A literatura clássica tem fama de ser sisuda, cansativa, feita apenas para intelectuais. Quantas vezes você já ouviu alguém dizer que certo livro “é importante, mas chato”? A verdade é que muitos desses julgamentos são construídos com base em experiências escolares apressadas, traduções ruins ou, simplesmente, falta de contexto.
1. Dom Quixote, de Miguel de Cervantes
Muitos se assustam com o tamanho ou com o fato de Dom Quixote ter sido escrito no século XVII. Mas a verdade é que esse romance espanhol é, essencialmente, uma comédia de altíssimo nível. Escrito por Miguel de Cervantes, o livro acompanha as desventuras de um fidalgo que enlouquece após ler romances de cavalaria e decide sair pelo mundo como um cavaleiro andante.
O que poucos percebem é que Cervantes era um mestre da sátira. Dom Quixote ri do heroísmo exagerado, do idealismo cego e até da própria literatura. É uma obra que conversa com o leitor, quebra a quarta parede e antecipa técnicas narrativas modernas. Além disso, a dupla formada por Quixote e Sancho Pança é um dos pares mais carismáticos e engraçados da história literária.
Muito além de um “livro antigo e confuso”, Dom Quixote é uma crítica mordaz ao mundo e ao próprio leitor. Vale cada página — especialmente se lido em uma boa tradução, que preserve o humor e a leveza da obra original.
2. A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne
Por fora, A Letra Escarlate pode parecer um romance moralista, carregado de puritanismo e regras sociais do século XVII. Mas quem se arrisca a ir além da superfície descobre um drama intensamente humano, com uma protagonista à frente de seu tempo e questões que continuam extremamente relevantes.
A história de Hester Prynne, marcada com a letra “A” de adúltera após dar à luz fora do casamento, é um retrato potente da hipocrisia social, da repressão feminina e do poder da resistência silenciosa. Hester se recusa a se curvar à vergonha imposta pela comunidade e segue criando sua filha com dignidade e coragem.
Escrito por Nathaniel Hawthorne, o livro é curto, direto e cheio de simbolismos. Ele mostra como o julgamento público pode ser cruel e como a liberdade interior pode ser revolucionária. Um clássico que dialoga com temas contemporâneos como o cancelamento social e a autonomia da mulher.
3. Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Poucos livros assustam tanto os leitores quanto Em Busca do Tempo Perdido. Não é para menos: são sete volumes, frases longas, reflexões filosóficas e um ritmo contemplativo. Mas por trás dessa estrutura monumental, Proust oferece algo que poucos autores conseguem: capturar a essência do tempo e da memória.
A narrativa, centrada em memórias aparentemente triviais, como o sabor de um bolinho mergulhado no chá (a famosa madeleine), transforma pequenas experiências em portais para o passado. A leitura pode ser desafiadora, sim, mas também profundamente recompensadora. Proust escreve como quem tenta não apenas contar uma história, mas decifrar a alma humana.
Ler Em Busca do Tempo Perdido é uma experiência quase meditativa. E, diferentemente do que muitos pensam, não é preciso “entender tudo” — basta deixar-se levar pelas sensações e deixar que o texto aja como um espelho do seu próprio interior.
Conclusão
Esses três títulos — Dom Quixote, A Letra Escarlate e Em Busca do Tempo Perdido — são provas de que nem todo livro com má reputação é, de fato, ruim. Às vezes, só falta o momento certo, a edição certa ou o ânimo para redescobri-los com olhos menos preconceituosos.
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