O livro mais famoso de Malba Tahan; e seus outros livros de sucesso

Imagine um autor brasileiro que cativou milhões de leitores com histórias de desertos, sultões e enigmas matemáticos. Um escritor que não era árabe, mas se escondia por trás de um pseudônimo exótico. Um homem que fez da matemática uma arte e da ficção, uma ponte para o saber.

Esse é Malba Tahan — ou, na certidão, Júlio César de Mello e Souza. Professor, matemático, romancista e visionário, Malba Tahan não apenas escreveu livros: ele despertou o prazer de aprender em incontáveis jovens e adultos. E no centro dessa revolução literária está seu livro mais famoso: “O Homem que Calculava”.

Mas a história de Malba Tahan vai muito além de um único título. Neste artigo, mergulhamos no universo encantado criado por esse autor brasileiro que se fez passar por um sábio árabe — e que conseguiu o impensável: tornar a matemática acessível, divertida e até poética. Vamos explorar seus maiores sucessos editoriais, seu estilo inconfundível e o impacto duradouro de sua obra.

O pseudônimo que virou lenda: quem foi Malba Tahan?

Malba Tahan era, na verdade, Júlio César de Mello e Souza, nascido no Rio de Janeiro em 1895. Matemático brilhante e professor universitário, ele adotou o nome fictício de Malba Tahan para publicar histórias com ambientações árabes e personagens exóticos. A jogada foi ousada — e genial. Em uma época em que livros de matemática eram áridos e pouco convidativos, Júlio transformou problemas matemáticos em aventuras narrativas, ambientadas em palácios orientais e bazares vibrantes, misturando cultura islâmica, enigmas, lógica e contos de sabedoria.

A invenção do pseudônimo veio acompanhada de uma biografia igualmente fictícia: Malba Tahan seria um emir árabe nascido em Bagdá, com uma trajetória nômade, sábia e misteriosa. Com isso, Júlio atraiu leitores pela curiosidade e pela atmosfera mágica que envolvia suas histórias.

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O Homem que Calculava (1938)

Publicado pela primeira vez em 1938, “O Homem que Calculava” é, sem dúvida, o livro mais famoso de Malba Tahan — e talvez um dos mais lidos de toda a literatura brasileira. Traduzido para mais de doze idiomas, com milhões de exemplares vendidos, o livro é uma obra-prima que transforma conceitos matemáticos em narrativa fluida, rica e envolvente.

A história gira em torno de Beremiz Samir, um jovem pastor árabe com prodigiosa habilidade de cálculo, que parte em jornada até Bagdá. No caminho, ele soluciona problemas aparentemente insolúveis, ajuda reis, resolve disputas com lógica e sabedoria e conquista reconhecimento por sua genialidade.

Cada capítulo traz um problema matemático apresentado de forma lúdica e surpreendente. Os desafios incluem divisão de camelos, enigmas com moedas, raciocínios algébricos, proporções, probabilidade e até mesmo reflexões filosóficas. Mas tudo é apresentado em forma de conto oriental, com humor e leveza, como se o leitor estivesse ouvindo as histórias de Sherazade nas Mil e Uma Noites — só que com matemática no meio.

“O Homem que Calculava” é, até hoje, adotado em escolas, citado em concursos, usado em olimpíadas de matemática e adorado por leitores de todas as idades. É o tipo de livro que transforma o medo de números em fascínio pela lógica.

Outros livros de sucesso de Malba Tahan

Embora “O Homem que Calculava” seja o carro-chefe de sua obra, Malba Tahan escreveu mais de 120 livros, sendo cerca de 50 voltados à matemática e à educação. A seguir, apresentamos alguns dos mais importantes:

1. “Mil Histórias Sem Fim” (1957)

Uma coletânea de fábulas e contos orientais com um toque filosófico e moral. Aqui, Malba Tahan exercita seu talento como contador de histórias, oferecendo ao leitor reflexões profundas, reviravoltas inesperadas e ensinamentos sutilmente costurados na narrativa. Ideal para quem gosta de literatura com sabor de sabedoria ancestral.

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2. “Matemática Divertida e Curiosa” (1942)

Um dos livros mais usados por professores e alunos que desejam aprender matemática de maneira mais leve. Repleto de curiosidades, jogos, paradoxos e desafios, esse livro mostra que a matemática pode ser divertida e encantadora. Ainda hoje é utilizado em escolas e competições.

3. “Lendas do Deserto” (1944)

Nesta obra, o autor explora o imaginário das culturas árabes e islâmicas com histórias repletas de poesia, misticismo e ensinamentos morais. Embora não tenha foco matemático, o livro reforça a habilidade de Malba Tahan em criar ambientes exóticos e narrativas hipnóticas, como uma espécie de “Mil e Uma Noites brasileira”.

4. “Céu de Allah” (1951)

Com esse título poético, Malba Tahan nos leva a uma viagem espiritual e filosófica pelo universo islâmico. O livro é uma ode à ciência, à fé e à sabedoria, abordando temas como astronomia, ética, religião e matemática — tudo sob o olhar de um narrador profundamente humanista.

5. “O Código de Aladim” (1949)

Uma narrativa envolvente com mistério, charadas e uma atmosfera de suspense. O livro mistura enigma, aventura e romance, sendo um dos favoritos entre os leitores adolescentes. Traz também desafios lógicos e matemáticos escondidos no enredo.

6. “A Vida de Malba Tahan” (póstumo, 2000)

Organizado a partir de textos, entrevistas e manuscritos do autor, este livro traz uma biografia mais realista de Júlio César de Mello e Souza e desvenda os bastidores da criação de Malba Tahan. Um retrato fascinante do homem por trás da máscara do emir.

A pedagogia de encantamento de Malba Tahan

O grande diferencial de Malba Tahan era seu método. Ele não ensinava matemática como um conjunto de fórmulas — mas como uma linguagem mágica que pode explicar o mundo. Seus livros não pedem cálculos forçados, mas convidam o leitor a refletir, observar, imaginar. Ele valorizava o pensamento lógico, o prazer da descoberta e a beleza do raciocínio.

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Em suas aulas, era comum ele contar histórias antes de explicar conceitos. Suas turmas lotavam, suas palestras mobilizavam multidões. Quando publicava um livro novo, ele não apenas ensinava — ele entretenia, provocava e transformava.

O impacto cultural e educacional de Malba Tahan

Malba Tahan foi pioneiro no uso da gamificação e da narrativa como ferramentas de ensino. Décadas antes de esses termos virarem moda, ele já usava enigmas, contos e simulações para ensinar lógica, álgebra, geometria e até estatística.

Sua obra também desempenhou um papel importante na valorização das culturas orientais. Num Brasil ainda muito eurocêntrico, ele apresentou um mundo árabe rico em sabedoria, beleza e ciência, despertando respeito e curiosidade entre leitores e estudantes.

Além disso, Malba Tahan inspirou inúmeras gerações de professores de matemática a pensarem fora da caixa. Seu legado segue vivo em projetos educacionais, clubes de matemática, adaptações teatrais e até em versões digitais de seus enigmas.