Livreiro desinformado vende, por 10 reais, livro raro de José de Alencar que vale 50 mil reais

O livro Senhora, do escritor José de Alencar, é uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira. A obra narra a história de Aurélia Camargo, uma jovem humilde que é desprezada pelo namorado, que se casa com uma mulher rica logo depois. Após esse evento, Aurélia herda uma grande fortuna, tornando-se a mulher mais rica do Rio de Janeiro. Com seu novo poder e dinheiro, ela elabora um plano de vingança contra seu antigo companheiro.

A obra Senhora é considerada um clássico da literatura brasileira. Na época da publicação de Senhora, outras obras literárias notáveis foram lançadas ao redor do mundo, incluindo Germinal, de Émile Zola (1875); A Ilha Misteriosa, de Jules Verne (1875); O Retrato de uma Senhora, de Henry James (1875); As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain (1876); Anna Karenina, de Liev Tolstoy (1877); e Os Irmãos Karamazov, de Fyodor Dostoevsky (1880).

No início dos anos 2000, Luiz Carlos Veroneze (hoje diretor do Jornal da Fronteira, mas, na época, motorista de fábrica) entrou em uma livraria de livros e revistas antigos em Porto Alegre, mais por curiosidade do que buscando algo específico.

Com pouco dinheiro, ele pensava em comprar livros baratos. O local estava abarrotado de livros de todos os tipos, discos e revistas. Ao fundo, um velho livreiro organizava novos volumes que haviam chegado.

Naquela época, o livreiro não deu muita atenção ao visitante, que começou a olhar diversos livros de seu interesse, a maioria com preços entre 2 e 5 reais. Veroneze separou alguns para comprar. Depois de duas horas examinando os livros, ele selecionou cuidadosamente cerca de 10 obras, que ao todo somavam aproximadamente 30 reais, valor que estava disposto a gastar.

No caixa, o velho livreiro havia deixado novos volumes para uma seção de livros antigos. A maioria dos livros tinha preços superiores a 100 reais, mas o jovem cliente observou dois com preços mais baixos, de apenas 15 reais cada. Um deles era Senhora – Perfil de Mulher, de 1875, escrito por GM; e Aos Espanhóis Confinantes, de 1929, de Othon D’Eça.

Quando questionado sobre o preço mais baixo, o livreiro explicou que os livros eram de autores desconhecidos, sem importância para o mundo literário, mas tinham algum valor por serem antigos. Como nunca havia possuído um livro raro antes, Veroneze pediu para o livreiro deixar os dois livros raros por 20 reais, fechando a compra de 12 livros por apenas 50 reais.

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Os dois livros ficaram guardados em uma estante por alguns anos, até que certo dia, Luiz Carlos Veroneze resolveu descobrir mais sobre o autor da obra Senhora, de GM. Usando sua coleção da Barsa (naquela época a internet ainda não era popular como hoje), ele levou dias para descobrir que GM era um pseudônimo que o famoso escritor José de Alencar, autor de O Guarani e Iracema, utilizou no início de sua carreira.

Os anos se passaram e, com a crise gerada pela pandemia de Covid-19 (entre 2020 e 2022), Luiz Carlos Veroneze pensou em vender algumas obras de sua coleção de livros raros. Entre as obras selecionadas, ele pediu uma avaliação do preço de Senhora – Perfil de Mulher, autor GM, 1ª edição de 1875, obtendo a informação de que, em um leilão, poderia obter de R$ 25 mil a 50 mil pelo livro raro, ou até mais. No entanto, ele decidiu não vender nenhum livro de sua coleção.

A história de Luiz Carlos Veroneze e o livro Senhora, de José de Alencar, ilustra como o valor literário e histórico de uma obra pode ser subestimado, especialmente quando a importância do autor não é reconhecida.

Este incidente destaca, também, a importância de se ter conhecimento sobre os livros que possuímos e como um achado inesperado pode revelar um tesouro literário inestimável.

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