornos ameaçadores. E o que parecia oportunidade de recomeço torna-se uma jornada claustrofóbica por um labirinto de segredos.

É Assim que Começa (2022), Colleen Hoover

Neste romance delicado, a protagonista tenta reconstruir a vida depois de um relacionamento abusivo. A chegada de uma figura do passado traz dilemas afetivos e a necessidade de estabelecer novos limites. A superação é tratada com nuances realistas, feita de hesitações e pequenos atos de coragem.

Nunca Minta (2022), Freida McFadden

Isolada numa casa durante uma tempestade, a narradora encontra fitas com sessões de terapia gravadas pela antiga moradora. Aos poucos, as vozes revelam uma história obscura que a envolve mais do que imaginava. A atmosfera de suspense se constrói em torno da dúvida: em quem confiar, quando até a própria memória vacila?

Verity (2018), Colleen Hoover

Uma escritora é contratada para concluir a obra de uma autora consagrada em coma. Ao encontrar um manuscrito com confissões perturbadoras, mergulha numa espiral de paranoia e ambiguidade moral. A tensão não está só nos fatos, mas na dúvida permanente entre ficção e realidade, amor e manipulação.

É Assim que Acaba (2016), Colleen Hoover

Uma jovem apaixonada descobre que o amor que parecia libertador reproduz os mesmos traumas que ela jurava evitar. Alternando presente e passado, o romance constrói um retrato honesto sobre violência doméstica, escolha e resiliência. Um drama íntimo que se impõe pela coragem de nomear o indizível.

Conclusão

Em 2025, os livros mais vendidos contaram histórias sobre dor, fuga, reconstrução e resistência. Mas, acima de tudo, contaram sobre como o leitor de hoje busca, nas páginas, um reflexo do próprio cansaço. Há beleza na empatia, sem dúvida. Mas é preciso estar atento para que a literatura não se transforme apenas em calmante. Os títulos que marcaram o ano mostram um desejo coletivo por narrativas acolhedoras — e isso, em si, já diz muito sobre o espírito do tempo. Ainda assim, cabe à literatura lembrar que o mundo também precisa ser desconfortável. Porque só quem sente incômodo é capaz de desejar mudança.

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