Maio, com seus dias ora preguiçosos, ora apressados, é o mês ideal para desacelerar na companhia de uma boa história. Aquele intervalo entre o outono já maduro e o inverno que espreita convida ao aconchego e, por que não, à introspecção. E nada como um livro para guiar essa jornada íntima.
1. “O som do rugido da onça” – Micheliny Verunschk
Literatura e história na fronteira da dor e da identidade
Este romance, finalista do Prêmio Jabuti, é uma experiência de linguagem e memória. Micheliny Verunschk recria uma narrativa histórica real: o sequestro de duas crianças indígenas por um naturalista alemão no século XIX. Com uma escrita que alterna força bruta e lirismo, a autora constrói uma crítica contundente ao colonialismo europeu e à maneira como os povos originários foram apagados da nossa memória coletiva. Em tempos de resgate identitário, esse livro é uma leitura urgente e profundamente comovente. Ideal para quem busca um texto que desafia e emociona.
2. “O avesso da pele” – Jeferson Tenório
Um retrato íntimo e político das cicatrizes que o Brasil insiste em ignorar
Vencedor do Prêmio Jabuti de Romance Literário, este livro de Jeferson Tenório é tão necessário quanto potente. A narrativa segue Pedro, um jovem negro que tenta reconstruir a história do pai, assassinado pela polícia. Mas o que parece um enredo de denúncia se transforma numa obra delicada e introspectiva sobre luto, identidade e masculinidades negras. Tenório conduz o leitor por um Brasil que sangra — um país onde a cor da pele ainda determina quem vive e quem morre. A força desse livro está em sua voz contida, firme, e na forma como ele transforma dor em arte.
3. “Tudo é rio” – Carla Madeira
Um romance sobre desejo, culpa e os fluxos incontroláveis da vida
Poucos livros publicados nos últimos anos conquistaram tantos leitores de maneira tão espontânea quanto Tudo é rio. Com uma prosa que lembra a oralidade e um enredo construído em espiral, Carla Madeira apresenta um triângulo amoroso entre Dalva, Venâncio e Lucy — três personagens marcados por tragédias, silêncios e uma paixão devastadora. O livro não poupa ninguém: fala de maternidade, de infidelidade, de perdão. E, como o próprio título indica, tudo escorre, tudo se move. A leitura é rápida, mas a experiência permanece — como uma cicatriz bela e impossível de esquecer.
Conclusão
Ler é, por excelência, um exercício de empatia. E esses três livros, cada um à sua maneira, nos colocam no lugar do outro — seja o outro o indígena sequestrado, o jovem negro órfão ou a mulher em dor e desejo. Neste mês de maio, permita-se essa viagem por narrativas que desafiam o óbvio e tocam o essencial.
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