Livro medieval feito com pele de foca intriga pesquisadores na Noruega

Livro medieval feito com pele de foca intriga pesquisadores na Noruega

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A chegada de um pequeno manuscrito medieval à Biblioteca Nacional da Noruega reacendeu debates importantes sobre a preservação cultural e o passado religioso do país nórdico. A obra, datada do século 13 e conhecida como Manuscrito de Hagenes, guarda oito páginas preservadas, escritas em latim rústico, que podem ajudar a reconstruir parte da história monástica norueguesa antes da Reforma Protestante. Feito com páginas de pele de bezerro e uma capa incomum de pele de foca, o livro é considerado uma peça rara, especialmente porque grande parte dos registros católicos foi destruída ou reutilizada durante a transição religiosa do século 16.

Desde que o volume chegou deteriorado à instituição, especialistas notaram que ele se destacava entre os manuscritos preservados no país. Conservadores iniciaram sua avaliação examinando mofo, danos estruturais e estabilidade do material, e logo identificaram características únicas. A capa feita de pele de foca, ainda com pelos visíveis, é considerada extremamente incomum na tradição de encadernação medieval europeia, levantando hipóteses de que o livro tenha sido produzido em uma região costeira do oeste da Noruega.

A conservadora Chiara Palandri afirma que análises preliminares indicam uma produção tipicamente nórdica. O estilo de escrita, os cânticos religiosos e a caligrafia rústica reforçam a teoria de que o volume pertencia a um mosteiro local, onde teria sido utilizado por padres ou cantores durante celebrações litúrgicas.

Livro medieval feito com pele de foca intriga pesquisadores na Noruega
Foto: Gorm K. Gaare/Biblioteca Nacional da Noruega

Cânticos religiosos revelam pistas sobre seu uso

O pesquisador Espen Due-Karlsen, responsável por analisar o conteúdo das páginas, explica que a obra não foi criada como objeto de ostentação, mas para uso cotidiano. Os hinos dedicados a santos e festividades aparecem em latim simples, escritos por um escriba habilidoso que aparenta dominar técnicas locais, mas sem a preocupação de criar uma peça luxuosa. Essa simplicidade sugere que o manuscrito servia para orientar rituais, sendo fácil de transportar e manusear durante as cerimônias.

Ainda segundo Due-Karlsen, o caráter autêntico do volume o torna uma fonte valiosa para entender como comunidades religiosas se organizavam na Idade Média norueguesa, antes de a Reforma transformar completamente a estrutura espiritual do país.

Livro medieval feito com pele de foca intriga pesquisadores na Noruega
Foto: Are Flågan/Biblioteca Nacional da Noruega

Raridade impulsionada pela mudança religiosa

A escassez de documentos católicos medievais na Noruega está diretamente relacionada à imposição do protestantismo em 1537, período em que manuscritos religiosos foram descartados, reaproveitados ou desmontados para dar origem a novas encadernações. Por isso, encontrar um livro íntegro, com páginas preservadas e capa original, é um acontecimento considerado excepcional pelos especialistas.

A professora de latim medieval Åslaug Ommundsen destaca que a descoberta amplia significativamente o acervo de manuscritos completos da época. Até hoje, apenas duas obras semelhantes são conhecidas no país: o Saltério de Kvikne e o Antigo Livro de Homilia da Noruega.

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